ALTA TOLERÂNCIA: “Você disse frio?”

Roberto do Santos virou personagem caricato no Vale do Iguaçu por usar pouquíssima roupa, inclusive, em dias de frio intenso. Entenda por que

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Atualizado há 5 anos

(Fotos: Mariana Honesko).
Roberto dos Santos é conhecido no Vale do Iguaçu por estar sempre de regata (Fotos: Mariana Honesko).

O contraste chama a atenção. Nas ruas, enquanto a maioria das pessoas caminham com casacos pesados ou pelo menos uma blusa quentinha, Roberto dos Santos exibe os braços através de suas finíssimas regatas coloridas. As pernas também ficam expostas, reveladas pelos calções que vão apenas até o joelho. O traje é o mesmo o ano todo, seja no alto Verão, seja no rigoroso Inverno, como vem se comportando a estação no Vale do Iguaçu. O eletricista, que entende de temperatura, virou personagem: quem nunca o viu por aí?

É caricato, de fato, mas não procurou ser assim. Embora se divirta, ficando ao lado do termômetro quase congelado da rua Matos Costa, por exemplo, ou exibindo o peitoral em fotos feitas nas geladas manhãs do Vale do Iguaçu, Roberto é geneticamente tolerante às baixas temperaturas. Ele até começou, há algum tempo, investigar com especialistas, o comportamento do seu organismo, mas desistiu, por temer algo mais invasivo. “Tenho curiosidade de entender o porquê, mas desde que eu não precise ser explorado de maneira interna”, explica.

Mesmo sem comprovação cientifica, ele  acredita que sua genética lhe deixou a tolerância como herança. Ele conta que entre os familiares, três tem perfil semelhante ao seu, descoberto desde muito cedo, ainda na infância. “Minha mãe conta que era difícil colocar roupa em mim e que quando conseguia, eu já tirava”, sorri. “Uma vez, dormi por cima das cobertas, me cobri só com um lençol e descobri que era uma sensação muito boa. Comecei a usar pouca roupa e ter menos resfriado, menos gripe. A saúde melhorou muito. Entendo que minha imunidade é muito boa”.

Assim, o eletricista, que além de flexível à temperatura, tem uma aparência muito mais jovem que sua real identidade – acredite, ele será considerado idoso em abril do ano que vem – se conhece bem e aprendeu a conviver com suas próprias diferenças. “Me considero normal, apesar da minha tolerância alta para o frio. Eu sinto frio, mas demora. Tenho uma elasticidade grande, num limite grande, cerca de 17ºC de diferença”, explica. “O Inverno é muito melhor para mim. No Verão, perco minha disposição e como consequência, sofro muito”.

Inversamente proporcional, o corpo de Roberto, que reage muito bem ao frio, reage mal ao calor. Por isso, no Verão, ele só mantem a estabilidade quando refresca os pés, com pedras de gelo, em episódios repetidos ao longo do dia. Segundo ele, apenas assim consegue enfrentar o calor. “O ar fica fino, é complicado respirar. Não adianta ventilador, nada”, conta.

Enquanto ele economiza nas compras – seu guarda-roupa é composto basicamente por bermudas e regatas – Roberto esbanja simpatia, especialmente quando é solicitado para tirar uma foto, um autógrafo ou uma explicação sobre os motivos por não colocar sequer um cachecol ao redor do pescoço nos dias de frio intenso. “Não me incomoda. É até divertido. Não faço para querer aparecer. Na verdade, eu admiro as pessoas no Inverno que usam roupa bonita e eu não consigo. Para eu usar um casaco, algo pesado, a temperatura deveria estar o dia todo, negativo uns seis, sete graus”, sorri.

Raio-X

Aos 59 anos, Roberto exibe um corpo atlético. Praticante de esportes desde a juventude, o eletricista intercala o trabalho com a academia, onde levanta peso, com facilidade. Clinicamente, Roberto garante ter boa saúde, resistindo até aos vírus mais fortes. Tem pressão baixa – logo, sofre com os rompantes de calor e dias de Verão. Embora não resista bem ao calor do tempo, natural, o organismo do eletricista enfrenta muito bem, por exemplo, a febre alta. Roberto já suportou, com tranquilidade, um febrão de 42ºC.


E não se engane: Roberto sente frio sim!

“Quem me conhece sabe que é assim: quando estou com camiseta de meia manga, é como uma blusa para uma pessoa. Se tiver vento e garoa, uso calça e camiseta, o que equivale a um sobretudo”


Cidades geladas no Paraná

União da Vitória – e pela geografia, Porto União, já em Santa Catarina – aparece entre as cidades mais frias do Paraná. No top 5, acompanham o ranking os vizinhos municípios de General Carneiro, Inácio Martins, Palmas e Guarapuava. No mundo, o lugar mais frio é o Polo Sul, onde as temperaturas negativas são “levemente” maiores: por lá, no Inverno, os termômetros podem registrar até -89,2ºC


E você, gosta do frio?

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“Eu acho ruim. Não gosto do frio. Só a elegância não adianta. Esfriou muito!”

– Elzira Gregório, costureira

 

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“Está horrível. Muito frio. Odeio o Inverno. Sei que precisa, mas não gosto”

– Elizabeth, funcionária pública