Historiador Marc Ferro morre aos 96 anos, vítima da covid-19

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Atualizado há 3 anos

O historiador francês Marc Ferro morreu na França, por complicações do coronavírus na quarta-feira, 21. Ele tinha 96 anos e uma vasta obra publicada no Brasil, com destaque para livros como Grande Guerra, A Revolução Russa de 1917 e História das Colonizações. “Até o fim, ele foi habitado pela paixão pela História e pela evolução do mundo”, disse a família do historiador ao Le Figaro.

Ferro era especialista em temas como Rússia, ex-URSS e as guerras do século 20. Outra contribuição importante do historiador foi levar o cinema para dentro do estudo da história e, com isso, começou a ganhar notoriedade nos anos 1960. A experiência fez com que se tornasse pioneiro na teorização da chamada relação cinema-história.

Ferro foi pesquisador, diretor de cinema e manteve, por anos na França, a partir dos anos 1990, no horário nobre, o programa de televisão História Paralela, onde comparava e discutia fenômenos que marcaram o século 20, exibia e interpretava filmes e realizava entrevistas.

Seus livros abrangem análises dos processos de colonização, passam pela história da medicina e esmiúçam a relação entre cinema e história. Muitos desses títulos estão traduzidos no Brasil, disponíveis em livrarias ou sebos. Destacam-se, entre eles: História da França (Edições 70), A colonização explicada a todos (Editora Unesp), A Revolução Russa de 1917 (Perspectiva), A Grande Guerra: 1914-1918 (Edições 70), Nicolau II: O Último Czar (Edições 70), História das Colonizações: Das Conquistas à Independência (Companhia das Letras), A Verdade sobre a Tragédia dos Romanov (Record), Cinema e História (Paz e Terra), O Século XX Explicado Aos Meus Filhos (Agir), A História Vigiada (Martins Fontes), Os Tabus Da História (Ediouro), A Reviravolta da História (Paz e Terra) e muitos outros.

Ele também dirigiu filmes como A Grande Guerra (1964), Lenine por Lenine (1970) e Uma História da Medicina (1980). A biografia que escreveu sobre Pétain transformou-se em sucesso de público e também foi adaptada para o cinema.

Em 2000, durante uma passagem pelo Brasil, ele falou aos alunos da Faculdade Euro-Americana e ao traçar paralelos entre as revoluções Francesa e Russa e o momento atual por que passava a humanidade, disse: “Vivemos uma era globalizada, mas ainda somos herdeiros de estruturas políticas nascidas no século 18 e isso gera muitos problemas.”

Seu pai era de origem italiana e grega. Sua mãe, ucraniana. Marc Ferro nasceu no dia 24 de dezembro de 1924. Seus estudos de história foram interrompidos pela guerra. Ele se engajou na Resistência, participou da liberação de Lyon, perdeu a mãe em 1943, morta em Auschwitz, e lutou pela independência da Argélia.

Marc Ferro foi professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales e reconhecido internacionalmente e atuante até o fim – em fevereiro do ano passado, ele lançou L’Entrée dans la Vie – Amour, travail, famille, révolte. Ce qui change un destin, sobre personalidades que vão de Chaplin a Kennedy, passando por Trotski, Marie Curie, Freud e Gandhi.