QUASE CENTENÁRIA: Indígena de 98 anos impressiona pela aparência e disposição

Elena Cadete nasceu em 1920. Ela acompanha sua família em acampamento no Vale do Iguaçu

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Atualizado há 5 anos

Elena Cadete tem 98 anos e sorriso fácil: segredo é viver com tranquilidade (Fotos: Mariana Honesko).
Elena Cadete tem 98 anos e sorriso fácil: segredo é viver com tranquilidade (Fotos: Mariana Honesko).

Talvez ela nem soubesse, mas estava sentada numa cadeira de praia simples, exatamente entre os trilhos, no mais emblemático marco histórico de separação de cidades e Estados. Ali, do alto de sua simplicidade, olhava para a trama que tecia, montando um quebra-cabeça com taquara desfiada e tingida. Dali, no final do dia, nasceria um cesto, grande, para se colocar o que se quer dentro. Objeto igualmente emblemático, neste caso, do indígena, povo conhecido por extrair da natureza a matéria-prima para o nascimento de sua criatividade e, atualmente no Vale do Iguaçu, seu ganha-pão.

Elena Cadete não é uma simples caingangue. É a matriarca da família, evangélica recente, mãe, avó e bisavó de um número incontável de descendentes. Ela está no Vale há algumas semanas – e fica por mais duas ou três ainda – acompanhando os seus familiares. Em uma rápida conversa, Elena, de poucas palavras, já vai mostrando o documento de identidade como resposta à primeira pergunta da reportagem:

‘É verdade que a senhora tem quase 100 anos’?”. “Acredita agora?”, responde ela, com o documento nas mãos e um sorriso no rosto.

O RG diz mais. Conta que Elena, sem H, nasceu na cidade de Nonoai, Rio Grande do Sul, em 15 de setembro de 1920. Basta fazer as contas: daqui dois meses, ela completa 99 anos. Completa assim, quietinha, sem bolo nem vela. “Talvez”, dizem os familiares, “no centenário dela, se tivermos mais condições”.

“Querem que eu chegue aos 130”, brinca.

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Idosa, Elena não se deixa abater pela idade. Por isso, vive com tranquilidade nas precárias condições do acampamento erguido no limite das cidades. Além disso, garante ela, se alimenta com o que estiver à mesa, ou melhor, no colo, sob a lona preta colocada nas antigas e desativadas estruturas usadas no auge de funcionamento da linha férrea.

Talvez a aceitação de que a vida é assim, cheia de altos e baixos, e de adaptações, lhe garanta uma pele quase em rugas e cabelos compridos, presos em um “coque” no alto da cabeça, com muitos fios negros, muito mais do que brancos. Sobre isso, ela faz questão de falar um pouco. “Minha mãe dizia para não lavar com sabonete, apenas com sabão de casa”, sorri.

Assistência

A família, que tem residência em Chapecó (SC) está acampada no Vale do Iguaçu, recebe assistência, tanto da comunidade quanto da prefeitura de União da Vitória e da Igreja Batista (onde tomam banho e jantam). Mesmo assim, aproveitando a presença da reportagem, os indígenas pedem ajuda, especialmente para a doação de alimentos e para a compra dos produtos feitos ali mesmo. Os moradores podem ser vistos em vários pontos das duas cidades, oferecendo o que produzem.