AGOSTO DOURADO: “Não existe leite fraco”, alerta

Em entrevista para o Grupo Verde Vale, a médica Loretta Campos, Consultora Internacional em Aleitamento Materno defende o alimento

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Atualizado há 5 anos

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução/Patrícia Checozi Fotografia).

Dar mama para o bebê significa qualidade de vida. E é comprovado pela ciência e de longe, deixou de ser coisa do passado ou do tempo das avós. Dados do Ministério da Saúde mostram que a mortalidade infantil por causas evitáveis em crianças menores de cinco anos, reduz para 13% quando os baixinhos são alimentados no peito. Para lembrar desse e de outros tantos benefícios que o gesto traz, a Semana de Incentivo à Amamentação acontece no Brasil e em outros 170 países nos primeiros dias do mês. Ao longo de agosto todo, a campanha de mobilização continua.

No País, 39 unidades de saúde serão habilitadas como hospitais Amigo da Criança. Isso significa que a pasta vai repassar a esses locais um total de R$ 11 milhões por ano para ajudá-los nas práticas que já adotam de incentivo à amamentação dentro e fora das unidades de saúde. ‘Capacite os pais e permita a amamentação agora e no futuro’, é o tema da mobilização neste ano.

O leite materno é considerado o alimento ‘padrão ouro’, por oferecer todos os nutrientes que o bebê – e a criança – precisa. De tão bom, o leite da mamãe é tido como uma vacina – a mais importante, e é oferecido assim que o bebê nasce. O aleitamento aconchega, aproxima mãe e filho e nas puérperas (mães que deram à luz há pouco tempo), o estímulo ajuda até na retomada do corpo, na reorganização do organismo. Por isso, embora seja recomendado até os dois anos, dá para dar mama até mais tempo. Depende de cada mãe, de cada situação.

A médica Loretta Campos, pediatra pela Universidade de São Paulo (USP), Consultora Internacional em Aleitamento Materno (IBCLC), falou sobre o aleitamento – e sobre a campanha que doura o mês – em entrevista à rádio CBN Vale do Iguaçu e que aqui, o jornal O Comércio reproduz, parcialmente. Conforme ela, não existe leite fraco.

 

No País, ações pró-aleitamento

Entre as ações para expandir a prática do aleitamento materno, o Ministério da Saúde pretende retomar levantamentos sobre amamentação para saber como ocorre o ato em todo o Brasil. A última pesquisa do gênero foi realizada em 2008. Além dessas ações, o Ministério da Saúde anunciou duas novas salas de apoio à amamentação no Distrito Federal: uma na Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outra no Ministério da Cidadania. Em todo o País, já estão credenciadas 228 salas de apoio à amamentação.

 

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Loretta Campos, Pediatra e Consultora Internacional em Aleitamento Materno (Foto: Reprodução).
Loretta Campos, Pediatra e Consultora Internacional em Aleitamento Materno (Foto: Reprodução).

Jornal O Comércio (JOC) – Agosto Dourado é o símbolo da campanha para o incentivo ao leite materno, é isso mesmo?

Loretta Campos (Loretta) – Sim. Esse mês marca esse incentivo. É uma campanha que reforça a importância do aleitamento para o bebê.

JOC – Existe muito o que se desmistificar sobre o aleitamento?

Loretta – Tem uma crença de que o leite não sustenta o bebê. Uma coisa que temos que saber é que o leite é próprio. Ele tem uma digestão mais rápida, faz com que o bebê solicite a mama mais rápido. Por mais que tenha essa demanda da mãe, tem benefícios. Menos cólica, desenvolvimento cerebral é diferente por conta de uma gordura que tem no aleitamento materno. Enfim, tudo isso faz com que a gente incentive o aleitamento.

JOC – Drauzio Varella afirma que somos mamíferos e que durante toda a história do homem na Terra, a mãe alimentava o filho no peito. Depois, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, isso foi sendo suspenso. Foi isso?

Loretta – A entrada da mulher com certeza mudou o processo um pouco e a campanha do leite em fórmulas, fez com que essa cultura de que o leite materno não sustenta, se enraizasse. Acredito que é preciso rever algumas coisas. Por exemplo, o aleitamento materno é incentivado até os seis meses, mas a licença dura apenas quatro.

JOC – Nem todas as mamães conseguem amamentar…

Loretta – Sim, a amamentação deve ser prazerosa. O que é feito com sacrifício, perde o objetivo do amor entre a criança e a mãe. Então, as vezes por conta de uma dor ou da falta de algo, é preciso dar apoio para essa mamãe. Não é fácil no início. O peito machuca. A mãe passa por um processo de adaptação da maternidade. Tudo isso tem que ser levado em conta. Caso ela não consiga, que a gente acolha essa nessa decisão, para que não tenha frustração.

JOC – Como cuidar do seio na gravidez para que na amamentação, tudo ocorra melhor?

Loretta – Quando você manipula muito a mama, é possível até tirar a proteção dele. Nossa orientação é de não manipular o mamilo, mas de procurar o médico, para que ele observe bem essa mama, dê uma orientação melhor.

JOC – É difícil amamentar um bebê?

Loretta – Sim. A gente vê a propaganda e imagina que seja lindo, maravilhoso, mas para acontecer isso, demanda de um tempo, tem que se querer muito. É abdicar do tempo, dedicar horas, lidar com a dor de um peito machucado, lidar com as angustias da nutrição. Fácil não é mas é super possível.