ZILDA SANTOS: ‘Santinha’ completaria 85 anos em março

Assassinato foi em 1948 e crime até hoje está impune. Zilda nasceu em 24 de março de 1935

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Atualizado há 4 anos

Zilda foi morta há 70 anos: crime prescreveu em 1968, sem ninguém jamais ter sido acusado ou responsabilizado (Fotos: Mariana Honesko).
Zilda foi morta há 70 anos: crime prescreveu em 1968, sem ninguém jamais ter sido acusado ou responsabilizado (Fotos: Mariana Honesko).

Tomo a liberdade para quebrar um pouco a regra da lead jornalística. Mais do que isso, ouso me incluir nesta matéria. Tenho um enorme carinho pela historia de Zilda Santos. Lancei em 2019 a obra, Zilda Santos – o Assassinato da Santinha. Foi uma grande-reportagem, que pode ser consumida com rapidez, mostrando alguns capítulos dessa trágica e emblemática história.

Por isso, mesmo em época de Covid-19, a morte da menina, aos 13 anos, não pode passar desapercebida. Nem seu aniversário (no céu, certamente haverá festa). Nascida em 24 de março de 1935, Zilda seria hoje uma senhora de 85 anos.

Dê uma pausa, respire, e relembre um pouco mais do famoso Crime do Iguaçu, nome dado na época ao fato pela jornalista, Lulu Augusto.

Zilda

Ela era uma menina linda, adolescente, olhos amendoados e de tranças no cabelo. Era pobre, natural da catarinense cidade de Itajaí. Veio para o Vale do Iguaçu trabalhar com seus familiares. Inocente, caiu em uma armadilha e morreu sozinha, depois de nove dias desaparecida.

Foi abusada, violentada das piores maneiras e precisou ser atendida por um médico, ainda no cárcere, mantido na casa de Sofia Dresch, no bairro Santa Rosa, em Porto União. O médico, Nelson Malheiros de Araújo, morreu seis meses após assinar o óbito de Zilda. Seu corpo, como o de Zilda, também foi encontrado no rio.

Acidente? Queima de arquivo?

Os 72 anos do crime deixam dúvidas. Por isso, os nomes dos acusados pelo crime de Zilda, e talvez pelo do médico, não aparecem na obra e novamente, neste registro. Não aparecem pelo simples fato de não aparecerem em nenhum lugar, apenas na memória do povo.
Apurei, contudo, que os “grandes”, os poderosos da época, assassinaram a menina Zilda, uma criança, de apenas 13 anos, enterrando os seus nomes junto com essa imensa atrocidade.

Zilda morreu mas deixou uma mensagem e se tornou bandeira: ela é uma grande protagonista local, de uma história de horror, que se repete pelo Brasil afora. Segundo o anuário de segurança pública de 2015, por exemplo, um feminicidio a cada 90 minutos é registrado no País.

Assim, penso e creio que, de alguma forma, Zilda Santos ainda vive. Vive nos corações dos que a cultuam, e a ela fazem pedidos. Vive na memória de cada pessoa quando lhe é narrada a famosa história.

A morte violenta abre espaço para essa devoção. Seu túmulo é um dos mais visitados no Cemitério Municipal de União da Vitória. Para alguns, Zilda tornou-se santa, capaz de milagres.

Onde estiver, parabéns Izildinha!