UBER x TÁXI no Vale do Iguaçu

União da Vitória já tem seu primeiro motorista de aplicativo. Modelo é diferente, mais barato e parece não incomodar os taxistas. Pelo menos, até agora

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Atualizado há 5 anos

Foto: Mariana Honesko
Foto: Mariana Honesko

Sim, União da Vitória, uma cidade onde muita coisa fecha ou vai embora, tem Uber. Até o momento, o motorista do aplicativo caminha sozinho na novidade que gera bastante comentário no Vale do Iguaçu. O serviço, popular nos grandes centros, está disponível na cidade há cerca de dois meses. Por enquanto, conforme o motorista do único carro cadastrado à empresa, a demanda por corridas é pequena, talvez pela falta de certeza da população sobre o que veem na tela do celular: de fato, o carrinho que sê move no aplicativo existe e não é miragem: o Uber é realidade.

Já é real, há muito mais tempo, o serviço de táxi disponível em União. Junto com Porto União, são 61 taxistas cadastrados nas prefeituras. É um número expressivo, mas que teria muito mais força e atuação se a categoria fosse unida. Não é isso, e pouco organizada é. Cada taxista parece agir conforme suas próprias vontades. Os carros não dispõem de taxímetro (leia mais nessa matéria) e a tabela de preços que os motoristas afirmam existir, não é acessível, visualmente, aos passageiros. Na prática, esse documento aparece como uma prova, ainda que suspeita, de que os valores cobrados nas corridas são justos e embasados.

Para quem usa o serviço, a união da categoria ou a falta dela, pouco importa. Faz diferença, contudo, preço bom e barato, rapidez e atendimento, características que o Uber já faz uso. “Eu soube que poderia ter Uber na cidade. Baixei por curiosidade e realmente apareceu. Já fiz umas seis corridas com ele e não uso mais táxi”, conta uma estudante universitária. Para ela, fez diferença o arsenal de garantias do uso de serviço (veja o quadro), que na telinha, “emite” uma espécie de recibo pelo pagamento, informa o valor correto e depois da corrida, questiona virtualmente o usuário sobre o que achou do serviço. “O carro é bom, limpo, novo. Gostei muito”.

Ser motorista de aplicativo não é complicado. Na verdade, apenas as condições do carro aparecem como uma das poucas exigências da empresa. Conforme as normas do Uber, o veículo precisa ter, no máximo, dez anos. Quanto à cor e marca, não há barreiras. O motorista do aplicativo precisa ser maior de 21 anos, ter uma vida idônea, sem multas na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e no documento, ter a sigla ‘EAR’ (Exerce Atividade Remunerada) impressa no campo de observações no verso do documento de habilitação. Para se incluir essa “nota”, basta ir até o Detran, fazer o pedido de inscrição, novos exames e pagar uma taxa. O motorista não precisa ter um “ponto”: basta estar online.

No caso do Uber de União da Vitória, o aplicativo sempre mostra o carro na região Sul da cidade, onde mora o motorista.

“O aplicativo te dá um raio de quatro a cinco quilômetros para localizar o carro, tem pessoas que não localizam. Por isso, coloquei o meu número de watts em classificados e quando vou fazer a corrida, ligo o aplicativo de onde a pessoa está”, explica o condutor do aplicativo na cidade.

É mais extensa a lição de casa que um taxista precisa fazer antes de rodar. No Vale do Iguaçu, as prefeituras cobram, entre outros itens, o pagamento da Taxa de Ocupação de Solo (TOS), cujo valor anual é de R$ 65,31, além do ISS, que ao final de um ano, custa para cada motorista, R$ 234,33.

A detenção do “ponto” é diferente em cada uma das cidades do Vale do Iguaçu. Por exemplo, em União da Vitória, a Lei 4754/2018, de 9 de julho de 20018, tem um capítulo inteiro dedicado a isso. O documento informa que os pontos que já existem, continuam assim. Por outro lado, os novos endereços, serão “fixados pela prefeitura” por meio da Secretaria de Trânsito. “A rodoviária municipal é ponto livre”, conclui a redação.

Já em Porto União, a equipe de Trânsito informa que “cada taxista tem um ponto determinado, porém, com a criação do ponto livre na rodoviária a maioria para ali devido a demanda”. As negociações anteriores, igualmente como em União, ficam mantidas assim.

A diferença burocrática entre os serviços e os valores discrepantes da corrida, faz com que a rivalidade tome a cena. Velada, o olhar desconfiado dos taxistas, às vezes preconceituoso ou mais que isso, não passa desperecido por quem está na labuta diária. Quando surgiu no Brasil, em 2014, houve manifestações em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília para que o aplicativo fosse proibido. O argumento dos que são contra o aplicativo se trata de uma prática ilegal, de que o Uber não é seguro e é pouco profissional. A empresa, por sua vez, defende uma política de oferta de um transporte diferente, que ajuda a diminuir o trânsito e gerar renda para as pessoas.

portal_vvale_entenda_as_diferenças_uber_taxi_2019Recentemente, na cidade de Mafra, no Planalto Norte de Santa Catarina, um motorista do aplicativo foi agredido por taxistas. Segundo o ele, quatro taxistas o seguiram por três quarteirões, e quando o trânsito parou, partiram para a agressão e o ameaçaram de morte. As informações estão no Portal JMais. “Os taxistas também chutaram a lataria e quebraram os retrovisores do veículo de Wagner”, informa a matéria.

Conforme a Polícia Militar de Mafra, já foram relatados três casos de agressão à motoristas de aplicativo no município, desde novembro de 2018, quando o Uber começou a funcionar.

Em União da Vitória, os ânimos ainda se mostram menos exaltados. Mesmo assim, a dúvida sobre a durabilidade este momento, já existe.

“Dá um pouco de medo porque a gente não sabe a reação dos taxistas. Vários passageiros que eu peguei e levei na rodoviária, por exemplo, já fiz isso longe deles (dos taxistas). Faço meu serviço tranquilo, sem mexer com ninguém e seria bom se ocorresse isso com eles também”, fala.

O que é?

Uber é uma empresa multinacional americana de transporte privado. Usando o aplicativo, através de um celular, os usuários que precisam de transporte conseguem encontrar motoristas parceiros que oferecem o serviço. “Presente em mais de 500 cidades ao redor do mundo, a Uber chegou ao Brasil em 2014 com o UberBlack um serviço de carro sedã com bancos de couro, motoristas bem vestidos e ar-condicionado sempre ligado”, informa a página da empresa na internet.

As tarifas são definidas em tempo real quando é localizado o início e fim do percurso. Isto acontece de acordo com uma lista de preços definida e centralizada pela Uber. O valor fica visível para o usuário antes da viagem começar, tendo a possibilidade de cancelamento caso o usuário discorde do valor por algum motivo. Outras vantagens incluem o fato de que o usuário paga através do aplicativo com uso de cartão de crédito, de forma que nenhum dinheiro é necessário. Além disso, o serviço da Uber apresenta preços populares e diferentes códigos promocionais, permitindo que qualquer classe social tenha acesso a este serviço.

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Taxímetro

No Vale do Iguaçu, o uso é polêmico e alvo de muita discussão. Os passageiros alegam que com ele, o serviço seria muito mais creditado. Contudo, há regras diferentes para cada uma das cidades do Vale do Iguaçu. Por exemplo, em Porto União, o uso não é obrigatório, conforme a equipe do Departamento de Transito.

Já em União, a mesma Lei que estabelece normas gerais para o serviço de taxi (a Lei 4754/2018, de 9 de julho de 20018) estabelece no artigo 13, “que o taxímetro será implantado nos veículos que exploram os serviços no período de 12 meses contados da publicação desta Lei”.

“A secretaria de Trânsito já tem programado uma ação de fiscalização para o mês de julho, quando ocorre o encerramento desse prazo”, comenta o secretário de Planejamento e que neste momento responde pelo setor de Transito em União, Clodoaldo Goetz.

Ainda que os municípios discutam o assunto particularmente, a Lei Federal é bastante clara sobre o uso do taxímetro. Conforme o artigo 8 da Lei 12468/11, “em municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes é obrigatório o uso de taxímetro, anualmente auferido pelo órgão metrológico competente, conforme legislação em vigor”.

Andando de Uber

A reportagem do jornal O Comércio e Portal Vvale quis testar a novidade. Por isso, logo no começo da tarde do dia 15, já com o aplicativo baixado no celular de um dos integrantes do time de repórteres, pediu pela corrida.

Veja nessa série de imagens e no vídeo, como o sistema funciona: