Do rádio à política

Conheça os comunicadores que colocaram a prova suas popularidades nas urnas

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Atualizado há 3 anos

“A voz do povo é a voz de Deus” ….

Quem nunca ouviu essa frase que atire a primeira a pedra.

Popularmente usada em épocas de eleições, a expressão também costuma ser aplicada para a mídia e, é por isso que profissionais da imprensa também tem aparecido nas telas das urnas. No Vale do Iguaçu e região, as eleições municipais realizadas em 15 de novembro, também apresentaram candidaturas de locutores; fotógrafos, relações públicas e radialistas, de acordo com as ocupações declaradas ao Tribunal Superior eleitoral (TSE).

Mas não é de hoje que estes profissionais e de diferentes partidos concorrem ao pleito. Ser uma pessoa conhecida através dos meios de comunicação encoraja muitas candidaturas, especialmente no contexto atual, em que em razão de campanha atípica, devido a pandemia do coronavírus, ampliou sua evidência nas mídias digitais.

Desde que a Democracia Representativa se instalou no Brasil, através da Constituição Federal de 1988, profissionais da comunicação integram a política. São exemplos o ex-presidente Fernando Collor de Mello, atualmente senador por Alagoas (ver box), e o apresentador de TV, Carlos Massa, o Ratinho, que já foi vereador de Curitiba e deputado federal na década de 90.

De acordo com o doutor em Comunicação e Cultura com pesquisa na área política, Samuel Barros, em declaração à imprensa brasileira em 2020, lembrou que uma imagem pública positiva não garante eleição para ninguém. “É preciso que as pessoas entendam essa imagem como adequada para o cargo que o candidato disputa. E me parece que o eleitorado já entendeu que um bom radialista, apresentador de TV ou jornalista não necessariamente resultará em um bom prefeito ou vereador”, comenta o especialista que já atuou em campanhas políticas e atualmente é professor e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD).

Já para o professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e mestre em Sociologia Política, Eduardo Guerini, o andamento de uma campanha é determinado pelos poderes econômicos e políticos. A informação está no artigo, “Supererxposição Midiática – Os homens do meio são candidatos potenciais? ”, em que afirma que o grande ritmo de uma campanha é ditado pelos interesses políticos orquestrados pelo poder econômico.

DOS BASTIDORES À POLÍTICA

COMEÇO, MEIO E FIM

A presença de jornalistas nas equipes de campanhas é quase que automática. Foi nessa posição que Mariana Honesko Bortolini vivenciou pela primeira vez e de pertinho, a movimentação política local. Casada com Ernani Bortolini, a então repórter do Grupo Verde Vale de Comunicação, acompanhou o esposo, que neste pleito, saiu como candidato a vice-prefeito pelo PDT ao lado do já experiente político Pedro Ivo Ilkiv (PT).

Ficando em segundo lugar no ranking, com 5.966 votos (22,91), a jornalista compartilhou em suas redes sociais que a experiência foi muito enriquecedora, pois conheceu vários bairros, situações e pessoas dos quatros cantos da cidade.

Mariana Honesko
Mariana Honesko

Mariana despertou muito cedo o seu carinho pelo jornalismo. Ingressou em 2004 como redatora na Rádio Difusora União 1070 AM – que abriu espaço em 2017 à CBN Vale do Iguaçu 106.5 FM, e como repórter do jornal o Comércio. Já em 2005, se dedicou exclusivamente ao impresso. Em outro momento de sua carreira buscou novos ares integrando a equipe da então TV Milenium, hoje TV Mil de União da Vitória. Depois, voltou ao impresso, porém na cidade de São Bento do Sul. Anos depois, voltou para onde tudo começou, o Jornal O Comércio, onde permaneceu até outubro de 2020. Também teve como experiência a passagem pela assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de União da Vitória.

Agora, Mariana busca novo projetos. “Comecei uma menina no Jornal O Comércio. Foi a minha iniciação ao mundo real do jornalismo, aquele que te joga na vida e te mostra a realidade além dos livros e faz você conhecer pessoas, amigos, lugares, modos de fazer. Voei alto, escrevi sobre os mais plurais conteúdos, ganhei prêmios e escrevi livro. Já perdi parte das minhas digitais. Tudo valeu a pena. Foram 11 anos de muito aprendizado. Foram 11 anos vividos intensamente. Obrigada a todos que conheci nessa jornada. Como uma boa história jornalística, a minha no Mais Lido, no grande jornal O Comércio, teve começo, meio e fim”.

SEM MEDO DA VERDADE

Conhecido pela sua voz imponente e pelos jargões “sem medo da verdade” e falei tá falado”, o radialista Brittes Antônio Brittes também conheceu de perto o funcionamento da câmara de vereadores de União da Vitória. Ainda, pelos microfones da Rádio Difusora União, também da 94 FM e, agora pela CBN Vale do Iguaçu, o Britão ficou conhecido por cobrar dos políticos ações imediatas em prol do povo.

Britão, foi eleito vereador para a gestão 1997-2000, sendo vice-presidente, primeiro secretário e presidente da Casa de Leis. Eleito na época com 670 votos, foi o quarto mais votado pelo PTB. Apresentou vários projetos, entre eles, enquanto presidente, conseguiu o atual prédio da Câmara Municipal, junto ao Poder Judiciário do Paraná, através de um termo de comodato.

Britão
Britão

Como vereador, foi presidente da Associação de Câmaras Municipais do Sul do Paraná (Acamsul). “Confesso que fui o melhor presidente desta entidade. Fui vereador de oposição, mas com muita sabedoria. Cumpri minha missão com muito trabalho, empenho e dedicação. Foram quatro anos de trabalho para a população. Eu estava preparado para enfrentar o cargo. E dei minha contribuição à sociedade. Valeu a pena”.

“NÃO FUI MOVIDO PELO FATOR FINANCEIRO”

O radialista – hoje ausente dos microfones, Airton Maltauro Filho, afirma que sempre esteve envolvido [indiretamente] na política, com as problemáticas da cidade, sendo, segundo ele, o porta voz das comunidades, adquirindo conhecimento mais profundo do verdadeiro papel de um vereador.

Airton Maltauro Filho
Airton Maltauro Filho

Lembra Airton que a Câmara Municipal de União da Vitória, já na época era composta por 13 vereadores. “Então me interessei pela política bem antes, quando nem era eleitor. Costumava assistir as reuniões semanais da Câmara, onde meu pai Airton Maltauro era vereador e onde permaneceu por 13 anos, em três mandatos. Aliás, posso dizer que foi aí minha iniciação política aos 14 anos. Por volta de 1967/68 já na condição de locutor apresentador e repórter do mais conhecido e ouvido Jornal falado do rádio local o Informativo Tupi, na Rádio União, uni o útil ao inovador e passei a fazer cobertura das sessões da Câmara. Via meu pai e seus pares em atuação no plenário, coisa que fazia antes mesmo de me tornar radialista, e só mesmo tempo conseguia farto material exclusivo para o informativo e meus comentários”, conta.

Dessa maneira não foi surpresa o interesse de Airton pela política e sobre a decisão em concorrer a vereador, incentivado pelo seu pai nas eleições de 1972. “Vale dizer que não fui movido ou atraído pelo fator financeiro, já que na época, o vereador não recebia subsídios, então quem se candidatava certamente o fazia pela vontade de trabalhar por vocação de servir ao município e sua comunidade”.

Airton obteve 524 votos, sendo o quarto mais votado e eleito para o Legislativo. “Para prefeito, o eleito foi Alcides Fernandes Luis, para o seu primeiro mandato. Lembro de alguns companheiros de Câmara: Isael Pastuch, Luis Martins Schmitka, Ermindo Francisco Roveda, Ladislaw Casnoch, Emídio Santana de Morais, Alcides Vodonos, Juvenal Carvalho Rocha, Ivo Clóvis Cunha, Eduardo Teixeira e Gilberto Brittes, que seria eleito prefeito em 1976”.

Lembra ainda, que foi uma época em que as campanhas não eram marcadas pela formação de grupos políticos e poder financeiro nos moldes atuais. A Câmara funcionava em parte do prédio da antiga prefeitura na praça Coronel Amazonas. Também, não existiam os chamados assessores comissionados e os vereadores não tinham gabinetes individuais.

EM SINTONIA COM OUVINTES EM PORTO UNIÃO

Carla Wilhelms, a dona do bordão “oi meu lindo e minha linda”, decidiu aplicar sua experiência na comunicação em favor da política. Lançou-se candidata pela primeira vez pelo PSD em busca de uma vaga para a Câmara de Vereadores de Porto União. A Carlinha da rádio, como ficou conhecida na campanha, conquistou o voto de confiança de 109 eleitores, garantindo uma vaga na suplência.

Carla Wilhelms
Carla Wilhelms

Mesmo não sendo eleita, a locutora da 94 FM, acredita que a experiência foi válida. “Foi uma oportunidade fantástica e única; aproveitei a experiência que a comunicação me deu em favor da interação com o povo. Decidi colocar o meu nome à disposição para assumir uma responsabilidade a mais para contribuir em alguns ajustes de problemas sociais que eu tenho conhecimento e, isso nós fazemos através da política. Foi uma oportunidade de conhecer as dificuldades que nos cercam e criar mecanismos para amenizá-las. Ainda, difundir princípios de igualdades, valores, direitos humanos, que devem ser o nosso norte em qualquer tempo e lugar. Não cheguei ao objetivo, mas por outro lado, conheci muitos ouvintes, olho no olho, energia positiva”.

EM SINTONIA COM OUVINTES EM UNIÃO DA VITÓRIA

Jessica Oliveira, também carrega no currículo sua paixão pelo rádio. Teve sua primeira oportunidade na rádio comunitária de Porto União, e mais tarde, ficou conhecida pelo trabalhado na extinta Rádio União e 94 FM. Tempos depois, integrou a equipe de locutores da rádio Educadora Uniguaçu. Seu trabalho reconhecido pelos ouvintes lhe rendeu o convite do diretório municipal do PROS, para concorrer uma vaga na Câmara de Vereadores de União da Vitória.

Jessica Oliveira
Jessica Oliveira

Ela obteve 136 votos, garantindo uma vaga na suplência. “Orgulho da campanha honesta que fizemos e poder andar de cabeça erguida sabendo que não comprei ninguém”.

“INDEPENDENTEMENTE DE SER JORNALISTA EU SOU CIDADÃO”

Marcelo Stork, iniciou sua trajetória na comunicação e na política muito jovem. Desde então, as duas práticas sempre caminharam juntas em sua vida. Na comunicação, fez história do jornal O Comércio, como editor chefe e repórter, depois migrou para televisão, com programa voltado a cobertura de eventos sociais, na então TV Milenium de União da Vitória. Em outro momento da sua carreira, fundou o jornal Tribuna A2, que anos depois concentrou seu conteúdo para o digital.

Marcelo Stork
Marcelo Stork

Na política, Marcelo foi um dos fundadores do Partido Liberal (PL) em Porto União, isso aos 22 anos de idade, o que ocorreu em 1992. “Fiquei por um afastado diretamente da política, em razão de minhas ações sociais e do jornalismo, porém sempre acompanhando e cooperando para a evolução do município”.

Em 2020, foi a segunda vez que Marcelo tentou uma vaga na Câmara de Vereadores, onde conquistou 237 votos, ficando na primeira suplência do seu partido. Com essa votação, foi o 20º mais votado entre os 119 postulantes as 11 vagas na Casa de Leis de Porto União. “Eu não penso em ser algo especial na política, um integrante da imprensa que disputou uma cadeira. Candidato é candidato independente da profissão. Independentemente de ser jornalista eu sou cidadão. Devemos ter sim uma participação pública”.

ELE CHEGOU LÁ

Natural de Caçador, o comunicador Aldair Nizer também fez sua história no rádio e na política. No Vale do Iguaçu, integrou as equipes da extinta Top FM e Antena 1. Na TV, fez parte do início da implantação da TV Milenium em União da Vitória.

Aldair Nizer
Aldair Nizer

Já na política foi vereador em Porto União, na legislatura 2004-2008.

Atualmente, Aldair divide a sua rotina com o rádio na Rede Mar Azul FM 94,5, em Barra Velha (SC), além de ser Corretor de Imóveis.

TAMBÉM TENTARAM

Os locutores Gilmara Gaertner e Marco Aurélio – da Rádio União e 94 FM – também colocaram os seus nomes a disposição para ocupar uma cadeira nos legislativos do Vale do Iguaçu.

Gilmara Gaertner
Gilmara Gaertner

Ela, por União da Vitória e ele, em duas tentativas, uma em Porto União e outra em União da Vitória. Ambos não tiveram êxito em suas tentativas, mas agregaram a experiência e o contato com o ouvinte, consolidando os seus nomes na comunicação.

Marco Aurélio
Marco Aurélio

PELA REGIÃO

Beto Passos. (Foto: Portal Jmais).
Beto Passos. (Foto: Portal Jmais).

Gilberto dos Passos, o Beto Passos, é radialista e tem 39 anos. O candidato do PSD foi eleito reeleito prefeito de Canoinhas (SC) para os próximos quatro anos. Ele teve 56,03% dos votos, sendo 17.292 no total. O eleito afirma o orgulho de sua história na comunicação. “A facilidade na comunicação e o carisma fizeram com que eu passasse a realizar a animação de festas populares e eventos por todos os municípios da região”. Ainda jovem, trabalhou em Mangueirinha (PR) como locutor, repórter e até narrador esportivo.

Retornou a Canoinhas em 1996, passando a atuar na antiga Rádio Pantera FM. Em 2001 iniciou suas atividades na Rádio Clube de Canoinhas com um programa semanal. Integrou ainda o Programa Clube Comunidade, onde permaneceu como âncora por mais de 13 anos. Em 2015 se transferiu para a Band FM e passou a apresentar o programa Band Comunidade.

DO RÁDIO PARA A LIDERANÇA DO GOVERNO FEDERAL

Natural de Ponta Grossa no Paraná, Joice Hasselmann, 42 anos, ficou conhecida na sua trajetória da comunicação pelo tom ácido em seus comentários em programas de rádio e televisão. Comandou o projeto Paraná em Rede da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp) e também passou pela Rede Massa e RIC Record.

Joice Hasselmann
Joice Hasselmann

A partir daí a sua carreira deslanchou, chegando a apresentar o programa Os pingos nos Is, na rádio Jovem Pan em São Paulo. Com isso vem o convite para participar da política. Joice foi eleita pela PSL, como Deputada Federal por São Paulo, com mais de 1 milhão de votos. A parlamentar, foi a primeira mulher líder de um governo federal, no caso na gestão Jair Bolsonaro (sem partido).
Nessas eleições, foi o nome do partido na disputa perla prefeitura da principal metrópole da América Latina, a cidade de São Paulo. Na disputa para comandar a capital paulista, Joice conquistou 98.342 votos, ficando na sétima colocação, entre 14 candidatos.


POLÍTICOS TAMBÉM COMUNICADORES QUE MARCARAM A HISTÓRIA

Fernando Collor de Mello, por exemplo, além de político, é jornalista e já foi diretor do jornal Gazeta de Alagoas. Ele foi o presidente mais jovem da história do Brasil e o primeiro a ser eleito por voto direto do povo, após o Regime Militar, 1964 a 1985. Collor disputou o segundo mandato com Lula, e se elegeu com 50,01% dos votos, com 5,71% por cento de diferença. Seu mandato foi de 1990 a 1992.


LEI DAS ELEIÇÕES

A Constituição Brasileira possui diversas leis que restringem a candidatura de um político. Entre elas, está a chamada “Lei das Eleições”, número 9.504, criada em 30 de setembro de 1997, que impõe regras para a escolha dos candidatos pelos partidos e principalmente regulamenta a postura de veículos de comunicação e seus respectivos representantes para os cargos políticos. O artigo 45 do documento regulariza a conduta da mídia na divulgação das propagandas eleitorais e determina as restrições desses veículos na divulgação dos candidatos.