Com alívio de riscos com PEC dos Precatórios e Ômicron, Ibovespa sobe 1,70%

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Atualizado há 2 anos

O Ibovespa consolidou nesta segunda-feira, 6, o terceiro dia consecutivo de alta e fechou o dia no melhor patamar em quase um mês, desde 12 de novembro. A percepção é de que, com os riscos que vinham impedindo uma alta nas últimas semanas minimizados – o imbróglio com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios e os riscos com a variante Ômicron da covid-19 – a bolsa encontrou espaço para se equiparar aos mercados internacionais. A avaliação dos estrategistas ouvidos pelo Broadcast é de que o índice brasileiro estava subvalorizado e hoje encontrou no exterior positivo e na alta sustentada das commodities o impulso necessário para correr atrás do prejuízo. Assim, terminou o dia em alta de 1,70%, aos 106.858,87 pontos.

“Com cenário político mais ameno, agenda de indicadores mais esvaziada e o mercado brasileiro muito subavaliado, contando com cenário internacional positivo, isso faz com que a gente tenha, mesmo com dólar a quase R$ 5,70, um Ibovespa expressivamente positivo hoje”, comenta Ariane Benedito, economista da CM Capital. Na máxima do dia, o índice chegou a tocar os 107.498,23 pontos, uma alta de 2,31% frente aos 105.069,69 pontos da abertura e também mínima do dia.

Para Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, a resolução de boa parte do imbróglio em torno da PEC dos Precatórios retira uma pedra no sapato dos investidores. “Você tinha um mercado lá fora bem bom nos últimos meses e aqui muito travado com Brasília. A PEC está praticamente encerrada, tira um risco muito elevado do mercado. É um grande ponto de virada do mercado”, aponta.

Na última quinta-feira, a PEC foi aprovada pelo Senado mas, como teve várias alterações por parte dos parlamentares, precisará passar pelo crivo da Câmara novamente. Ambas as casas avaliam hoje, em reunião de presidentes e lideranças, se vão promulgar trechos consensuais ou se tentarão votar toda a matéria – e, sobretudo, se isso será possível esse ano. O fatiamento da proposta não causa grande incômodo ao mercado, que acredita que o principal problema – no que diz respeito a abertura de espaço fiscal com a mudança no teto de gastos – parece ser um consenso e está resolvido dentro da PEC.

Com a retirada do risco doméstico, o Ibovespa encontrou espaço para seguir o bom humor externo. Com notícias de que a variante Ômicron pode não ser tão letal quanto a delta, as bolsas americanas e europeias tiveram um dia de ganho robusto, com Dow Jones fechando em alta de 1,87%.

Para o banco singapuriano DBS Bank, essa semana será “crucial” para uma leitura melhor sobre a severidade da Ômicron. “Até o momento, mortes e admissões hospitalares estão silenciosas em relação ao aumento de casos na África do Sul. Assumindo 1 a 2 semanas de defasagem (entre a contaminação e os efeitos mais graves), como esses dois itens vão se comportar vai direcionar o sentimento do mercado”, aponta em análise publicada nesta segunda-feira.

Além disso, as commodities também deram impulso para o comportamento positivo do Ibovespa hoje. O petróleo fechou em forte alta nessa segunda-feira, com o WTI para janeiro em alta de 4,87% e o Brent para fevereiro, 4,58%, com a amenização do risco Ômicron sobre a demanda global. Com isso, as ações da Petrobras, PetroRio e Braskem avançaram, com esta última entre as maiores altas do índice (9,75%).

A alta do minério também levou a Vale a uma alta de mais de 5%. O índice setorial de materiais básicos da bolsa fechou com avanço robusto de 3,68%.

Aragão, da 051 Capital, emenda que, com a curva de juros menos pressionada nos vencimentos mais longos, com os riscos ao ritmo de recuperação da atividade global, o investidor começa a ficar mais confortável na bolsa. “Começa a ter juros mais aceitáveis. E já começa a colocar em dúvida para o investidor se vai sacar de fundos, diminuir aportes. (…). Acredito que a grande diferença é que Brasília está permitindo que os juros tirem pressão da parte de equities”, completou.

Após ter apanhado nos últimos meses, o varejo teve desempenho positivo nesta segunda-feira. Com a curva de juros fechando na ponta mais longa e uma expectativa menos pessimista em relação à variante Ômicron do coronavírus, o índice de consumo teve desempenho de 1,06%. Destaque para Marisa Lojas que, após capitalização de R$ 249,99 milhões, chegou a ter ações negociadas em alta de mais de 15%.

As notícias melhores sobre o risco da nova variante também retiram pressão das aéreas, com Gol (+11,34%) e Azul (+10,57%) entre as principais altas do Ibovespa. “As aéreas foram muito subavaliadas com a expectativa sobre a Ômicron na semana passada. Hoje, além da reprecificação, tem os ganhos do próprio papel, que entram no preço, a propensão a risco”, explica Ariane, da CM Capital.

Em um pregão de liquidez reduzida e certa instabilidade, sobretudo pela manhã, o dólar subiu mais um degrau, flertando novamente com o nível de R$ 5,70. Segundo operadores, o fortalecimento da moeda americana frente seus pares – ainda na esteira da expectativa de que o Federal Reserve acelere a retirada de estímulos monetários – e a pressão de remessas de fim de ano impedem uma apreciação do real, a despeito da perspectiva de que o Banco Central aumente a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 9,25%, nesta semana.

Também contribui para a postura defensiva dos agentes a contínua deterioração das expectativas para a economia brasileira e certa cautela em torno da questão fiscal, à espera da promulgação da PEC dos Precatórios. Enquanto o Ibovespa se beneficia do apetite por risco no exterior com a diminuição das preocupações com a variante Ômicron e recupera terreno por oferecer preços convidativos, o real não parece oferecer uma relação entre risco e retorno atraente no curto prazo.

Com mínima a R$ 5,6380 e máxima R$ 5,7020, o dólar à vista fechou em leve alta de 0,18%, a R$ 5,6903, depois de ter encerrado a semana passada com valorização de 1,50%. Na B3, o dólar futuro para janeiro subiu 0,68%, a R$ 5,7250, com giro bem reduzido, na casa de US$ 8,8 bilhões.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou em alta durante todo o pregão, acima dos 96,300 pontos, com a moeda americana ganhando mais espaço em relação ao euro e ao iene. Em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, o comportamento foi misto, com alta frente ao real e ao rublo e queda na comparação com o peso mexicano e o rand sul-africano.

Operadores afirmam que ainda ecoam no mercado as declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, dando conta de que o BC americano vai discutir em sua próxima reunião a possibilidade de acelerar a redução dos estímulos (tapering) – o que abre a porta para uma alta dos juros no EUA ainda no primeiro semestre de 2022. O comitê de política monetária do Fed anuncia sua decisão na quarta-feira da semana que vem, dia 15. Nesta sexta-feira (10), sai o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de novembro, que deve esquentar ainda mais a temperatura.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que os dados fracos do relatório de emprego (payroll) de novembro revelados na sexta-feira, com geração líquida de 210 mil vagas (ante previsão de 573 mil), não abalou a expectativa de aceleração do tapering e antecipação da alta de juros nos EUA. “É mais relevante para o Fed o aumento de 4,8% no rendimento/hora dos últimos doze meses e o recuo do desemprego para 4,2%, inclusive inferior à taxa neutra”, afirma Velho, que estima no mínimo duas altas na taxa de juros dos EUA em 2022, para a faixa entre 0,50% e 0,75%.

Por aqui, Velho nota que, apesar do fluxo pontual de investidores estrangeiros para a Bolsa beneficiar pontualmente o real, há sinais de deterioração, embora moderada, das expectativas para a taxa de câmbio, como revela o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira.

A mediana das projeções do Focus para a taxa de câmbio no fim deste ano subiu de R$ 5,50 para R$ 5,56. A pesquisa revelou que continua em curso a piora das expectativas de inflação para este ano (de 10,15% para 10,18%) e para 2022 (de 5,00% para 5,02%). Já a expectativa de crescimento do PIB em 2022 caiu de 0,58% para 0,51%, segundo a mediana.

O head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti, não vê espaço para uma rodada de apreciação do real mesmo com o Banco Central dando prosseguimento ao aperto monetário. Fatores técnicos locais, como remessas típicas de fim de ano e a compra de dólares dos bancos por causa do overhedge, mantêm o real vulnerável. Hoje pela manhã, o BC vendeu 14 mil contratos de swap cambial (US$ 700 milhões) para suprir a demanda provocada pelo overhedge.

“A taxa de juros poderia ajudar mais, atraindo investidores. Mas o risco Brasil ainda é muito elevado e não acredito em uma entrada mais forte de recursos”, diz Moretti, acrescentando que, com a inflação nos Estados Unidos nos maiores níveis em 40 anos, o Fed terá de retirar mais rápido os estímulos e antecipar a alta de juros. “Eu vejo uma séria tendência de alta para o dólar, embora não acredite que a taxa vá ultrapassar a resistência de R$ 5,75 ainda neste ano”, afirma.

No front doméstico, o mercado ainda monitora as negociações em torno da promulgação da PEC dos Precatórios, aprovada na semana passada no Senado, mas com alterações em relação ao texto que saiu da Câmara.

Segundo apuração do Broadcast, senadores estariam pressionando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a não aceitar a aprovação fatiada da proposta e a forçar uma votação rápida na Câmara vinculando o espaço fiscal aberto pela medida em 2022. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por outro lado, quer adotar uma manobra para fatiar a promulgação garantindo a folga R$ 106,1 bilhões em 2022 sem a vinculação.

Os juros futuros confirmaram no fechamento dos negócios o movimento já visto desde manhã, com taxas curtas em alta e as longas em baixa, mas reduzindo o ritmo depois das máximas renovadas pelos retornos dos Treasuries no meio da tarde. O mercado operou já de olho na decisão do Copom na quarta-feira, quando a Selic deverá subir para 9,25%; no clima de apetite ao risco no exterior com a redução dos temores sobre a variante Ômicron; e na movimentação em Brasília em relação à PEC dos Precatórios.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) fechou a 11,39% (regular) e 11,395% (estendida), de 11,324% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou a 10,91% (regular) e 10,95% (estendida), de 10,894%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,94% (regular) e 10,99% (estendida), de 10,963%.

A trajetória altista da ponta curta nesta segunda-feira reverte a tendência vista na semana passada, de alívio de prêmios em função da redução das apostas num Copom mais agressivo, por sua vez, amparada nos dados fracos da atividade, na melhora do risco fiscal com a aprovação da PEC dos Precatórios e no risco desinflacionário da cepa Ômicron. Ontem, porém, o conselheiro da Casa Branca para infectologia, Anthony Fauci, disse que a variante não parece ter um grande grau de severidade, ponderando que ainda é cedo para conclusões definitivas. Com isso, o apetite ao risco o exterior cresceu, recolocando a taxa da T-note de dez anos perto de 1,44%, reforçando o cenário de aperto monetário pelo Federal Reserve.

A expectativa de elevação da Selic em 1,5 ponto porcentual segue sendo consenso no mercado. Mas, como é uma praticamente uma aposta de graça, às vésperas da reunião é natural que o investidor busque por alguma aposta alternativa que, nesse caso, seria de um aperto maior. “As medianas da Focus vêm subindo há muitas semanas e o Top 5 está horroroso, então se houver surpresa é para mais, não para menos”, explicou a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira.

No Boletim Focus desta segunda, a mediana para o IPCA do ano que vem rompeu formalmente o teto da meta de inflação, ainda que de forma marginal, passando de 5,0% para 5,02%. Para o IPCA em 2023 subiu de 3,42% para 3,50%, enquanto, para 2024, a mediana continuou em 3,10%.

Outro fator negativo para as expectativas foi a negativa da Petrobras em relação a cortes nos preços de combustíveis no curto prazo, algo que vinha no radar do mercado em função da redução da defasagem ante as cotações internacionais e que ganhou destaque após o presidente Jair Bolsonaro dizer ontem que a companhia começará a partir desta semana a anunciar a diminuição no preço. “A Petrobras não antecipa decisões de reajuste e reforça que não há nenhuma decisão tomada por seu Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP) que ainda não tenha sido anunciada ao mercado”, afirmou a empresa, em nota. Somado a isso, os preços do petróleo hoje saltaram mais de 5%.