“Quando os catarinenses se unem, qualquer obstáculo pode ser superado”, diz

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Atualizado há 4 anos

Carlos Moisés, Governador do Estado de Santa Catarina
Carlos Moisés, Governador do Estado de Santa Catarina

O estado de Santa Catarina foi um dos primeiros do país a adotar medidas de isolamento social, qual é a situação atual da evolução do COVID-19?

O Estado faz um trabalho de atendimento e prevenção para salvar o maior número de pessoas. Tão logo soubemos do primeiro caso de transmissão comunitária estabelecemos medidas de distanciamento social para que fosse possível achatar a curva de contágio. Enquanto isso, reforçamos a infraestrutura e implementamos medidas seguras para permitir uma retomada econômica com responsabilidade. Neste período, nós mais que dobramos a capacidade de leitos de UTI SUS adulto, que antes eram 547 e hoje são 1.183. Destinamos recursos aos hospitais filantrópicos de aproximadamente R$ 10 milhões por mês além do pactuado.

Além disso, o povo catarinense compreendeu as medidas e agiu com responsabilidade. Quando os catarinenses se unem, não há obstáculo que não possa ser superado. Isso tudo foi fundamental para que Santa Catarina fosse considerado o Estado com a melhor gestão da pandemia de Covid-19 por institutos independentes, como o CLP (Centro de Liderança Pública), e mantenha uma das menores taxas de letalidade do país, de 1,5%. Isso garantiu que nenhum catarinense tenha sido vítima por falta de atendimento em UTI.

E como funcionou o diálogo com os municípios neste processo? Neste momento quem está com as rédeas da situação: o Estado ou os municípios?

Nesta fase atual, estamos fazendo uma gestão compartilhada com municípios. Disponibilizamos às prefeituras a base de inteligência de dados que utilizamos para monitorar a propagação do novo coronavírus em Santa Catarina. Essa ferramenta apresenta dados oficiais, atualizados e monitorados em tempo real para que as autoridades sanitárias locais possam tomar medidas com embasamento científico. Estamos alinhados com estes municípios e aportando recursos e equipamentos para os hospitais.

O contágio da doença ainda é um desafio e, por isso, seguimos tomando decisões que priorizam a vida, garantindo que todos que precisem tenham atendimento e a assistência necessária. Mas também precisamos ter equilíbrio com as ações econômicas. Tenho certeza de que Santa Catarina sairá mais forte. Nossa economia já dá sinais de retomada e nossos índices de mortalidade e letalidade estão entre os mais baixos do país.

Um dos principais desafios desta pandemia é fazer a gestão da saúde compartilhada com as ações da economia. O que o Governo fará para recuperar a economia no nosso Estado?

Durante o primeiro ano de governo nos dedicamos a fazer a gestão financeira do Estado e arrumar a casa. Alguns dizíamos que iríamos atrasar a folha, que não teríamos condições de investir. É a torcida do contra, que de vez em quando aparece para atrapalhar. Mas tratamos de economizar recursos, rever contratos e colocar as contas em dia em uma força-tarefa que gerou o melhor resultado da década na prestação de contas do TCE. Saímos de um déficit de R$ 2,5 bilhões para um superávit no final de 2019, pagamos a dívida quase bilionária da saúde, enxugamos secretarias, extinguimos as ADRs, reduzimos o custo com processos impressos em pelo menos R$ 40 milhões, reduzimos gastos do Estado com combustível. A Reforma

Administrativa gerou uma economia de R$ 366,3 milhões ao ano. Hoje é muito claro que tudo isso deixou o Estado muito mais preparado para enfrentar a pandemia. Mas tomamos as medidas certas na hora certa e isso nos permitiu iniciar a retomada das atividades poucas semanas após a parada e nossa economia já começa a dar sinais de retomada.

A classe empresarial foi incluída neste processo?

Desde o início da pandemia mantivemos o diálogo com as lideranças empresariais. No dia 20 de março, apenas três dias após as primeiras medidas de isolamento, o Governo do Estado apresentou o Plano de Enfrentamento e Recuperação Econômica, desenvolvido pela Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE), com uma série de medidas para ajudar os cidadãos e as empresas a fazerem a travessia nesse momento difícil, com foco nas famílias de baixa renda.

Há indicativos de que isso surtiu efeito? Com base no que o senhor diz que hoje a economia dá sinais de retomada?

Temos diversos indicativos. O Índice de Atividade Econômica Regional calculado pelo Banco Central do Brasil mostra que crescemos 4,8% em julho, na comparação com o mês anterior.

Nossa indústria teve um crescimento acima da média nacional pelo segundo mês consecutivo, 9% em junho e 6,1% em maio. No agronegócio, tivemos aumento da exportação de carne de frango, que faturou 122,5 milhões de dólares em julho, um crescimento de 24,5% em relação a junho.

Ainda neste setor, tivemos recorde na exportação de suínos no semestre, com aumento de 38,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, e de soja, que de janeiro a maio registrou o maior volume de embarques desde 2015.

Também tivemos neste primeiro semestre um saldo de novas empresas 11,8% maior que em 2019.

O desemprego no Estado preocupa?

A economia de uma forma geral é uma preocupação hoje não só em Santa Catarina, mas no mundo inteiro. Sabíamos que a pandemia aumentaria índices de desemprego, mas mantivemos a menor taxa de desocupação do Brasil e temos o menor percentual de pessoas trabalhando na informalidade. Seguimos trabalhando firme para passar por esta crise da melhor forma possível.

Os números corroboram com esse otimismo. Em junho tivemos um saldo positivo de 3.721 novos empregos, ou seja, Santa Catarina contratou mais do que demitiu. Esse resultado foi o melhor entre todos os Estados do Sul e Sudeste.

O setor de serviços teve alta de 3,6% em junho, na comparação com o mês anterior. Também temos saldo positivo no comércio, e relatório da FIESC mostrou aumento na confiança dos empresários. Outro indicativo que aponta para esta retomada é o aumento de 8% na arrecadação geral do Estado em julho, em comparação com o mesmo mês de 2019.

Quais as ações que estão sendo implementadas para melhorar a infraestrutura das rodovias estaduais?

No início de 2019, o Estado estava com 70% da malha viária ruim ou em péssimas condições, e trabalhamos para mudar essa realidade. Criado em junho de 2019, o programa Novos Rumos contempla a retomada ou início de obras de infraestrutura em todas as regiões do Estado, com

previsão de investimentos de mais de R$ 377 milhões, sendo boa parte desses investimentos com recursos próprios.

São demandas há muito tempo aguardadas e que têm função vital no desenvolvimento econômico das regiões e na segurança de quem trafega pelas rodovias estaduais catarinenses.

Houve ampliação de investimentos neste setor?

Sim, e seguimos investindo mesmo durante a pandemia. As obras no Estado não param. Nos primeiros seis meses deste ano, aplicamos R$ 42 milhões em diversas obras por todas as regiões de Santa Catarina. Também destinamos R$ 18,8 milhões em serviços de manutenção, sendo que R$ 6,63 milhões foram pagos via convênios do projeto Recuperar, isso ampliou o investimento em 69,4% em relação ao mesmo período de 2019. Se formos comparar com o 1º semestre de 2018, na gestão anterior, esse aumento representa mais de 300%. 300%!

Projetando o pós-pandemia, após vários meses de suspensão das aulas presenciais, qual é a escola que os alunos da rede estadual encontrarão quando voltarem para a sala de aula?

Antes mesmo de chegar na escola, milhares de alunos atendidos pelo transporte escolar terão mais segurança ao entrar em ônibus novos, já que neste mês tivemos a entrega de 37 veículos, seguindo o movimento de renovação de frota que deve ser totalmente concluído até o fim deste ano, com a expectativa de entrega de 366 ônibus novos em apenas dois anos. Também aproveitamos o período em que os alunos não estão na escola para dar sequência a reformas e ampliações das estruturas das escolas, que por muitos anos não tiveram a devida atenção.

O Estado também sofreu as consequências de um ciclone-bomba que danificou muitas escolas. O que está sendo feito neste sentido?

Estamos trabalhando rapidamente para recuperar os estragos causados pelos fenômenos que recentemente atingiram Santa Catarina. Além do ciclone tivemos tornados em algumas regiões que, infelizmente, atingiram várias das nossas escolas. Ao mesmo tempo, intensificamos a rotina de entrega de materiais e equipamentos, como computadores, mesas e carteiras novas, kits de material escolar e livros para as bibliotecas. Queremos deixar as escolas prontas para que os alunos se sintam ainda mais motivados para quando retornarem à sala de aula.

A educação é uma das nossas prioridades desde o início desta gestão, com R$ 1,5 bilhão de investimento no Programa Minha Nova Escola e Programa UniEdu, além de várias outras ações que estamos iniciando e iremos executar. Em 2019 investimentos o maior percentual histórico do orçamento desta área, com R$ 5,37 bilhões para investimentos novos ou ampliados.

Qual sua avaliação sobre o desfecho da CPI dos Respiradores?

Desde o início desse problema específico e pontual da compra dos respiradores, chamei a Polícia Civil para que investigasse, determinei a abertura de procedimento interno para apurar responsabilidades e orientei a PGE a buscar o ressarcimento desses valores pagos antecipadamente. Mudamos a cultura de jogar os erros para baixo do tapete. Isso não existe mais. Há transparência. Quando a CPI foi instalada, imaginei que pudesse ser uma aliada do Governo do Estado nesse esforço para apurar e corrigir, mas não foi bem isso que vimos. O relatório final traz ilações desconectadas da realidade, faz um contorcionismo argumentativo para envolver pessoas e tirar a credibilidade do governo do Estado. Apurar esse fato da compra dos respiradores é essencial, por isso peço sempre a rapidez nas investigações por parte do Ministério Público do Estado de Santa Catarina e da Polícia Civil. Estes têm atuado com muito profissionalismo.

Alguns deputados cobram mais diálogo. Como você avalia essa cobrança?

O conhecimento que os parlamentares têm das regiões é importantíssimo. Conhecem detalhes de cada uma das demandas do cidadão. Não tem nada mais produtivo para mim na política do que receber um deputado para tratar de demandas das regiões. Eu gosto de ouvi-los e aproveitar essas informações para direcionar as ações de governo. Além disso, entendo que as emendas parlamentares impositivas são um caminho legítimo e republicano para que os deputados participem do governo, porque elas se traduzem em melhorias para os cidadãos.

Por isso tenho me esforçado para ser o primeiro governador a cumprir com o pagamento das emendas impositivas.