GREVE: Eles transformam a rodovia em suas casas

Por trás dos mapas e dos números da greve dos caminhoneiros, estão histórias de quem não vê a família há vários dias e de quem luta para manter seu ganha-pão

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Atualizado há 6 anos

(Foto: Mariana Honesko).
(Foto: Mariana Honesko).

Ao longo das estradas que dão acesso ao Vale do Iguaçu, motoristas dos mais diferentes lugares do País compartilham suas histórias, suas vidas, com colegas de profissão que nunca antes haviam visto. São narrações da saudade de casa, da esposa, dos netinhos. São muito dias sem dormir na cama quentinha: no lugar dela, a cabine do caminhão, a “casinha de lata”, como dizem. A cabine vira cozinha, vira solidão, vira companhia. Caminhoneiros de Minas Gerais, do Maranhão, de Alagoas, de Bento Gonçalves, dos mais diferentes endereços, vivem desde segunda-feira, 21, à beira da estrada. Não que não soubessem como seria isso, afinal, os caminhoneiros têm a estrada como amiga, como família. Passaram horas na boleira, horas longe de casa, puxando alimento, remédios, moveis, madeira, puxando enfim, o desenvolvimento de uma nação. Por isso, sem eles na estrada, rodando, o Brasil parou.

“Eu acho que o nosso sentimento é de toda a população. Se a gente conseguir um benefício, todos seremos beneficiados”, diz, determinado, o caminhoneiro, Moacir Campelo, da cidade de Linhares, do Espirito Santo. Transportando leite em pó, ele está há 20 dias longe casa e sente saudade, especialmente, dos netos. “Tenho filhos, esposa, e meus xodós, os netos”, diz.

E na beira da estrada, tem famílias também. O casal Rafael Leal e Márcia vivem há quatro anos na boleira do caminhão. Eles moram em Araucária (PR) e no momento do estouro da greve, vinham do Mato Grosso, no transporte de forro de PVC. “A gente se sente valorizado com este movimento. Vem fazer o que a gente faz? Venham ver se a gente é vagabundo? A gente roda a noite inteira, com sono. Pegamos a estrada ruim, risco de ser assaltado”, desabafam.

Para Elisberto Braz, de Minas Gerais, que transporta frango, o reajuste proposto pelo Governo Federal é uma afronta. Por isso, não “arreda o pé” do manifesto. “Falo com minha família todo dia, por telefone. Já estou com saudade de casa”, sorri.

E assim, as histórias se multiplicam, à beira da estrada. “A saudade então aperta o peito. Ligo o rádio e dou um jeito…”, e seguem assim. Sem ponto final.