Papa Francisco celebra primeiro ano de pontificado

Para Dom João Bosco, bispo de União da Vitória, mudança do discurso interno e externo foi uma das conquistas mais importantes

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

Christopher Furlong/Getty Images
Christopher Furlong/Getty Images

Há um ano, o mundo católico respirava a novidade. No dia 19, o cardeal Bergoglio assumia o posto mais alto na religião. Nascia ali, o novo Papa. Argentino, dono de costumes simples e defensor da alegria, ele assumiu a identidade de um dos santos mais populares. Adotou Francisco como nome e referência. Dom João Bosco, bispo de União da Vitória, já esteve pessoalmente com o Papa. Foi durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, quando ficou mais próximo do perfil simples e dinâmico. A proximidade, contudo, apenas reforçou à Dom João, o que já era esperado. “Tenho acompanhado os seus pronunciamentos e visitas. Há muitos aspectos impressionantes nesse primeiro ano de pontificado e é difícil dizer qual é o mais importante de todos”, afirma.

De fato, Francisco, assim como o santo em sua época, causou revolução. Para o bispo, a mudança no discurso interno da igreja é uma das ações de maior destaque neste primeiro ano à frente da Igreja. “O assunto antes eram as crises, as críticas, a diminuição de fiéis, a falta de vocações, os pecados da Igreja, a condenação do ateísmo, do consumismo, do relativismo, a falta de vocações e outras ideias negativas. Francisco fez os cristãos darem mais importância à alegria do evangelho, a misericórdia, a bondade, a proximidade, o amor”, conta. O discurso externo também mudou. “A maneira como a Igreja era vista pela sociedade, pelos meios de comunicação, pelas outras religiões, pelos não-crentes, mudou de tal forma que hoje o Papa Francisco está todos os dias nas páginas dos jornais, mas sempre com uma visão positiva, e que não vai ficar sem frutos”, sorri Dom Bosco.

Ainda é cedo para avaliar o que, de fato, mudou neste primeiro ano de “mandato”. Mesmo assim, algumas situações pontuais já são atribuídas simplesmente à estreia de Francisco. “Ele inaugurou a figura de um papa “normal”, excepcionalmente normal, que mora junto com outras pessoas, anda de ônibus, carrega sua maleta, atende telefone, dá entrevistas, usa sapatos surrados, fala de improviso, pede para rezar por ele, e quer que os bispos participem do governo da Igreja com opiniões e partilha”, sorri Dom Bosco.

Outra mudança corajosa envolve a reforma da Cúria, a ordem secular, responsável pela “gestão” de toda a igreja. “Sempre foi difícil e até perigoso esta mudança, pois um abalo ali poderia causar grandes estragos. Mas, até aqui, o Papa parece estar seguro e determinado. Os oito cardeais escolhidos o ajudam nessa tarefa e isso muda o clima do Vaticano e de toda a Igreja, além de mudar positivamente sua imagem pública”, avalia o bispo.

O quase desconhecido cardeal ganhou confiança, respeito e assumiu a função então ocupada por Bento 16, que no ano passado renunciou o comando da Igreja. Os bastidores da “subida” de Francisco, para Dom João, é fruto essencialmente do que os católicos chamam de “graça de estado”. “Alguém que é escolhido por Deus é também assistido por Deus. Claro que o Espírito Santo age através de uma natureza humana, o coração aberto, a inteligência viva, a vontade determinada de acolher e se unir à vontade de Deus. Mas nós podemos ver os sinais do Espírito Santo de forma mais ampla: o Papa Francisco não é um raio em céu azul. Quero dizer, não é fruto do acaso, mas de uma longa história”, sorri. “Podemos dizer, sem erro, que o Papa Francisco é aquilo que o Vaticano expressou lá nos anos 60. Agora, sim, podemos ver no Papa aquilo que o Concílio pediu”, avalia.