TRAGÉDIA NA SERRA: Ônibus tinha capacidade para 51 passageiros mais motorista

Filho do motorista, Marcos Gaias, comprova lotação e vistoria no ônibus Scania

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Atualizado há 9 anos

Muito emocionado Marcos Gaias, filho de Cergio Gaias e irmão de Mateus Costa Gaias, deixou de lado o luto e deu início, nesta semana, aos trabalhos burocráticos de recolhimento da documentação para perícia. Na manhã de ontem, Marcos conversou com a reportagem de O Comércio. Durante entrevista, feita na casa da família em União da Vitória, Marcos se disse incomodado com as acusações feitas contra a família e afirmou que sua dor se iguala as outras 50 famílias envolvidas na tragédia. “Também perdi meu pai e irmão”, rebate.

A mãe, Maria Gaias, continua na casa de familiares em Cruz Machado desde o enterro do marido e filho na segunda-feira. “Não tem condições. Ela entra aqui em casa e desaba. O quarto do meu irmão está tudo como ele deixou. O quarto que ela dividia com o meu pai. Não tem como”, comenta.

Marcos já recolheu os documentos necessários para apresentar a Polícia. Em um deles, o filho mais velho mostra a capacidade de lotação do ônibus que sofreu o acidente, um Scania K112 prata, ano 1988. Nele está registrado 51 passageiros além do lugar para o motorista.

O carro Volvo placas IZV 7929, fabricação 1993, que saiu de União sentido a Guaratuba (PR), mas quebrou próximo a cidade de Mafra (SC), também estava regular. “O ônibus saiu com 32 passageiros, mais meu irmão e o meu pai de motorista, fechou 34”, explica. “De última hora um pessoal quis ir junto também e pediram como poderiam fazer. Eu disse posso levar vocês de van, porque eu não tenho outro ônibus”, contou.  Marcos ainda contou que seu pai, Cergio, não quis, inicialmente, viajar com o Scania, pois a documentação do veículo ainda estava sendo organizada. “O ônibus foi transferido para ele (Cergio), no dia 26 de fevereiro deste ano pela Ciretran daqui”, comenta.

Segundo Gaias todos os passageiros, ônibus e van, seguiam para o mesmo destino. A praia de Guaratuba onde iriam participar de um evento Umbanda em homenagem a Iemanjá.

Com relação a van que saiu de União da Vitória, Gaias conta que o carro tem capacidade para 16 pessoas, já incluindo o motorista. Ainda segundo Marcos, quando o Volvo quebrou em Mafra os passageiros da van decidiram embarcar no ônibus Scania, pois tinha capacidade para todos seguirem juntos. O ônibus Volvo teve problemas na embreagem e a van voltou nesta semana para o local do acidente para o recolhimento dos pertences das vítimas.

O ônibus tinha vistoria?

Conforme documentação apresentada por Marcos Gaias o ônibus Scania de 51 lugares passou por vistoria mecânica no dia 4 deste mês. Marcos ainda apresentou uma série de documentos que comprovam checagem de óleo, freios e filtros. O ônibus, segundo ele, também passou por três postos de fiscalização ao longo do trajeto e foi liberado pelo Departamento de Trânsito (Detran) de União da Vitória em janeiro.

E a regulamentação da ANTT?

Segundo Marcos a empresa Costa e Mar tinha regulamentação para rodar em estradas interestaduais. “Eu tomei uma multa nesse mesmo trajeto, Porto União/Guaratuba, com licença de viagem tirada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres”, conta. “Eu até entrei com recurso da multa no dia 11 de março.” Na ocasião quem estava dirigindo era Cássio Moura, o mesmo motorista que disse em entrevista para o Diário Catarinense que se sentiu inseguro em viajar com o ônibus. Na ocasião Moura disse que teve uma conversa com Cergio, dono da empresa, e decidiu não mais viajar pois o sinto de segurança não estava “engatando direito”.

Sobre as acusações Marcos informou que Cássio ligou para a família e esclareceu que não havia dito nada sobre o cinto. “Ele (Cassio) ligou para minha mãe e falou que não foi isso que ele disse. Até os outros motoristas foram para cima dele, mas é a perícia que pode afirmar se o cinto de segurança estava funcionando ou não”, conta Marcos.

Havia cinto de segurança em todos os bancos?

Conforme Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Catarina o ônibus acidentado na Serra Dona Francisca não tinha sinto de segurança para os passageiros. Contudo, as condições são legais, pois o ano do carro é de 1988, e a lei que regula o tema aponta que só há obrigatoriedade do equipamento para ônibus fabricados a partir de 1999.

Havia superlotação?

Ainda de acordo com o IGP de Santa Catarina o carro tinha numeração até a poltrona 49/50, mais dois lugares – motorista e auxiliar, que totalizava 52. Havia, conforme a contagem do Instituto Médico Legal, quatro crianças com seis anos ou menos entre os mortos. Entre os feridos, havia ao menos mais uma criança abaixo de seis anos, totalizando 57 pessoas. No ônibus todo havia 59, o que significa que em tese havia duas pessoas acima da capacidade legal no coletivo em uma contagem feita preliminarmente.

Os motoristas da Costa e Mar tinham habilitação necessária?

Conforme Gaias a contratação de motoristas para a empresa era feita dentro de um modelo rígido. Todos deveriam ter curso de Transporte de Pessoas e possuir habilitação correta. “Não é qualquer um que chega aqui e ‘vamos viajar” não é assim, tem toda uma papelada”, explica. Marcos também contou que seu pai tinha habilitação para transporte de pessoas e muita experiência na estrada.