Sem recursos de Fla, Atlético-MG e Palmeiras, Inter foca em jogadores sub-21

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Atualizado há 2 anos

Distante do líder e sem o poder de investimento de Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo, o Internacional disputa o Brasileirão com remotas chances de título, mas com dois objetivos bastante viáveis. Um deles é garantir ao menos uma vaga na Copa Libertadores do próximo ano. O outro é pavimentar o caminho para voltar a revelar grandes jogadores. Para isso, o clube decidiu investir na contratação de atletas jovens. Dos sete trazidos para a temporada, cinco têm no máximo 21 anos.

As exceções foram o atacante Taison (33 anos) e o zagueiro/lateral Gabriel Mercado (34), mas pode-se dizer que a “fuga ao padrão” tem justificativa. Formado no próprio Inter e torcedor do clube, Taison facilitou seu retorno após uma década no futebol ucraniano. Mercado, por sua vez, foi um reforço de ocasião em um momento que o time vinha tomando muitos gols. Foram acertos pontuais.

Ainda assim, o Inter melhorou na defesa quando contratou o zagueiro uruguaio Bruno Méndez (de 21 anos), que estava no Corinthians. Além do defensor, chegaram ao Beira-Rio nesta temporada o também zagueiro Kaike Rocha, o lateral Paulo Victor e o atacante Gustavo Maia (todos com 20 anos), além do ponteiro chileno Palácios, de tem 21.

As contratações vieram após o clube reforçar a base fora das quatro linhas. Em março, o Internacional contratou Gustavo Grossi como gerente executivo da área. Por quatro anos, Grossi desenvolveu a função no River Plate – e quase metade do time que disputou a Libertadores do ano passado havia sido formada no próprio clube argentino e puxado pelo técnico Marcelo Gallardo.

Algo semelhante o Inter espera ver acontecer agora. “Fizemos uma análise dentro daquilo que a gente chama de linha sucessória nas posições de um time de futebol, e avaliamos a necessidade de dar um ritmo diferente para que a gente volte a ocupar a maior parte das posições do grupo profissional com jogadores da nossa base. Isso não vinha acontecendo”, diz ao o presidente do Inter, Alessandro Barcellos. “No passado recente, o Internacional fez poucas vendas, e as vendas que fez foram de jogadores de defesa e de meio-campo, como Alisson, Willian, Bruno Fucs e Iago.”

Segundo Barcellos, a contratação de Gustavo Grossi veio para que o clube fizesse um melhor diagnóstico de onde estão as lacunas na formação de atletas. A partir disso, o Inter passou a buscar jogadores que fossem ao mesmo tempo jovens – e, como tal, pudessem ter a parte final de sua formação no próprio clube – e aptos a atuar no grupo principal. O futebol europeu, há anos, busca em países exportadores atletas em começo de carreira. O Real Madrid, por exemplo, tirou do Flamengo e do Santos os atacantes Vinicius Junior e Rodrygo, ambos na época com menos de 18 anos. O mercado de futebol dos Estados Unidos também caminha para esse mesmo modelo.

Parte da estratégia do Inter já vem dando certo. Bruno Méndez se transformou em um dos destaques do time e fez crescer novamente o futebol de seu companheiro de zaga, Victor Cuesta. Palácios ainda não se firmou no elenco, mas tem sido presença frequente nas convocações da seleção chilena. Paulo Victor tem sido opção para a lateral-esquerda. Contratados mais recentemente, Kaique Rocha e Gustavo Maia ainda esperam suas chances, mas vêm sendo relacionados constantemente. Dando certo, esses garotos pode ajudar o Inter por anos dentro de campo.

MÉDIA – Segundo levantamento do próprio clube, entre os principais times da Série A o Internacional é um dos que têm a média mais baixa de idade nas contratações em 2021. Enquanto no Atlético a média de idade dos reforços ultrapassa os 31 anos, e no São Paulo, Corinthians, Grêmio e Fluminense ela supera os 28, no Inter ela fica em 24,1. Apenas o Palmeiras tem desempenho melhor nesse aspecto, com média em 23,3 anos considerando as contratações do ano.

Além de preencher lacunas na formação, ao contratar jogadores jovens o clube gaúcho vislumbra retorno financeiro no futuro também, com a negociação desses atletas para o futebol da Europa. “Se tem uma vantagem competitiva que não depende exclusivamente de recursos em caixa, é a capacidade de avaliação, ciência de dados e análise de mercado. Essa é a vantagem competitiva, e a gente trabalha muito fortemente para chegar à frente de clubes que possam por ventura ter mais recursos do que o Internacional. E estou falando no mundo, não só no Brasil”, pontua Barcellos. “Se clubes europeus podem prospectar jogadores aqui e na América do Sul, por que não podemos prospectar também?”

O dirigente, contudo, ressalta que o foco é na formação. “O Internacional foi campeão dois anos do Brasileiro de Aspirantes, mas não revelou jogadores para o time profissional. Por outro lado, fomos campeões da Copa São Paulo e aí tivemos a revelação de jogadores importantes, como é o caso do Praxedes (negociado este ano com o Red Bull Bragantino). Esses meninos tiveram uma participação um pouco melhor (no grupo principal), mas ainda aquém do que o Internacional pode fazer”, diz.

Segundo o presidente do Inter, a conquista de competições de base segue sendo importante, mas não será exatamente a prioridade. “Temos de melhorar a formação. O aspecto competitivo é importante, mas os títulos de categorias de base têm de traduzir em jogadores formados para o time principal. Nós não vamos abrir mão disso.”