CICLONE BOMBA: Sem luz, moradora do bairro São Gabriel improvisou

Nadir Terezinha de Melo admite que é uma pessoa de fé; ela deu um jeito na inalação de sua mãe e ordenhou as vacas na mão

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Atualizado há 4 anos

O telefone da redação tocou por diversas vezes.

O pedido era um só.

Os moradores desejavam saber sobre o retorno da energia elétrica em suas casas. Telefonemas insistentes no dia 30 de junho, data em que ocorreu o *ciclone bomba, persistindo até o dia 5 de julho.


Um exemplo foi a moradora do bairro São Gabriel, em União da Vitória, Nadir Terezinha de Melo.

Do outro lado da linha, sua impaciência era perceptível, tanto pela maneira com que acelerava as palavras, e pela necessidade em contar a sua história. A preocupação também era com a bateria do celular; pois acabaria a qualquer momento.

“Eu moro antes da Ponte do Jacu, na rua Laurindo Furlan, no bairro São Gabriel”, afirmava ela, insistentemente.

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(Fotos: reprodução)

Em razão do fenômeno climático cerca de 23.363 unidades consumidoras permaneceram desligadas no Paraná e Porto União (SC), conforme levantamento feito pela agência da Copel de União da Vitória. Em Santa Catarina foram mais de um milhão.

E a família da Nadir foi uma delas.

“Foi um susto o temporal. Ficamos bem quietos dentro de casa. Depois que passou, outro problema, a falta de luz”.


Confira: 


No mesmo pátio de Nadir, moram mais 13 pessoas: com ela dividem a casa dois filhos, o marido e mãe, ao lado mora a filha e o genro e a nora e mais dois netos. Cita ainda a vizinha e mais duas crianças.

Sem luz do dia 30 ao dia 3, Nadir precisou improvisar os afazeres domésticos.

Conta ela, que a mãe Eremita sofre de esquizofrenia e também necessita de inalação.

“Ficamos a luz de velas, mas minha mãe estava com medo. Sobre a inalação dei um jeito. Aqueci o remédio no vapor da água quente para que ela pudesse inalar. Já o meu filho com bronquite fez a inalação no centro de União da Vitória, em locais que dispunham de luz”.

Dona Eremita, 84 anos, está acamada há 13, e requer cuidados 24 horas. Tem também problema respiratório e diabetes.

Juntamente dos cuidados com a mãe, Nadir divide o tempo com o cuidado de duas crianças e com os afazeres da agricultura. É dali, que vem o sustento da família.

“Tenho reumatismo e durante esses dias fiz a ordenha na mão. Temos três vacas. Também tenho clientes com a venda de verduras”.

A torcida de Nadir e do esposo foi para que o leite não estragasse. Uma parte foi destinada para o terneiro.

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A luz voltou

Na noite da sexta-feira, 3, Nadir e sua família comemoram o retorno da energia elétrica. Desde a primeira ligação dela à reportagem, o recado foi repassado para o atendimento da Copel, que prontamente anotaram e se comprometeram em solucionar o problema o mais rápido possível.

No entanto, a prioridade do serviço ficou concentrada nas emergências, como o Corpo de Bombeiros, hospitais, postos de saúde, entre outros.


Na região

De acordo com a Copel, da região da Associação dos Municípios do Sul do Paraná (Amsulpar) padeceram sem luz, em torno de 2,7 pontos afetados. Os locais mais afetados foram General Carneiro e Cruz Machado, ambas as cidades com aproximadamente 800 unidades desligadas. Este foi o mais severo evento climático registrado pela Copel.

“Nunca foram observados tantos danos graves, simultaneamente, e tantas regiões. Para se ter uma ideia da proporção dos danos, em nossa região, somente em quantidade de postes derrubados, o evento “Ciclone Bomba”, causou danos equivalentes ao que eram observados em um período de 5 a 6 meses (de manutenções corretivas) ”, conta o gerente da agência da Copel de União da Vitória, Flávio dos Santos

A Copel de União da Vitória recebeu reforço para manutenção e reconstrução de redes, com auxílio de eletricistas vindos de Ponta Grossa, Castro, Guarapuava, Toledo, Cascavel, Realeza, Francisco Beltrão, Irati e outras cidades.

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Razão para falta de luz

Ocorreu em razão da formação de um fenômeno conhecido como * ciclone bomba e a passagem de tempestades que provocaram estragos em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, no dia 30. Na ocasião, as rajadas de vento passaram dos 120 km/h em algumas regiões e, conforme as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), mais de 1,5 milhão de unidades consumidoras ficaram sem energia elétrica.

Em geral, ciclone é uma área de baixa pressão atmosférica. Isso acontece quando o ar se move para cima e, à medida que se afasta da superfície terrestre, provoca queda da pressão atmosférica naquela área. Essa queda atrai o ar de outras áreas, causando ventos que sopram em direção ao centro da formação do ciclone.

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O ciclone bomba, no caso, é um ciclone extratropical, ou seja, surgiu em uma área subtropical. Ele acontece quando uma conjunção de fatores naturais possibilita uma queda abrupta da pressão, gerando um intenso deslocamento do ar em poucos minutos. O termo ‘bomba’ vem dessa característica repentina.