Museu Judaico abre no domingo, para exibir arte, história e pluralidade

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Atualizado há 2 anos

Um dos primeiros elementos que o público encontrará no Museu Judaico de São Paulo (MUJ)- a ser inaugurado no domingo, na região central – será a pergunta “O que é ser judeu?”. A resposta estará ao redor, com depoimento de judeus brasileiros de diferentes origens, vivências, idades, classes sociais, cores e identidades de gênero. A ideia é mostrar a pluralidade da comunidade a todos, especialmente aos que pouco a conhecem. “O que queremos mostrar é que a cultura judaica, como outras, é plural dentro de si mesma”, explica o diretor-geral do museu, Felipe Arruda. Essa é uma das facetas do novo espaço, idealizado há 20 anos. O MUJ fica anexo à sinagoga Bet-El, na Rua Avanhandava.

A abertura contará com quatro exposições. Entre elas, um acervo histórico de relíquias doadas por famílias e instituições judaicas ao longo de décadas – como o Diário de Lore, escrito por uma menina de 13 anos durante o nazismo e obras de arte contemporânea relacionadas ao tema “palavra”, incluindo as de autoria de Arthur Bispo do Rosário e Arnaldo Antunes.

O museu está na antiga sinagoga Beth-El, de 1928, restaurada com as características originais e que ganhou um anexo de arquitetura contemporânea, envidraçado e com vista para a Avenida 9 de Julho. Embora sede de um antigo templo religioso, o MUJ não receberá cultos e manterá uma programação sociocultural diversa.

“É um museu que apresenta a cultura judaica, seus rituais, festas, valores, crenças”, descreve Arruda. “Me convidaram justamente querendo que o museu atinja para além da comunidade judaica”, justifica ele, que não é judeu. A proposta é cruzar a história desse povo com a colonização brasileira. As exposições temporárias são A Vida Judaica, sobre costumes e ritos, e Judeus no Brasil: Histórias Trançadas, que aborda os diferentes períodos migratórios para pontos distintos do País, desde a colonização. “Tem capítulos que o público em geral não conhece tanto, como a presença de judeus na Amazônia”, destaca Arruda. “E mostra a resistência dos judeus para manter as suas crenças e costumes.”

O holocausto é abordado em uma seção específica. Entre os itens expostos está o citado Diário de Lore, cujas 28 páginas foram escritas em francês e alemão por uma menina na Bélgica ocupada por nazistas, de 1941 a 1942. “Remete um pouco ao Diário de Anne Frank, de uma menina relatando como amigos foram desaparecendo, até ela própria deixar de escrever (por ser enviada a um campo de concentração)”, comenta o diretor.

O período atual também terá seu espaço. “Tem uma peça, por exemplo, que fala sobre o judaísmo em dez questões, o que inclui contemporâneas, como o casamento homossexual e mulheres rabinas. Questões do nosso tempo que atravessam essa cultura”, exemplifica. Há também referências a obras de artistas judeus, como Deborah Colker e Noemi Jaffe, por exemplo.

O acervo é composto por doações reunidas a partir dos anos 1970 (então por professores ligados à USP), e cujos números (1 milhão de páginas de documentos e 100 mil fotos, por exemplo) continuam crescendo mês a mês. Entre as peças, há o relógio escondido na sola do sapato durante o nazismo por um sobrevivente de campo de concentração radicado no Brasil. “As histórias por trás desses objetos são valiosas, também do ponto de vista afetivo”, diz Arruda.

Há, ainda, as mostras temporárias Inquisição e Cristãos-novos no Brasil: 300 Anos de Resistência, sobre os cristãos-novos (judeus obrigados a se converterem ao cristianismo) chegados a terras brasileiras séculos atrás, e Da Letra à Palavra, que explora a relação entre a arte e a palavra, com obras de 32 artistas brasileiros contemporâneos.

Esta última propõe atividades “entrelaçadas” com a cultura judaica, mas sem uma relação direta e reúne autores também não judeus. “É um projeto mais amplo. A palavra, o texto, é um elemento fundante na cultura judaica. Nos rituais de iniciação (como o bar mitzvá), a capacidade de ler um texto é visto como um dos elementos que tornam a pessoa adulta”, cita o diretor.

No geral, as exposições reunirão recursos em diferentes formatos – objetos, vídeos interativos, reproduções sonoras -, incluindo acessibilidade em libras, audiodescrição e Braille. Para 2022, o museu prepara novidades, como a transferência integral do acervo para o local. A programação também deve se expandir, com um festival de cinema de humor judaico e uma festa literária”.

Mais adiante, a expansão também chegará a um edifício vizinho, na Rua Avanhandava, cujo auditório foi comprado pelo museu e precisa ainda passar por reformas. A ideia é que receba futuramente palestras, shows, cursos e outras atividades.

O museu inclui ainda uma cafeteria, uma loja e uma biblioteca com temática judaica. O ingresso tem o valor sugerido de R$ 20, mas a bilheteria digital fornece desde entradas gratuitas até no valor de R$ 80. Há também a possibilidade de agendamento de visitas guiadas, incluindo teatralizadas e para escolas.