Gesto é de nobreza para quem não vive conto de fadas

Aos seis anos, Alessandra Pelepek Grachekoski tem atitude de gente grande. Menina corta e doa cabelo para projeto de atenção a crianças com câncer

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Cabelo 01- CAPA
Alessandra Pelepek Grachekoski

O sorriso é doce. As expressões são suaves. O jeito é meigo. Faltam predicados para descrever a leveza que carrega Alessandra Pelepek Grachekoski. Aos seis anos, a dona de um sorriso fácil conquistou admiração até de quem nem conhece. Há uma semana, ela deixou a vaidade de lado para fazer outras crianças sorrirem como ela. “Fiz para elas ficarem felizes”, explica. O gesto foi realmente nobre: “Ale” gostou da sugestão de uma tia e decidiu pelo corte e doação do longo cabelo castanho.

Conforme Laís Silva, cabeleireira responsável pela missão, foram cerca de 30 centímetros de madeixas perfeitas, cortadas e encaminhadas para o projeto Cabelegria, uma Organização Não Governamental (ONG) paulista conectada com a ação social e com o mundo todo a partir de sua própria página. “Foi linda a atitude da Ale. Até me emocionei quando estava cortando o cabelinho dela”, conta Laís.

A visita ao salão LS, em Porto União, foi movimentada. No sábado passado, Ale fez uma escova no cabelão ainda à lá Rapunzel. “Aí fizemos umas fotos no estúdio, para ter a lembrança do cabelo cumprido. Ela nunca tinha cortado o cabelo”, conta Ana Maria, mãe de Ale. Depois, mãe e filha voltaram ao estúdio de beleza para, finalmente, cortar o cabelo. O estilo Chanel, até o ombro, combinou com os traços delicados de Ale que, conforme a mãe, não demonstrou nenhum sinal de arrependimento. “Ela faz ballet e era difícil convencê-la de que precisava tirar as pontinhas. De repente, ela tomou essa decisão”, sorri a mãe, orgulhosa. “E ela está adorando o novo corte”, completa.

Ale mora em Porto União, estuda na escola Coração de Maria e é a segunda filha do casal, Emerson Luis e Ana Maria, pais também de Bianca, de 18 anos. Em casa, a menina é cercada de afeto e agora, ainda mais, de respeito e muita credibilidade. Como toda garota de sua idade, Ale adora bonecas e, claro, seus cabelos compridos. Ela é fã da Barbie e da princesa Ariel, ambas com madeixas longas. A princesa Ale fez mais que seus ídolos: despiu-se da aparência para ajudar quem tem muito menos. “Quando a gente cortou, ela disse que não tinha problema, que logo iria crescer de novo”, lembra Ana Maria.

Laís Silva assinou o corte de Ale e já cadastrou o salão no projeto
Laís Silva assinou o corte de Ale e já cadastrou o salão no projeto

Fazendo a cabeça da criançada

O projeto Cabelegria nasceu no ano passado, em uma iniciativa das amigas Mylene Duarte e Mariana Robrahn, que tinham como meta ajudar crianças com câncer. A ideia da doação do cabelo veio de outra amiga, que já ajudava a Santa Casa de São Paulo com o gesto. Antes do site, o projeto divulgou sua proposta na rede social. A repercussão foi tão boa que logo o Cabelegria nasceu.

A ONG trabalha em parceria com a Andrea Lopes Cabelos, que confecciona as peruquinhas de graça. Hoje o Cabelegria já conta com mais de 7.500 doações de todo o Brasil, inclusive de outros países. A página do Facebook conta com mais de 195 mil curtidas.

Qualquer tipo de cabelo pode ser doado, mesmo aqueles com química ou tintura. O comprimento mínimo para doação é de um palmo, cerca de 10 centímetros. Para doar, basta fazer um “rabo” com o cabelo cortado e enviar pelo correio através de um endereço fornecido pela página do Facebook. Todos os doadores recebem um certificado fornecido pelo Cabelegria como uma maneira de agradecimento.

O Cabelegria quer se tornar um banco de perucas, para ajudar tanto as crianças quanto os adultos em tratamento que necessitem de uma peruca durante este período. Visite a página cabelegria.