Feminicídio na Estação União: 1 ano sem Rosane Guis

Rosane Guis foi morta pelo ex-marido na Estação União. Paro os familiares: saudade e a sensação que o crime permanece sem resposta

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Atualizado há 4 anos

Casa da família de Rosane. (Foto: Jaqueline Castaldon).
Casa da família de Rosane. (Foto: Jaqueline Castaldon).

15 de setembro de 2019. Desde então muita coisa mudou na vida dos familiares de Rosane Guis. A saudade é diária e a pergunta da família continua sem resposta: o porquê do crime? Já são mais de oito mil horas sem Rosane.

Rosane na época tinha 31 anos e foi morta com três tiros nas costas pelo ex-marido Anderson.  Após atirar nela, Anderson atirou em sua própria cabeça. Morreu na hora. Rosane foi socorrida.  Porém, faleceu devido a gravidade dos ferimentos

Para trás, ficou uma história de um relacionamento abusivo, agressivo e prisioneiro. Rosane e Anderson tiveram três filhos. O mais velho, um menino de 14 anos, e duas meninas de 10 e 7 anos. O filho mais velho, inclusive presenciou várias agressões e também foi agredido sem motivos pelo pai.

Antes do crime, as crianças e a Rosane já moravam com os avós maternos. Eles se mudaram em dezembro de 2018.

Depois de mais uma briga do casal ela deu um basta e decidiu recomeçar.  Dos pais, seu Oswaldo e Dona Lurdes, e dos irmãos ela recebeu apoio incondicional. A família agora cria as crianças.  Além da aposentadoria seu Oswaldo, ele trabalha na retirada de erva mate para garantir que não falte nada para seus netos.

No rosto das crianças, principalmente da menina de 10 anos,  os traços da mãe. A timidez não deixa as palavras saírem, apenas gestos com a cabeça quando questionada sobre a saudade.

As crianças frequentam a escola, na comunidade do interior, mas agora, devido a pandemia seguem as regras. Permanecem em casa o tempo todo, recebem as atividades a cada 15 dias. As visitas ao psicólogo também precisaram ser interrompidas neste momento de distanciamento social.

A família segue, faltando aquele pedaço. Segundo eles, a jovem era alegre, de bem com vida e sempre tinha um sorriso estampado no rosto. A vida segue, precisa seguir.

Segundo a avó, as crianças não recebem nenhuma ajuda financeira e também não herdaram nada até agora. Eles também não possuem  contato com os outros familiares do lado do pai, por decisão própria e da justiça.

A casa está igual, já era grande e acomoda todos. A vida é simples, mas o essencial nunca faltou. Amor, respeito e muito carinho.

Para relembrar

Rosane Guis estava trabalhando em um evento que ocorria na Estação União, na sexta-feira dia 14 de setembro – primeiro dia da festa, ela ficou dormindo na casa de uma amiga. No sábado, 15, o plano era voltar e dormir em casa para ficar um tempo maior com os filhos.

Quando se preparava para o retorno, foi alvejada por três disparos de arma de fogo pelas costas. Rosane tinha procurando a polícia algumas vezes. Possuía medida protetiva contra o ex-marido tanto para ela, como para os filhos. Ele não podia se aproximar de nenhum deles. Segundo o delegado da época, a medida era do dia 9 de agosto, um mês antes do crime.

Feminicídio

A Delegacia da Mulher de União da Vitória além do município sede, atende Bituruna, Cruz Machado, General Carneiro, Paulo Freitas e Porto Vitória. Em 2019 segundo os dados, um caso de feminicídio foi consumado e uma tentativa do mesmo crime foi atendida. Já em 2020, dois casos consumados e outras três tentativas.

Na Comarca de Porto União nenhum registro de feminicídio em 2019 e neste ano até agora também.

No Brasil a cada sete horas uma mulher é vítima de feminicídio – ou seja, foi morta pelo menosprezo ou discriminação por ser mulher. A cada dois segundos, uma mulher é agredida no país.

Quase 80% dos casos, os agressores são o atual ou o ex-companheiro, que não se conformam com o fim do relacionamento.

Machismo mata

Poucas vezes nos questionamos sobre o que está por trás da morte violenta de uma mulher.

As mortes violentas por razões de gênero são um fenômeno global e vitimizam mulheres todos os dias, como consequência da posição de discriminação estrutural e da desigualdade de poder, que inferioriza e subordina as mulheres aos homens.

O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres. Em comparação com países desenvolvidos, aqui se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que o Japão ou Escócia.

Lei do Feminicídio no Brasil

Desde de 2015, o Brasil alterou o Código Penal Brasileiro e incluiu a Lei 13.104, que tipifica o feminicídio como homicídio, reconhecendo o assassinato de uma mulher em função do gênero. O crime de homicídio prevê pena de seis a 20 anos de reclusão. No entanto, quando for caracterizado feminicídio ele é considerado hediondo e a punição é mais severa, parte de 12 anos de reclusão.


Como denunciar

Em caso de flagrante ou que a situação de violência esteja ocorrendo naquele momento, telefone para o número 190. Para denunciar anonimamente a violência, telefone para 181. As informações serão conferidas pela polícia em qualquer região brasileira.

Em União da Vitória a Delegacia da Mulher atende de segunda à sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h, situações fora desse horário são atendidas pelo plantão. O atendimento também pode ser presencial, a Delegacia está localizada na Rua Ipiranga, 444 – centro (mesma rua do INSS). Telefone para contato: (42)- 3522-5898;

Em Porto União a Delegacia da Mulher funciona das 12h às 19h de segunda a sexta-feira, depois em regime de plantão com o Delegacia.

O atendimento presencial é feito na Avenida João Pessoa, 2004 – Centro Telefone: (42) 3522-2546