“Turismo é investimento”, afirma ex-prefeito de Gramado

Pedro Bertolucci, em visita ao Vale do Iguaçu, falou dos mecanismos que tornam uma região atrativa

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Atualizado há 4 anos

Pedro Bertolucci: “nadamos muito tempo contra a correnteza, mas conseguimos” (Foto: Eduarda Benvenutti).
Pedro Bertolucci: “nadamos muito tempo contra a correnteza, mas conseguimos” (Foto: Eduarda Benvenutti).

De acordo com levantamentos recentes, o Brasil atrai atualmente um pouco mais de 6,5 milhões de turistas estrangeiros por ano. Pode parecer muito, mas não é. O número é baixo considerando o tamanho do País, continental, e a variedade de atrações e belezas naturais. O País perde, por exemplo, para a cidade de Osaka, no Japão, que recebe anualmente cerca de 8,4 milhões de visitantes estrangeiros.

Pontualmente, por outro lado, o Brasil reúne endereços cativos, conhecidos pela tradição de receber bem e de oferecer serviço de qualidade – além de belezas naturais e gastronomia farta. Um destes locais está próximo do Vale do Iguaçu: é o Rio Grande do Sul, região que puxa a máquina turística especialmente por conta das populares Canela e Gramado.

Sobre o assunto, o ex-prefeito justamente de Gramado, Pedro Bertolucci, falou à CBN Vale do Iguaçu nessa semana. Conforme Bertolucci, prefeito em quatro mandatos, é preciso entender o potencial de uma região para a partir disso, desenvolvê-la potencialmente.

Ele compartilha em palestras nos municípios de São Mateus do Sul e Bituruna, os mecanismos que transformaram a cidade gaúcha em um dos principais destinos turísticos do País. “Turismo é investimento”, disse o ex-prefeito em entrevista à CBN e que aqui, O Comércio replica parcialmente.

Pedro Bertolucci visitou o Vale do Iguaçu a convite do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Ele vem ministrando palestras sobre o assunto nas cidades da região. O prefeito atuou na gestão de Gramado, cidade com 35 mil moradores na Serra Gaúcha, referência turísticas do Brasil. Por ano, ela recebe aproximadamente seis milhões de turistas, que prestigiam diversos eventos – apenas no Natal Luz, evento que começa em outubro e termina em janeiro, por exemplo, um milhão e meio a cada ano.

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Entrevista

Jornal O Comércio (JOC) – A ideia foi a de planejar Gramado para ser turística?

Pedro Bertolucci (Bertolucci) – É uma cidade que fica em cima do morro, como muitas outras cidades do País. Cai neve uma vez por ano. O frio é nossa marca forte e em cima disso se desenvolveu uma história importante. A cidade na época que eu assumi, na primeira administração, vivia em torno de uma fábrica de calçados, a Ortopé. Na ocasião, 73% da economia vivia e dependia daquilo e na época, achamos que poderíamos criar algo novo, buscando um DNA antigo, com a história do trem. Começamos com o turismo de saúde, onde as pessoas vinham para a região em busca do ar puro e tal, mas isso acabou ali por volta da década de 50. Voltamos e buscamos um novo alento. Revitalizamos uma festa das hortênsias, demos uma roupagem internacional para o Festival de Cinema, estimulamos a estrutura de compra, hotelaria e gastronomia. Em cima disso, começamos a levar jornalistas para lá e tal, mostrando que o turismo ali era promissor. Na época, se falar em turismo era uma aberração. O gramadense trabalha muito, o ano todo, porque tem que cuidar do negócio o tempo todo. No começo foi difícil fazer os governos entender isso. Nadamos muito tempo contra a correnteza mas conseguimos, aos poucos.

JOC – Como foi preparar a cidade para poder receber o turista?

Bertolucci – É preciso pensar em dois públicos: que mora na cidade e quem vista. São duas comunidades diferentes. É preciso ter esse equilíbrio e isso tem um preparo por trás. A comunidade precisa ser participa e como tem o fator financeiro, isso facilita, porque todos têm interesse. A relação econômica faz com que o convívio seja mais amistoso.

JOC – Como fazer com que o turista volte?

Bertolucci – O primeiro passo é criar um motivo para ir. Criamos lá motivos para o turista ir. A cidade em si atrai. Você vai para Foz do Iguaçu para ver as Cataratas. Nós criamos isso. A cidade se veste de Páscoa na Páscoa, de Natal no Natal. Ela está sempre em evidencia. É uma cidade temática e isso é atrativo permanente.

JOC – Respeitar as características da região, é interessante também ou o melhor é buscar algo novo?

Bertolucci – Os dois são importantes, mas é importante sempre se reinventar. A transformação, a inovação, sempre é bem-vinda. Não podemos criar algo e achar que isso é permanente. É como a casa da gente: se não dá para arrumar a casa, muda o jardim; se não dá para trocar os móveis, mude de lugar.