“É preciso avaliarmos o que queremos, um político gestor ou politiqueiro”, diz

Pedro Ivo abre a série de entrevistas iniciais das Eleições 2020

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Atualizado há 4 anos

Pedro Ivo Ilkiv, ex-prefeito de União da Vitória. (Foto: Arquivo).
Pedro Ivo Ilkiv, ex-prefeito de União da Vitória. (Foto: Arquivo).

Com alguns dias de atraso devido a pandemia e já passado o período de novas filiações para o calendário eleitoral deste ano, que até o momento está mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral; o Grupo Verde Vale de Comunicação começa a produzir conteúdos especiais voltados às eleições municipais de 2020.

Iniciamos este projeto entrevistando os principais nomes do cenário político de União da Vitória, aqueles que reconhecidamente já obtiveram o crivo das urnas e de alguma forma seguem como líderes de partidos importantes e que detêm franco espaço no debate político local.

Serão feitas 9 perguntas ao entrevistado. As questões serão elaboradas pelos jornalistas integrantes da equipe.

O primeiro entrevistado é o empresário, ex-prefeito e deputado estadual Pedro Ivo Ilkiw.

O entrevistado

Pedro Ivo Ilkiv, nasceu em Cruz Machado e foi um dos fundadores, em União da Vitória, do Partido dos Trabalhadores (PT.

Em 1994 concorreu pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) não sendo eleito. Dois anos depois, disputou a Prefeitura de União da Vitória, vencendo o pleito. Em 2002 foi eleito deputado estadual com 24.358 votos, destes 10.710 em União da Vitória e 2.438 em Cruz Machado, sua cidade natal. Em 2006, foi reeleito deputado estadual com 24.472 votos, chegando a assumir temporariamente a presidência daquele poder.

Em 2012 se elegeu novamente Prefeito de União da Vitória, em uma chapa até então pouco provável com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Não buscou a reeleição em 2016, voltando suas atenções para seus negócios ligados à produção leiteira, onde atua neste momento.

ENTREVISTA

Marcelo Maltauro – O senhor foi prefeito, deputado, presidente da assembleia legislativa, tem identidade e raízes ideológicas com o Partido dos Trabalhadores – PT. Sendo candidato e se eleito prefeito como pretende lidar com a administração municipal já que o modelo do PT de governar não se sustenta na conjuntura política atual?

Pedro Ivo – Gostaria de dizer que a população já me conhece. Já fiz dois mandatos de prefeito, fui deputado estadual, sabem que meu nome nunca esteve na lista daqueles que se corromperam ou que foram condenados pela Justiça. Continuo Ficha Limpa apesar de ter assumido várias vezes vários mandatos, e eu acho que a honestidade é o tema mais importante dessas eleições. Eu diria três assuntos que são extremamente importantes: honestidade, competência, e a experiência que é necessária para administrar num momento tão difícil como esse, onde as receitas estão cada vez menores e com essa pandemia; a economia não vai crescer, pelo contrário vai regredir. Então será um grande desafio e não podemos nos aventurar. Acho que é preciso escolher pessoas que sejam bons gestores, competentes e honestos. Quanto à questão partidária existem pessoas boas e pessoas ruins em todos os grupos políticos partidários. Você percebeu isso na Lava Jato, todas as correntes partidárias tinham pessoas envolvidas, assim como existem pessoas corretas também em todos os grupos políticos e a população precisa avaliar e conhecer a pessoa para garantir que se escolha realmente a melhor pessoa para o município.

Mariana Honesko – Pedro Ivo, o senhor entende que a devastação que a Lava Jato provocou no PT, culminando com a prisão do ex-presidente Lula pode prejudicar as suas chances na corrida eleitoral municipal? O que faz o senhor ser diferente do PT conhecido nacionalmente?

Pedro Ivo – A Lava Jato fez uma devassa em vários partidos políticos, não só no PT e pegou em todos os partidos coisas erradas. Vimos na gestão do Michel Temer o escândalo do pessoal correndo com mala de dinheiro pela rua. Vimos o presidente do Congresso Nacional Eduardo Cunha do PMDB, a irmã do Aécio Neves enfim, todas as correntes políticas partidárias foram envolvidas nesta investigação. Eu não quero aqui condenar nem absolver ninguém. Veja agora, na gestão do Bolsonaro esquema de Rachadinha nos gabinetes do filho do presidente. A justiça tem que apurar isso e quem deve tem que pagar. Agora, a população precisa observar que a pessoa que está se colocando como candidato, que ela tem um passado limpo, que ela seja correta. A honestidade é algo que trago de berço, meu nome nunca esteve nessas listas de pessoas que foram condenadas ou que se envolveram em corrupção. A discussão a nível municipal a pessoa tem que dizer como é que vai fazer a reciclagem de lixo, o que vai fazer na área da saúde, educação, pavimentação, área social, esporte enfim é uma discussão de assuntos que interessam muito mais à população. Prefeito tem que “prefeitar”, é o dia a dia que pode interferir na vida das pessoas.

Jaqueline Castaldon – O que representa para o país a liberdade do ex-presidente Lula?

Pedro Ivo – O Lula conseguiu a sua liberdade pelos meios legais. A justiça que o libertou não foi ninguém por gostar ou não gostar. A Justiça é a lei que é seguida pelo Poder Judiciário. Se for para mudar a lei que foi a discussão de prisão em segunda instância enfim toda aquela discussão, você tem que perguntar isso ao Congresso Nacional que faz as leis que são a nível federal.

Jaqueline Castaldon – Quais razões levam o senhor a colocar seu nome à disposição para disputar novamente a Prefeitura de União da Vitória?

Pedro Ivo – Na eleição passada não fui candidato à reeleição, fiz quatro anos no nosso governo e deixei muitos projetos em andamento, de extrema importância para a nossa cidade, como por exemplo o ‘Projeto Nosso Asfalto’ onde consegui construir um quilômetro de asfalto, não recape sobre calçamento, asfalto novo mesmo com base de aproximadamente um metro de pedra embaixo pra formar a base. Consegui fazer isso a R$ 680 mil o quilometro enquanto o mercado vendia entre R$ 1.200 milhão, R$ 1.500 milhão o quilometro. O projeto na nossa pedreira que está parado, os postos novos que consegui em frente ao estádio Antiocho Pereira, tinham o espaço da mulher e da criança, que quero realizar essa ideia que não teve continuidade. Quero abrir os dois postos de saúde do São Cristóvão com 24 horas de atendimento, pois já temos no Centro a UPA e precisamos ter um novo espaço aberto até para acabar com as filas durante a madrugada. Então tem uma série de projetos que ficaram para dar andamento e com a experiência que tive de duas gestões, acho que posso contribuir muito com a cidade nesse momento. Não saí candidato na última eleição, percebi que as pessoas queriam um novo. Em todas as áreas as pessoas quando escolhem para si próprio, escolhem o melhor mas, quando é para escolher um gestor municipal, como é o caso dessas eleições, muitas vezes entram em aventuras, sem conhecer o passado, a história, o que a pessoa já administrou, a experiência que ela tem como gestor. Tenho certeza que posso contribuir, com acúmulo de experiência, capacidade de gestão que tenho, posso fazer com que a nossa cidade ganhe com minha participação em mais um mandato.

Wannessa Stenzel – Como será o processo de escolha para quem vai integrar seu gabinete, secretários e subprefeitos? Já tem nomes? Quais?

Pedro Ivo – Primeiro, tem que ser uma equipe extremamente enxuta, em razão da conjuntura mundial e do nosso país em que a economia tende a não crescer, até pela pandemia e questões econômicas é preciso construir uma equipe extremamente enxuta. Penso que no máximo cinco ou seis secretarias, e cada uma com um diretor e um coordenador. Algo em torno de 20 cargos, somando secretários, coordenadores e diretores. Com uma estrutura extremamente enxuta não o que existe hoje, um organograma montado de gestões com mais de 100 cargos comissionados. Isso não tem lugar. A administração tem que ser muito leve e enxuta porque não há recursos para ter mais pessoas. Até porque minha experiência e aprendizado ao longo do tempo, me mostrou que é preciso conciliar o técnico e o político. Tive pessoas que eram extremamente técnicas, voltados somente ao assunto, burocratas que não tinham essa visão de escutar a população, de entender e ver o que as pessoas estão falando e até na maneira de responder a Câmara de Vereadores, onde muito muitas vezes já iniciava-se um atrito ali mesmo. O importante é conciliar o técnico com o político com o politicamente correto, não fazer politicagem. Dar respeito às autoridades, aos poderes Legislativo, Judiciário, Ministério Público e o relacionamento com a máquina pública. Isso precisa ter bagagem política. Mas reforçando: uma administração enxuta, focada naquilo que é a essência. Faremos uma gestão começando na própria aliança na coligação, não quero um grupo grande, com uma frente ampla de vários partidos, pois não quero ficar com compromisso com ninguém e ganhando fazer aquilo que tem que ser feito, com poucas pessoas bem qualificadas e também politicamente corretas.

Pedro Ivo. (Foto: Diorgenes Pandini / Agência RBS).
Pedro Ivo. (Foto: Diorgenes Pandini / Agência RBS).

Marcelo Maltauro – União da Vitória carece de empregos. Ao lado de outros municípios da região sul/centro sul do Paraná é o que menos detém renda entre outros fatores da economia. Qual seu plano para mudar esse cenário?

Pedro Ivo – A geração de emprego e renda é o grande desafio não só para os próximos quatro anos, mas, para o próximo século porque o capitalismo chegou no seu auge com fusão de grandes empresas, juntando várias em uma só. Há pouco tempo, as pessoas levavam lâminas e colocando no sol, secando em casinhas para fazer o compensado. Hoje, temos empresas como a Rigesa, que tem uma máquina, um robô, que pega uma árvore de pinus como se fosse um palito de fósforo, corta, descasca, carrega, a máquina entra na fábrica, circula por dentro sai compensado pronto. Houve uma queda no valor do emprego gigantesca, uma revolução silenciosa nos bastidores que poucas pessoas perceberam. O município não tem muita força de mudar esse quadro, porque depende da conjuntura mundial, não somente nacional. Mas, algumas coisas podemos fazer e na discussão do plano de governo é uma das coisas que acho fundamental e importante é chamarmos as nossas universidades (Unespar, Uniguaçu, Uniuv) e pensar em um estudo aprofundado, levantando as características de mercado, qual nosso potencial, um estudo minucioso. A ideia é não limitar as áreas de economia de empregos e geração de renda, mas, envolvendo o urbanismo, social e de geração de renda. Esse é o primeiro passo. Não podemos depender de uma gestão que começa e outra para é preciso um projeto de região, de município para os próximos 30 anos. Temos dentro das universidades um quadro espetacular, com engenheiros, veterinários, agrônomos, arquitetos e urbanistas, enfim em todas as áreas. Além de algumas políticas mais pontuais como por exemplo a incubadora de micro empresas. Há produtos, nichos de mercado para produtos que precisa ser trabalhado com as entidades como o Sebrae e Sesc Senac. Por que não utilizar a Fricesp que está parada para fazermos lá vários espaços, para que as empresas possam praticar por um período, não somente produzir. Em minha gestão passada o emprego estava a pleno vapor, não tínhamos engenheiros no mercado, tinham 200 mil caminhões parados por falta de motorista. As empresas de Chapecó traziam gente do Haiti para trabalhar. Então esse é um momento que requer ações mais pontuais e também um projeto de agricultura urbana. O agronegócio é um setor que está em expansão e tem campo principalmente para o ecológico. Então são algumas das medidas que acredito e durante a campanha eleitoral vamos poder aprofundar com mais detalhes.

Ricardo Silveira – Pedro Ivo, uma das dificuldades em nível nacional, para a execução de projetos, em alguns casos é falta de entendimento entre Prefeitura e Câmara de Vereadores (oposição). Qual seria sua postura, para evitar que os projetos sejam comprometidos por uma falta de entendimento?

Pedro Ivo – Não somente com a Câmara de Vereadores, mas com o Ministério Público, Poder Judiciário é extremamente importante e isso é uma questão de habilidade, treinamento e experiência. Aprendi muito que em minha primeira gestão faltou essa minha habilidade, na segunda aprendi bastante a dialogar e com tive um relacionamento excepcional com à Câmara de Vereadores. O que é o executivo, no caso o prefeito precisa fazer: em primeiro lugar tem que aprender a escutar, porque o papel que exerce geralmente conta com muitas pessoas ao redor, que não gosta de alguém, que bajula o outro e às vezes você fica ali mais próximo de alguém que fica tentando te influenciar o dia todo. Então se tem um problema, um outro lado, senta com ele, escute porque dessa forma pode tomar uma decisão a partir de ter dialogado. Então esse diálogo se faz extremamente importante e não só com a Câmara de Vereadores, mas também dentro da democracia com o Judiciário, Ministério Público para que as coisas aconteçam, caso contrária são travadas e muitas vezes a vontade é boa, a ideia também, mas o projeto não acontece pela falta desse diálogo e dessa humildade, para fazer as pessoas se entenderem, fazendo as coisas andarem. Estamos vendo isso a nível nacional, Senado, Câmara dos Deputados, uma série de jogo de interesse, tem que dialogar, não precisa se prostituir, negociar nada, mas o diálogo é extremamente importante.

Ricardo Silveira – No momento, pessoas preocupadas, muitas atividades paralisadas em razão do novo coronavirus. O senhor acredita que esse cenário pode trazer algum tipo de impacto para a eleição?

Pedro Ivo – Com certeza teremos um impacto muito grande, agora com a vinda do inverno devemos ter um pico de contaminação nos meses de julho ou agosto, muito próximo das eleições. É um momento de incerteza, talvez nem aconteçam as eleições. Mas, principalmente o impacto na questão econômica. Conversei com alguns empresários e falaram que estão agoniados em ter uma fábrica parada, bancando uma folha salarial com mais de cem funcionários. É um impacto muito negativo na economia, um impacto muito grande para aquele que depende e sai de casa diariamente em busca de um recurso para comer naquele dia e não tem para o seguinte. É uma situação muito grave. Os Estados Unidos serão duramente castigados na questão econômica, o impacto é incalculável e a nível de município precisa estar preparado para isso, saber o momento de recorrer ao Estado e Governo Federal. Saber quantos respiradores temos e vamos precisamos, abrir leitos, qual a população, tendo com base na média histórica que está acontecendo em outros lugares. Espero que isso esteja sendo feito esse planejamento e se não tiver recurso tem que buscar fora para atender principalmente nesse primeiro momento e salvar vidas.

Ricardo Silveira – O espaço para suas considerações finais.

Pedro Ivo – Quero dizer que no mundo da política existem aqueles que são politiqueiros, que a todo momento procuram ganhar voto a qualquer custo, não querem se queimar com ninguém, empurram com a barriga, enrolam as pessoas e vivem em função de ganhar votos. Existem também aqueles políticos que são gestores que muitas vezes têm atitudes quais sabem que vão perder votos, mas são atitudes necessárias para o futuro da cidade. Existe um ditado: não existe uma fórmula certa para o sucesso, mas, tem uma para o insucesso que é tentar agradar a todos. É preciso avaliarmos o que queremos para nossa cidade, um político gestor ou politiqueiro. Avaliar principalmente a honestidade, competência e experiência. Não há espaço para errar, temos queda da economia, um cenário difícil pela na frente, temos que escolher bons especialistas, bons quadros da nossa sociedade. E refletindo com a história, ao escolher um médico, ao entrar em um avião queremos o melhor, o mais experiente e o mais capacitado. Assim também é na política, vamos escolher aquilo que é melhor para o futuro da cidade. Agradeço a oportunidade, o espaço e um abraço a todos.