À musa estuprada
Na favela, ou presidenta,
No congresso, ou no lar…
Há uma ferida nojenta
Há uma mulher a sangrar!
A mulher torturada,
Depois impedida.
A mulher estuprada,
Depois esquecida.
A mulher excluída,
Se não for recatada.
A mulher ofendida,
Se não for calada.
A mulher minha mãe,
A mulher minha irmã,
A mulher é culpada
Porque ela se expõe.
A mulher sufocada
De vestido na igreja,
De saia comprida,
Na burca escondida.
É sempre a culpada,
É sempre a acusada,
É sempre a julgada,
É sempre a safada!
Trechos de ‘À musa estuprada’, escrito em 2016, por Dora Incontri, apresenta indignações tão profundas, que expressas em poesia, questionam:
Onde estamos? Retrocedemos séculos? Ou essas camadas obscuras, nauseantes da sociedade não estavam tão visíveis?
Questionamentos como esses percorrem o País todo e no Vale do Iguaçu não é diferente.
Em 21 de março de 2013, o Coletivo Feminista Mais que Amélias criou uma rede de pesquisadoras e profissionais que atuam na prevenção e combate das violências contra as mulheres. O coletivo completou – em 2020, seus sete anos região Sul do Paraná.
De acordo com a historiadora, professora e educadora social do coletivo, Thais Bieberbach, o projeto contempla diferentes ações, tanto na área urbana, quanto na rural.
“Experiências, diálogos, pensamentos, sonhos e esperança alimentaram a criação do projeto. A preocupação foi com o debate sobre o mapa da violência no Paraná em 2012 e, que colocava União da Vitória entre as cinco cidades mais violentas do Estado para as mulheres viverem”, conta.
Ouça
Instituto Rosas do Contestado
A historiadora comenta que o Coletivo Mais que Amélias se dedicou também a criação do Instituto Rosas do Contestado (INROC).
Conta que é uma Organização sem fins lucrativos comprometida com enfrentamento das violências praticadas contra populações vulneráveis, especialmente mulheres e crianças, bem como contra a natureza.
Thais explica que o projeto contempla palestras e oficinas de formação, em parceria com as escolas atendidas pelo Núcleo Regional de Educação (NRE) de União da Vitória, também em Porto União e região.
“No Instituto Rosas do Contestado nos dedicamos a estudar e aprofundar os conhecimentos sobre o machismo em nossa sociedade, o qual se reflete nas violências praticadas contra mulheres, crianças e a natureza”.
O projeto busca também o diálogo com agentes e instituições públicas a fim de unir esforços no enfrentamento da violência e propor políticas públicas e ações relevantes.
No Brasil
Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que houve aumento de feminicídio no mês de março de 2020. O lugar mais perigoso é dentro de casa. Faz três anos que o número de registros de assassinatos de mulheres pelos parceiros cresce no Brasil.
É por isso que os especialistas em segurança pública estão certos de que o isolamento domiciliar não é a causa dessa violência. Nesse momento, as mulheres que já sofrem com relacionamentos abusivos correm mais perigo porque não estão conseguindo escapar do agressor.