Família vai buscar justiça

David Santos sobreviveu por muito pouco ao atropelamento na BR-153. Família quer punição para motorista que deixou o local sem prestar ajuda

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

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(Fotos: Mariana Honesko).

O retorno para casa foi interrompido de maneira estúpida. David Allan Santos, de 17 anos, seu irmão Wesley, de 15 e um amigo deles, encerravam a semana alegres. Todos moram na Colônia Correntes, interior de União da Vitória, e na sexta-feira, 11, estavam no caminho de volta, depois da aula. Eles são estudantes do Colégio Pedro Stelmachuk. À bordo de suas bicicletas, o retorno para casa era leve e descontraído.

A calmaria durou pouco: perto das 23 horas, a luz forte de um carro cegou a visibilidade do grupo e deixou marcas que certamente serão sentidas pra sempre. O veículo atingiu David com força e violência. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o adolescente foi arremessado a mais de 15 metros. David, que saiu na segunda-feira da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional, lembra-se de pouca coisa. “Só vi a luz alta na minha direção”, diz, ainda bastante debilitado. Wesley e o amigo dos irmãos não foram atingidos e foram eles mesmos que chamaram socorro. Aos sobreviventes, faltou pouco, centímetros entre a fatalidade e a vida.

À David, que ainda quer cursar Engenharia Civil, resta esperar. Não há previsão de alta, antes, a certeza de que mais duas cirurgias – de fêmur e joelho – serão necessárias. A maior e mais séria já ocorreu. Após o acidente, o estudante e também funcionário de um viveiro na colônia onde morava, ficou quase seis horas no centro cirúrgico. “Ele perdeu um rim, fraturou as duas pernas, precisou de sangue”, conta Irene, tia do jovem. “É um milagre. O acidente foi muito grave”, completa.

Justiça

acidente-justica-familia3Jair Antônio dos Santos, de 56 anos, é um homem simples que, tomado pela emoção, pouco consegue falar do filho. Em sua humildade, sintetiza em uma palavra o que ele e toda sua família quer. “Justiça. Só isso. Isso é um monstro, que atropela e deixa no asfalto, abandonado”, diz, comovido.

A família já digeriu o acidente. Mas, o que não “desce”, de jeito algum, é o comportamento do motorista que quase ceifou a vida de David. Conforme Wesley, o veículo vinha na contramão e atingiu “em cheio” seu irmão. Todos estavam no acostamento. A história é confirmada pela PRF, que trabalha no caso. “Depois de bater, o carro só voltou para a pista normal e foi embora. Ele nem reduziu a velocidade”, revela Wesley. É justamente a omissão de socorro o que mais incomoda. “Queremos justiça e só agradecemos a Deus por estar com ele vivo. Temos agora duas datas de aniversário para comemorar”, sorri Suely Terezinha Rodrigues, mãe dos garotos e que desde sexta, não deixa a unidade hospitalar.

Nem a Polícia, nem a família têm pistas concretas que levem à identificação do veículo ou do motorista. O único rastro deixado é a cor do automóvel. Parte de uma tinta verde ficou na bicicleta usada por David. A família não desanima e tem sua esperança, simbolizada pela mesma cor do carro suspeito, a força para ajudar na recuperação de David e no encontro do dono da omissão.

Mais um desafio

A família Santos não é de se abater por pouco. Além do susto por terem quase perdido um membro querido, ela agora vai precisar de força para dar apoio à recuperação de David. Ela será lenta e provavelmente dolorosa. Mas, com otimismo, os Santos erguem a cabeça. “É só mais um desafio”, sorri Suely, corajosa e lembrado de outro filho, Willian, de 27 anos, adotivo e cadeirante.

Irene, tia de David, não conta muito mas deixa escapar que a situação do sobrinho, infelizmente, não é novidade. “Já tive uma perda assim, pela imprudência de um motorista que fugiu do local. Com o David deu certo. Os meninos conseguiram chamar ajuda. Isso foi um crime. Estamos unidos para correr atrás”, diz.

Nadir é irmã de Jair, tia de David e veio de Florianópolis especialmente para dar suporte ao drama. “Eram meninos esforçados. O David queria prestar o vestibular este ano. É um milagre”, sorri.