“Curva do tomate” mata mais uma família

Jovem casal e um bebê de 11 meses são atingidos por um caminhão no trecho de ligação entre Porto União e o Distrito de São Miguel da Serra

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Atualizado há 9 anos

Por Mariana Honesko

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Vitimas do acidente. (Foto: Arquivo da família).

A comunidade do Distrito de São Miguel da Serra, interior de Porto União, amargou um final de semana de luto. Na noite de sábado, 1º, em uma triste coincidência com a véspera do Finados, o casal Rodrigo Dalmolin, de 24 anos, e Letícia Tomko, de 22 anos, e Angelina, um bebê de 11 meses, tiveram morte instantânea após serem atingidos por um caminhão carregado de toras de pinus, na popular “curva do tomate’.

Segundo informações coletadas logo após o acidente, registrado por volta das 22 horas, o motorista teria perdido o freio e não controlou a direção. O casal e a criança que ocupavam o Ford Ka, com placas de Porto União, não resistiram aos ferimentos. O motorista do caminhão, de 22 anos, e o carona, de 15, não foram atingidos. O veículo tem placas de General Carneiro (PR). O velório e o sepultamento da família causaram profunda comoção. Na rede social, os perfis foram alterados para o “luto”, enquanto fotos dos três eram compartilhadas entre amigos e outros parentes.

Curva do tomate

O acidente no popular trecho reacendeu uma antiga discussão. Em dez anos desde a pavimentação da SC-135, na gestão do então governador Luiz Henrique da Silveira, 13 acidentes já ocorreram com “exclusividade” na famosa curva.

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Comerciante Johanna Koch contabiliza tragédias e aposta na reinvenção do trecho pelo fim dos acidentes

A referência ao tomate lembra os primeiros oito acidentes registrados no mesmo local: todos tiveram o tombamento de carretas carregadas com o fruto. “Se não querem mais mortes ali, tem que tirar a curva”, conclui a comerciante Johanna Kock. Ela tem uma pequena “venda” às margens da SC. É de lá que ela contabiliza os prejuízos causados pelo excesso de velocidade em um espaço curto e bem sinuoso. “No caso deste acidente, se fosse um minuto de diferença, teria salvado essas vidas”, lamenta.

De acordo com estatísticas, com os três mortos do final de semana, 20 óbitos já foram registrados na “curva”.

Manifesto

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Caminhões pesados transitam no espaço e muitos aplicam velocidade alta, mesmo nos lugares de tráfego difícil

Organizado por iniciativa popular, nessa terça-feira, às 19 horas, um gesto de protesto ocorre na Câmara de Vereadores de Porto União. O vereador Gildo Masselai (PP), que defende o pedido de atenção do governo – a SC é estadual – deve abordar o assunto novamente. No plenário livre, outros manifestantes endossam a causa e juntos, reclamam melhorias. “A tragédia de sábado culminou o momento para começarmos uma manifestação maior e que o governo seja informado sobre isso. O descaso ocorre há mais de oito anos”, defende Clóvis Coelho, um dos líderes da ação.

Participam da defesa do trecho, ainda, representantes da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e entidades de classe, como o Lions Clube. “É uma manifestação ordeira, pacífica, sem grito, com voto de silêncio pela família que morreu no sábado”, completa Coelho.

No sábado, a “curva do tomate” recebe o movimento. O trecho será bloqueado, para uma movimentação maior.

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Nessa segunda-feira, peças quebradas do Ford Ka ainda eram visíveis, no acostamento da SC-135

Ao longo da década, desde a colocação do asfalto, movimentos silenciosos já vem ocorrendo no trecho. Nas placas de sinalização – nas visíveis, já que a maioria está embaixo da vegetação alta – as reclamações foram estampadas com grafite. Elas alertam especialmente para a presença de buracos ou “crateras”, como retrataram os manifestantes, ao longo das curvas.

Entenda o trecho

A SC-135, que já foi SC-302, liga Porto União aos municípios de Matos Costa e Irineópolis. Antes, ela estaciona no Distrito de São Miguel da Serra. O trecho é extenso e muito sinuoso. Em alguns trechos, há pequenos mas consideráveis barrancos profundos, sem proteção, nem para veículos, tampouco para pedestres.

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Curva do Tomate