Sem quarentena, Suécia mudará política diante do avanço do coronavírus

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Atualizado há 3 anos

O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, fez um raro pronunciamento nacional domingo, 22, à noite para alertar a população sobre a crescente ameaça que o coronavírus representa, em meio a temores de que a estratégia usada até agora possa não ser suficiente para combater uma pandemia cada vez mais mortal. O país, que se destacou entre os demais europeus por não recorrer a quarentenas obrigatórias no combate à pandemia, confiando na responsabilidade pessoal dos cidadãos, com adesão voluntária a restrições, registrou em 2020 sua maior contagem de mortes no primeiro semestre em 150 anos, segundo o Escritório de Estatísticas.

Lofven, o terceiro premier na História do país a fazer um discurso em cadeia nacional, disse que “muitas pessoas têm sido descuidadas em seguir as recomendações” que as autoridades de saúde apontam como fundamentais para controlar o vírus.

Diante da taxa de mortalidade consideravelmente mais alta do que a dos outros países nórdicos e de leitos de terapia intensiva sendo rapidamente ocupados, as autoridades estão agora recalibrando sua política.

A decisão de Lofven de se dirigir à nação desencadeou uma onda de análises nos maiores jornais da Suécia nesta segunda-feira, com as páginas editoriais avaliando a seriedade do momento.

Apenas dois primeiros-ministros suecos fizeram discursos semelhantes no passado: Carl Bildt, em 1992, após uma série de ataques a tiros por motivos raciais, e Goran Persson, em 2003, após o assassinato da chanceler Anna Lindh.

Em seu discurso de domingo, Lofven disse que “todos devem fazer mais” para combater o vírus. “A saúde e a vida das pessoas ainda estão em perigo, e o risco está aumentando”, alertou.

A covid-19 já matou mais de 6.400 dos 10,2 milhões de habitantes da Suécia, com um total de casos que já passa de 208 mil.

Ao mesmo tempo, os leitos de terapia intensiva estão enchendo rapidamente, com o dobro de pacientes infectados por coronavírus em 19 de novembro, em relação à quinzena anterior.

Em comparação, a vizinha Noruega, com população de 5,4 milhões, registrou apenas 32 mil casos e pouco mais de 300 mortes.

Em um recente relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Suécia consistentemente se classificou entre as nações mais duramente atingidas na Europa, como medido pelas taxas relativas de mortalidade e casos da covid-19. A OCDE também observou que a Suécia ficou muito atrás de seus pares na redução da taxa de transmissão.

“O objetivo das intervenções de prevenção, incluindo estratégias de contenção e mitigação, é trazer a taxa de transmissão para menos de um, isto é, quando o número de pessoas infectadas diminuirá com o tempo. Em média, os países levaram 34 dias para trazer esse indicador para menos de um depois que a epidemia começou a se espalhar. O país com o período mais curto foi Malta (11 dias), com a Suécia relatando o período mais longo (58 dias)”, informou a OCDE.

Mas o ministro do Interior, Mikael Damberg, disse que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre a estratégia sueca.

“Vemos que grande parte da Europa foi atingida pela segunda onda”, disse Damberg em entrevista à emissora pública . “Nossa responsabilidade agora é que a Suécia não seja arrastada para uma situação tão séria quanto a dos outros países.”

O governo, entretanto, parece reconhecer que as medidas até o momento têm sido inadequadas.

No início deste mês, o primeiro-ministro optou pelo que chamou de medida “sem precedentes” de proibir reuniões públicas de mais de oito pessoas.

A partir de 20 de novembro, as vendas de álcool também foram proibidas após 22h. Ambas as decisões foram um sinal de que medidas voluntárias não são mais suficientes.

A mensagem do premier foi igualmente inequívoca na noite de domingo: a trégua da covid-19 durante o verão e o outono acabou. “Tudo o que você gostaria de fazer, mas não é fundamental, cancele, cancele, adie”, disse. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS