Projeto de arte e cultura revitaliza região japonesa

·
Atualizado há 2 anos

Barulhos de vento, pássaros e enxadas trabalhando. Esses são os ruídos típicos de Inujima, uma pequena ilha cercada pelo Mar do Seto, no sudoeste do Japão. É também o barulho que recebe os visitantes da mostra Simbiose: A Ilha Que Resiste, que estreou na terça, 30, na Japan House e vai até 6 de fevereiro. Ao longo do segundo andar do centro cultural, há uma maquete – com escala de 1 para 100 – que representa a ilhota, incluindo a Estrada Real que percorre o 0,54 km² do local. O objetivo é transportar o visitante para Inujima, mostrando o projeto de revitalização iniciado em 2010.

“Simbiose é um termo da ecologia que se refere à associação recíproca de dois ou mais organismos diferentes, o que lhes permite viver em uma relação benéfica. O objetivo da exposição é transmitir ao mundo a estética e a prática da simbiose, catalisada pela arte, arquitetura e projetos de design e paisagismo”, conta Yuko Hasegawa, curadora da exposição e uma das idealizadoras do audacioso projeto Art House Project.

Tudo começou em 2008, quando o arquiteto Hiroshi Sambuichi, em colaboração com o artista Yukinori Yanagi, transformou uma antiga fábrica da ilha no Inujima Seirensho Art Museum. Dois anos depois, vendo o potencial artístico do local, Yuko e a arquiteta Kazuyo Sejima decidiram transformar Inujima numa referência de arte e arquitetura contemporânea. Hoje, na ilha que tem cerca de 50 habitantes (a maioria em torno dos 70 anos), pequenas casas tradicionais japonesas convivem com obras de importantes nomes do movimento artístico.

“Nos últimos 10 anos, diversas experimentações que repensam as relações entre a natureza, o meio ambiente e o cotidiano vêm ganhando destaque, conectando esses elementos por meio da arte e da arquitetura, nas áreas rurais do Japão”, explica Yuko. “Além dos cinco pavilhões (com galerias expositivas), existem exposições ao ar livre que mudam a cada três anos”, diz ela. Por isso, a cidade é vida e se renova de arte a cada ciclo.

Nem sempre foi assim. Em meados do século 20, Inujima era uma base industrial próspera de 5 mil habitantes. Porém, com o fim das atividades fabris, houve uma mudança radical de hábitos, interesses e realidade. A cultura japonesa preza a integração da tradição com a inovação, e aqui não é diferente. A Estrada Real que contorna a cidade traz beleza com antigas pedreiras ou com obras de arte. O projeto destaca o conceito togenkyo, utilizado para denominar algo comum ao cotidiano, porém único e cheio de riqueza.

“O objetivo é criar um ecossistema que inclua também a vida cotidiana das pessoas”, conta Yuko. Mais do que criar novos edifícios, ele propõe uma nova maneira de se relacionar com o entorno. No Inujima Life Garden, jardim ecológico a uma pequena distância do vilarejo, onde foi recuperada uma estufa de vidro e construído um café ao ar livre, há workshops para seus habitantes aprenderem sobre a convivência com as plantas. Os artistas, por exemplo, podem ficar na residência artística e vivenciar o cotidiano da ilha enquanto desenvolvem projetos.

“É mais natural você enxergar a população sendo expulsa quando se encontra uma nova vocação para determinado local, e nesse caso é o contrário. Eles (os moradores) têm orgulho de fazer parte de um lugar que, sim, sofreu uma degradação econômica e de paisagem, mas que de repente tomou outra proporção. Em vez de o passado ser apagado, ele coexiste”, conta Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo.

Fotos, maquetes, vídeos curtos com linha do tempo e entrevistas com moradores permitem ao visitante observar como é o dia a dia na ilha. “A palavra ‘resiste’ está no nome da exposição porque é realmente a vocação da ilha, que abraça e consegue que tudo seja transformado a partir disso, em todas as esferas”, acrescenta Natasha.