BULLING: A brincadeira que não tem graça

Dados do IBGE mostram que agressões acontecem especialmente entre adolescentes com idades entre 13 e 17 anos

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Atualizado há 5 anos

A violência, principalmente verbal, ainda faz muitas vítimas (Foto: Mariana Honesko).
A violência, principalmente verbal, ainda faz muitas vítimas (Foto: Mariana Honesko).

Baleia, “quatro olhos”, “viadinho”, palito de dente, dentuça. Quem nunca ouviu uma gracinha dessas na infância pode ser considerado uma raridade. Sem graça alguma, as brincadeiras que na década de 80 e 90, por exemplo, não eram nem consideradas por professores e pais, se internacionalizou e no Brasil, é reconhecido por bulling. Na prática, isso transformou a brincadeira em coisa séria. Bulling é toda e qualquer agressão física e verbal que ofenda alguém. É algo que de engraçado não tem nada.

Apesar de formalizado e identificado, a prática ainda faz muitas vítimas. Dados da Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar, de 2015, e divulgados pelo IBGE, mostram que naquele ano, 870 mil adolescentes no País, com idades entre 13 e 17 anos, sofreram bulling. Dezesseis por cento, de acordo com o levantamento, foram vítimas por conta da aparência do corpo.

Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na autoestima até o suicídio. “Bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explicou o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), para um artigo cientifico.

(Gráfico: Graffo).
(Gráfico: Graffo).

“Recentemente, viu-se nos meios de comunicação condenação de pais no valor de R$ 120 mil por danos morais à uma aluna que era frequentemente perseguida e humilhada pelo filho do casal na escola”

De acordo com o profissional, “para os alvos de bullying, as consequências podem ser depressão, angústia, baixa autoestima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinquentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”.

“Brincadeiras podem e devem existir entre alunos. Mas a partir do momento em que essas são repetitivas, intencionais, causando sofrimento ao outro, estaremos tratando de intimidação, de bullying”

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Em 2016, O Comércio trouxe uma entrevista sobre o tema. Em pauta, entrou em discussão também a versão mais atualizada da agressão: o Cyberbullying. Relembre o que disse na ocasião o promotor de Justiça da Curadoria da Infância e Juventude de Porto União, Rodrigo Kurth Quadro.

Jornal O Comércio (JOC) – Onde o bullying é mais presente?
Rodrigo Kurth Quadro (Quadro) – Nas escolas, sejam públicas ou particulares, sem distinção. Geralmente ocorre entre adolescentes de mesma faixa etária. Com o advento do bullying virtual, a situação piorou. Isso porque antes, no bullying tradicional, a vítima ao chegar em sua casa, entre amigos verdadeiros e familiares, sentia-se acolhida e protegida. Atualmente, não há mais fronteiras para barrar essa prática agressiva. Com o cyberbullying, há propagação instantânea com um simples clicar de mouse. A plateia é bem maior. Nos dizeres da psicoterapeuta Maria Tereza Maldonado: “o espaço do medo é ilimitado, não existindo mais férias ou fins de semana para a vítima, pois a humilhação agora chega dentro de sua casa”.

JOC – Quais são as consequências do bullying?
Quadro – Falta de vontade de ir à escola, baixo rendimento escolar, isolamento dos amigos e família, tristeza sem motivo aparente, depressão e até ideias suicidas. A médica Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes Perigosas nas Escolas”, acrescenta: “ataques de ansiedade e transtorno do pânico”. Vale lembrar que geralmente jovens vítimas de bullying, ou por medo ou por vergonha, nada contam aos seus pais sobre essa prática. Pais e escola devem estar atentos aos sinais para que então busquem ajuda psicológica ou médica.

JOC – E o perfil do agressor?
Quadro – Ele busca na prática do bullying uma forma de se tornar mais popular entre seus pares, um “destaque”, digamos assim. Aliás a plateia, curtindo seus atos, também o encorajam. Muitas vezes comportamentos agressivos, de rebeldia e enfrentamento em casa, podem ser sinais que aquele jovem pratica bullying.

JOC – Como evitar a agressão?
Quadro – Com informação, diálogo, envolvimento da escola, dos órgãos de proteção das crianças e adolescentes. Vale frisar que a prática de bullying por um adolescente, caracterizando atos contra honra, ameaças, sujeitam o adolescente a medidas socioeducativas, como prestação de serviços comunitários. Se não bastasse a “punição” do adolescente, os responsáveis podem ser condenados a pagamentos de indenização por danos morais e materiais, além do custeio de todo tratamento psiquiátrico e psicológico que a vítima necessite.