Bolsonaro se filia ao PL e reforça laços com o Centrão

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Atualizado há 2 anos

Após dois anos sem partido e meses de tratativas, o presidente Jair Bolsonaro selou na terça-feira, 30, sua volta ao Centrão ao se filiar ao Partido Liberal (PL) pelas mãos do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente da sigla que foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro no mensalão. Trata-se da oitava troca de partido feita por Bolsonaro desde o início de sua carreira política. O ingresso no PL consolida a ruptura com o discurso que o elegeu em 2018, mas visa fortalecer o presidente, que enfrenta queda na popularidade e tentará a reeleição no ano que vem.

A cerimônia de filiação simbolizou um esboço da aliança eleitoral que o Palácio do Planalto costura para 2022. Estiveram presentes a cúpula do Progressistas e do Republicanos, partidos com os quais o presidente também negociou. Ao discursar, Bolsonaro disse que “nenhum partido será esquecido” e que irá compor nos Estados para indicar candidatos a senador e governador.

Na cerimônia, aberta com uma oração do pastor Marcos Feliciano (Republicanos-SP), um dos cerca de 20 deputados que deverão entrar na legenda, Bolsonaro destacou sua carreira política como parlamentar e, ao lado de ministros, tentou desconstruir a imagem de que conduz um governo militar. Quase todo o primeiro escalão do governo estava presente. Ministros militares apareceram na cerimônia, mas não se pronunciaram. Entre eles Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que associou integrantes do Centrão a ladrões durante a campanha eleitoral de 2018.

“Estou me sentindo em casa. Vim do meio de vocês, fiquei 28 (anos) dentro da Câmara”, disse Bolsonaro aos parlamentares presentes. O presidente desconversou sobre a campanha pela reeleição, embora seus aliados tenham indicado que “em 2022 é 22”, referência ao ano que vem e ao número do PL. Também se filiaram na terça ao PL o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

No evento, o partido se apropriou de programas do governo Bolsonaro. Cartazes destacavam os leilões da tecnologia 5G, a nova legislação do saneamento, a integração do São Francisco e o Auxílio Brasil. “O presidente que fez o maior programa social do mundo agora é do PL”, destacava a decoração da mesa composta pela cúpula do Centrão, Bolsonaro, seus filhos, parlamentares e ministros.

“Temos a exata responsabilidade ao empunhar as bandeiras de sua obra à frente de um governo que nunca se intimidou”, disse Valdemar Costa Neto ao dar as boas vindas a Bolsonaro. Após a condenação, Costa Neto ressurge como expoente da política nacional e deverá absorver entre 20 e 30 deputados bolsonaristas.

“Haverá uma avalanche de filiações”, afirmou o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB). Adversário de Bolsonaro, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), avisou, porém, que deixará o partido. Caciques estaduais do PL não descartam destituir diretórios que não aceitarem o novo alinhamento político.

Com a filiação, Bolsonaro terá mais estrutura, tempo de TV e recursos para a campanha do que teve na disputa anterior, pelo PSL. O PL é o terceiro maior partido da Câmara, com 43 deputados. Deve passar dos 60, com novas filiações, mas é o tamanho da bancada eleita que define a quantidade de recursos públicos recebidos pelo partido e seu tempo de TV. Em 2020, o PL teve acesso a um fundo eleitoral de R$ 117 milhões e a um fundo partidário de R$ 45,7 milhões.