Cine Luz será restaurado

Conforme reitoria da Uniuv, depois de homologado o processo de licitação, a empresa vencedora terá 180 dias para concluir a obra

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Atualizado há 5 anos

Cine Luz, Odeon e Ópera: estruturas e conceitos modificados
Cine Luz, Odeon e Ópera: estruturas e conceitos modificados

Muito mais do que um lugar para ver filmes, os cinemas alimentados pelos fãs dos longa-metragem no Vale do Iguaçu, eram um retrato do comportamento da sociedade da época. Os mais ricos, desfilavam pelos corredores das salas com roupas da moda, bem cortadas, com chapéus de festa, com sapatos de gala. Os mais pobres, sem dinheiro para pagar a bilheteria, se reuniam ali, na entrada do cinema, para trocar com os colegas mens abastados, revistas em quadrinhos. Dividiam espaço com vendedores ambulantes, que tinham a cada sessão, a chance de uns niqueis extras. Quem lembra dos saquinhos de amendoim vendidos em frente ao Cine Odeon, Ópera ou ao Luz?

Há algumas décadas, o Vale do Iguaçu era um paraíso para os cinéfilos: três cinemas funcionavam nas cidades. Eram dois em Porto União (ambos, na praça Hercílio Luz) e um em União da Vitória. Funcionou por mais tempo – e até bem pouco tempo – o Cine Teatro Luz, na rua Carlos Cavalcanti, hoje sob a batuta do Centro Universitário da idade de União da Vitoria (Uniuv), em obras desde 2016 e que nessa semana, anunciou o projeto de restauração do espaço (leia mais nessa matéria). O Cine Odeon, pouco conhecido dos mais jovens, deixou de funcionar há bastante tempo e hoje, funciona como estacionamento. Aberto, mas sem exibir filmes, está o Ópera. O espaço é palco para apresentações de dança, palestras e formaturas: a exibição dos longas e de curtas, ficou apenas na lembrança.

“A arquitetura do Cine Odeon, por exemplo, saiu até em uma revista especializada como uma das mais bonitas. Quando íamos ao cinema, tínhamos que chegar mais cedo, olhar as roupas, os meninos. Era assim. No Odeon, íamos muito na sexta-feira Santa. Tinha um filme mudo, da vida de Jesus. A gente não perdia. Mais tarde, veio o Ópera. Veja, é onde você entra pelo lado da tela. É algo bem difícil de se encontrar. Os cinemas eram um encontro social, de pessoas amigas”, lembra a professora, Therezinha Wolff (a entrevista completa estará disponível na página da CBN Vale do Iguaçu nesta semana).

Mantém viva a sétima arte na região, as salas de cinema da loja Havan, em Porto União, que hoje atraem quase nove mil expectadores todos os meses. Dados da gerência, mostram que cada uma das três salas para exibições (duas tem a tecnologia 3D), tem capacidade para 163 pessoas. “Trabalhamos atualmente com uma média de nove sessões diárias, distribuindo assim os lançamentos entre nossas três salas. A qualidade dos nossos equipamentos somado aos lançamentos mundiais exibidos simultaneamente em nossa cidade, viraram um grande atrativo para toda região”, diz o gerente do cinema na empresa, Daniel Moreira Junior.

Em todo o Brasil, os números sobre o cinema são positivos – e crescentes. Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), vinculada ao Ministério da Cidadania, aponta que o público em salas de exibição no Brasil foi de 161 milhões de pessoas. A performance dos filmes brasileiros, impulsionados pelo resultado do filme ‘Nada a perder’, apresentaram um crescimento de 25,3% em relação a 2017. Foram 23,25 milhões de espectadores para os filmes nacionais. As obras brasileiras voltaram a ultrapassar a marca de 20 milhões de ingressos vendidos, o que só havia acontecido nos anos de 2010, 2013, 2015 e 2016. A participação de mercado do filme brasileiro fechou o ano em 14,4%, um resultado bem acima do ano anterior (9,6%), mas abaixo dos melhores resultados em 2010 (19,1%), 2012 (18,6%) e 2014 (16,5%).

No ano passado, o número de salas de exibição fechou com o maior nível da série histórica, com 3.356 salas de cinema, superando o pico anterior, de 3.276 salas, em 1975. Após o nível mais baixo atingido em 1995, com 1.033 salas, o parque exibidor brasileiro veio crescendo paulatinamente até atingir o patamar atual.

Cine Teatro Luz

Conforme o reitor da Uniuv, Cine Luz será usado novamente pela comunidade após a conclusão das obras
Conforme o reitor da Uniuv, Cine Luz será usado novamente pela comunidade após a conclusão das obras

Conforme a assessoria de imprensa da Uniuv, “foram dois anos e meio de trabalho e mais de 30 viagens à capital paranaense, onde fica a Coordenação de Patrimônio Cultural do Estado (CPC-PR), para o cumprimento das exigências que um restauro desse porte exige”. Ao longo do processo, cerca de 40 pessoas estiveram envolvidas direta ou indiretamente nos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento para um projeto condizente e à altura de uma das edificações mais tradicionais da cultura local.

Palco de muitos espetáculos e muitos eventos, ao longo de sua história, o Cine Teatro Luz chegou às mãos da Uniuv por meio de um projeto de lei ainda na gestão do Prefeito Pedro Ivo Ilkiv, em 2016, depois de permanecer fechado por dois anos. “O estado era de abandono, diversos fatores contribuíram para a degradação do patrimônio, mas as condições para o restauro são boas, com exceção do detalhado”, diz parte do texto enviado à imprensa.

O valor da obra é de R$ 725.838,00 e a maior parte dos recursos serão disponibilizados pela própria instituição: R$ 200 mil reais foram repassados pelo Governo do Estado.

Ao todo, projeto é composto por 15 cadernos que estão disponíveis para consulta pública no departamento de compras da instituição e pela internet (http://www.uniuv.edu.br/lic_exibe.php?id=256). “Temos a mesma expectativa da comunidade para a reabertura do Cine Teatro Luz. Foram muitas pessoas envolvidas e muito trabalho”, comenta o reitor da Uniuv, o professor Alysson Frantz. “Não havia nenhuma planta, nenhum registro do atual projeto. Tivemos que redesenhar o Cine Luz, centímetro a centímetro. Mas enfim, está aberto o Edital. Aguardamos com brevidade todo este processo”, completa. Após a conclusão da obra, o Cine Luz volta a ficar aberto à comunidade – e não apenas para uso da Uniuv. “Queremos um Cine Luz ativo, para toda a comunidade”, confirma Frantz.

A abertura dos envelopes ocorre no dia 11 de março, às 9 horas da manhã no setor de compras e licitações da instituição.

Na bilheteria

O Sistema de Controle de Bilheteria (SCB), fonte dos dados do Informe pela primeira vez, mostra que a participação de sessões de filmes brasileiros é de 13,7%. Ou seja, o resultado em bilhetes vendidos do filme nacional, em 2018, é proporcional ao número de sessões ocupados pelas obras brasileiras em salas de cinema. O relatório da Ancine apresenta ainda o ranking dos filmes lançados em 2018, o ranking das distribuidoras e o ranking do grupo exibidor. O longa ‘Vingadores: Guerra Infinita’, por exemplo, foi o mais assistido no ano, com 14.241.590 espectadores.