“Somente a vacinação em massa pode reverter o caos”

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Atualizado há 3 anos

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).

O deputado estadual Milton Hobus (PSD) é um político de longa trajetória. Eleito prefeito de Rio do Sul em 2004, foi reeleito em 2008 com 81% dos votos, antes de assumir, em 2013, a Secretaria de Estado da Defesa Civil, a convite do governador Raimundo Colombo. Em 2014, se elegeu para a Assembleia Legislativa, onde conseguiu a reeleição em 2019.

Além da carreira política, Hobus é empresário de sucesso na sua região.

Do alto de sua experiência, fala com conhecimento sobre os erros e acerto do atual governo na condução da pandemia. É um crítico áspero ao “lockdown”. Acha que o governo do estado errou no começo do enfrentamento ao coronavírus e que o governo federal chegou com atraso para a compra das vacinas.

Mas Milton Hobus é otimista. Atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ele vê com bons olhos a velocidade atual do desembarque de mais doses, assim como aplaude a forma com o Carlos Moisés passou a dialogar com a Alesc.

Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, ele fala sobre todos esses temas.

Confira:

[Pelo Estado] – Diante do cenário atual da pandemia, como o senhor, como parlamentar, vê a atuação do governo?

Milton Hobus – Santa Catarina errou muito no início da pandemia, com aquele fechamento total quando a doença não estava evoluindo. O estado tinha protocolos prontos para agir diferente e não o fez. Foi na onda da grande mídia que propalou o caos e o medo nas pessoas. Então, todo mundo achava que ficar dentro de casa estaria protegido. O tempo provou que isso foi um grande erro. Infelizmente, a condução da pandemia, que tem estatísticas para ser colhida, porque ela começou antes em outros países e em outros estados brasileiros, tinha muito para ser copiada. Sabia-se que teríamos picos e momentos de retração, como aconteceu no mundo inteiro. Infelizmente o estado não se preparou adequadamente para isso. Não houve também um trabalho de conscientização coletiva da sociedade. Porque nós somos quem propala o vírus. O governo pode agir dentro daquilo que lhe cabe. Os números mostram que no final do ano passado nós tínhamos mais leitos de UTI ativos do que nós temos hoje. Um negócio inconcebível. Como é que nós tínhamos 1.600 mil leitos e agora temos pouco mais de 1.300? Isso é condução.

[PE] – O senhor é a favor do lockdown?

M.H. – Um ponto positivo que a gente avalia no governo são as medidas para tentar diminuir o distanciamento social, sem fazer a loucura de fechar tudo, porque a gente sabe que não é isso que resolve. O fechar tudo custa caro para todos. E um dos lugares mais seguros são os locais de trabalho. Você está aqui na Assembleia Legislativa e está vendo restrição total de circulação de gente; três funcionários por gabinete; não pode ter visita. Essa entrevista não pôde ser feita no gabinete, fizemos aqui na entrada da Alesc. Nas empresas é igual, não existe aglomeração. Onde estão as aglomerações: na falta de consciência coletiva, que daí o estado deveria agir com força policial.

[PE] – O senhor acha que deveria haver uma punição mais forte para quem é flagrado em festas clandestinas?

M.H. – Sem dúvida. O cidadão deveria ser penalizado de fato, até como exemplo. Ou você faz por convencimento ou você faz pela dor. Não tem outro jeito. Agora, impedir o cidadão de comer, de trabalhar, de fazer as suas coisas essenciais, é o pior dos piores mundos.

[PE] – O governo chegou a sinalizar com a instalação de hospitais de campanha, que inclusive foi alvo de investigação dentro do processo de impeachment. O senhor concorda com a ideia?

M.H. – Naquele momento, em absoluto. Eu, inclusive, fiz a denúncia nos órgãos de controle porque era um disparate a contratação de hospital de campanha naquele momento, quando sabíamos que era muito fácil abrir novos leitos de UTI na rede hospitalar existente. O estado tem um levantamento pronto para instalar mais de 1 mil leitos na estrutura existente. Por que fazer uma contratação dessas custando 10 vezes mais? Aquilo era uma loucura.

[PE] – Hoje o senhor vê um cenário diferente ou manteria a sua posição?

M.H. – Hoje eu vejo um cenário diferente, mas com a resolutividade igual àquele momento. Por exemplo: Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí: desde março do ano passado se discute terminar uma ala para abrir 60 novos leitos. Estamos há um ano discutindo. O Hospital Santa Inês, em Balneário Camboriú, está fechado. Poderia ter sido aberto e não teríamos fila nenhuma de pacientes esperando leitos de UTI na Foz do Itajaí. Por que não fez? Faltou ação, faltou atitude, faltou planejamento. Então, não pode o Ministério Público querer imputar uma conta pesada ao cidadão, ao pagador de impostos, quem gera emprego, quem produz e determinar um lockdown. Isso é o mais simples para fazer. Isso qualquer idiota faz. O difícil de fazer é organizar o sistema e teve tempo para isso. Espero que o governo corra agora, que ouça mais.

[PE] – Como o senhor vê o esquema de vacinação e o que precisa ser feito?

M.H. – Na minha visão o governo federal começou tarde a busca por vacinas. Esse é o grande erro. O fato de se ter a centralização no governo federal para a aquisição e a distribuição das vacinas com critérios para o Brasil interior é a forma mais justa de se fazer. Porque se não divide, quem tem dinheiro vacina os seus e como ficam os outros?

[PE] – O senhor está mais otimista para os próximos meses?

M.H. – A única certeza que nós temos nessa pandemia é que somente a vacina pode reverter o caos. O mundo já mostrou isso. Nos países em que já se conseguiu uma velocidade grande de vacinação os casos estão caindo drasticamente. É isso que nós precisamos fazer no Brasil. Enquanto não se faz isso, não vai adiantar com fechamento de duas semanas, com todo mundo ficando em casa e gerando um caos macroeconômico ainda maior.

[PE] – Para sair da pandemia, a Alesc terá pautas importantes como a reforma da previdência. O senhor como presidente da CCJ acha que há clima para esse projeto prosperar?

M.H. – Nós já falamos para as pessoas do governo. A reforma da previdência como foi mandada no final de 2019 era uma piada. Foi feita dentro de um gabinete sem sequer ouvir a secretaria da Fazenda. Uma reforma dessas nem adianta mandar, não tem como prosperar. A gente espera uma reforma que atualize a questão previdenciária do estado com a reforma nacional, partir desse princípio com algumas peculiaridades nossas e que ela seja debatida com as lideranças aqui na Alesc antes de vir para cá, porque daí vamos dizer o que passa e o que não passa. Queremos aprovar uma reforma para consertar o estado e não para criar mais privilégios, como foi o caso da outra.

[PE] – Qual outra agenda tão importante quanto o senhor vê para este ano?

M.H. – Temos várias outras agendas importantes, o estado é dinâmico. Por exemplo, nós estamos debatendo um Prefis nessa pandemia, que veio para cá mas que não vai ter adesão. Um Prefis contra o pagador de impostos totalmente. Isso nós não podemos aceitar. Nós vamos propor coisas diferentes, vamos provocar o governo. É o nosso jeito de fazer. Vamos sentar na frente e dizer: tá errado por isso; não aceitamos isso; o caminho é esse e provamos porque o caminho é esse. Assim como temos pendências tributárias críticas para o desenvolvimento macroeconômico do estado. Nosso estado só é diferenciado dos demais, com menos taxa de desemprego, por causa do nosso dinamismo e da competitividade da economia. E um regime tributário injusto tira nossa competitividade. Essas pautas, não vamos deixar para o ano que vem.