As mudanças de uso da terra, geradas principalmente pelo desmatamento, pela monocultura, pela pecuária em grande escala e mineração, estão entre as principais causas de surtos de doenças infecciosas em humanos e pelo surgimento de novas doenças no continente americano. Essa é uma das conclusões apontadas no Relatório de Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado recentemente e que analisou mais de 15 mil pesquisas científicas e informações governamentais durante três anos.
Nessa linha, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) reconheceram que a biodiversidade e a saúde humana estão fortemente interligadas e, durante a COP-13, em 2016, recomendaram uma série de ações. Segundo a OMS, ao menos 50% da população mundial corre o risco de contaminação por doenças transmitidas por mosquitos, chamadas de arboviroses.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que este número tenha dobrado nas últimas três décadas. Algumas delas, como malária, dengue, febre amarela e zika, já causaram surtos em áreas urbanas.
Sobre os riscos e os impactos, foi o que conversou com a reportagem da CBN Vale do Iguaçu, e que aqui o Portal Vvale reproduz parcialmente, a analista de Projetos Ambientais, Natacha Sobanski. Ela é do Grupo Boticário. Em pauta, o desmatamento e o desencadeamento de doenças.
ENTREVISTA
PORTAL VVALE (VVALE) – O desmatamento é apontado como vilão neste sentido. É isso mesmo?
Natacha Sobanski (Natacha) – Sim, inclusive esse relatório da ONU mostra esse impacto e quanto a mudança no uso da terra está vinculada ao surto de doenças. Quando você desmata uma área, você causa desiquilíbrio. Os insetos, então controlados, migram e na população causa todo esse dano.
VVALE – A qualidade do ambiente desempenha papel na nossa saúde?
Natacha – Em um ambiente natural, com uma floresta intacta, os mamíferos, os bichos, se regulam. No desmatamento, estes bichos e até os insetos, migram e eles encontram na cidade condições para a reprodução e como tem pessoas, elas são picadas e adoecem.
VVALE – É um grande ciclo?
Natacha – Sim. Os direitos humanos preveem o aceso ao serviço ambiental de qualidade, à agua e ar de qualidade, à polinização de qualidade.
VVALE – O Ministério da Saúde fala sobre o aumento das arboviroses. O que elas são?
Natacha – São as doenças transmitidas por mosquitos.
VVALE – Como a conservação do patrimônio natural pode ser controlado?
Natacha – Conservar as áreas protegidas com a biodiversidade intacta, por exemplo. E isso seria um papel da comunidade mesmo, que pode ajudar.
VVALE – Até porque o contato com a natureza é uma das recomendações para se manter a qualidade de vida, o bem-estar.
Natacha – Sim. Estudos demonstram isso mesmo, até mesmo, queda no nível de cortisol. Pessoas que tem contato com a natureza, sentem isso.