ÁGUA: Tornar potável é desafiador

Remoção de micropoluentes no tratamento convencional aplicado no País, preocupa os órgãos de saúde

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Atualizado há 5 anos

Desde a publicação das notícias sobre a contaminação da água que abastece as torneiras no pós-tratamento, uma onda de preocupação e discussões sobre o assunto marcaram debates, órgãos de vigilância sanitária e a imprensa.

Acontece que até o momento de abrir uma torneira, muitos processos acontecem. A maioria, são “invisíveis” à comunidade. Tecnicamente, eles envolvem a captação da água bruta (a água do rio ou de poço), o tratamento nas estações (feito pelas companhias de saneamento de cada Estado ou Município) e finalmente, a dispensação da água para a área urbana e rural. É um trabalho longo, intenso, caro e que nem sempre, que dá conta de toda a sujeira.

Por e-mail, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa/PR), respondeu às dúvidas da reportagem do jornal O Comércio sobre o assunto (veja quadro). Antes disso, porém, a equipe de jornalismo testou a qualidade da água servida nas torneiras. Por isso, fez uma experiência, particular de análise. Os resultados mostraram níveis satisfatórios.

Agrotóxico, a bola da vez

Foi o levantamento feito a pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MP) no começo deste ano, que colocou a qualidade da água em xeque. Conforme o estudo, foram encontrados resquícios de agrotóxicos na água fornecida no abastecimento público em 22 dos cem municípios sondados. Foram analisados 204 princípios ativos de agrotóxicos.

De 17 princípios encontrados na água que chega aos municípios monitorados, sete são proibidos na União Europeia. O município com a maior variedade de agrotóxicos na água foi Rio do Sul, com sete substâncias diferentes, mas 13 cidades apresentaram mais de um princípio ativo simultaneamente.

As amostras foram coletadas entre março e novembro de 2018, período de safras e cultivos, pelo Programa Alimento Sem Risco, do Centro de Apoio Operacional do Consumidor (CCO) do MP, em parceria com a Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (Aris) e a Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc). O monitoramento é realizado com recursos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL).

Controlando a qualidade

Conforme a Sesa, o controle da qualidade da água é feito a partir de parâmetros do Ministério da Saúde. Portarias e anexos especificas, doutrinam os índices e limites da contaminação. Acontece que, por conta do grande número de medicamentos, de defensivos e de outros produtos existentes no mercado – e lançados em alta velocidade – o filtro é ultrapassado, o tempo todo. Na prática, isso significa que o controle é feito apenas do que a Lei impõe. Tudo o que é além disso, não é “pego” nos exames laboratoriais. E é aí que se esconde o perigo – e os desafios dos órgãos de Saúde. No Paraná, a Sesa se manifestou sobre o assunto.

Jornal O Comércio (JOC) – Qual é a maior preocupação da Sesa em relação aos contaminantes?

Sesa – A maior preocupação são com os micropoluentes, incluso os agrotóxicos, medicamentos, protozoários, dentre outros de importância sanitária, que são de difícil remoção pelo tratamento convencional atualmente empregado no Brasil

JOC – Qual é a frequência do controle da água feita pela Sanepar?
Sesa – Depende do “parâmetro” a ser analisado, a Sanepar segue o que está preconizado na legislação brasileira vigente (é o anexo XX, da Portaria 2914/2011), para o parâmetro agrotóxico a frequência é semestral

JOC – As unidades regionais de Saúde, fazem o controle também?
Sesa – O setor saúde desenvolve ações de vigilância da qualidade da água através das equipes municipais e das regionais de saúde do estado, cumprindo um plano de amostragem e analise de água para paramentos básicos para: cloro; turbidez, flúor e colimetria. Além do que o setor saúde exige de quem produz água o cumprimento da legislação vigente e o fornecimento dos relatórios de controle que são alimentados no sistema de informação do SISAGUA.

JOC – No caso dos agrotóxicos, uma política maior de atuação no campo, usando os antigos programas – como o Manejo de Solo – não poderiam ajudar no impacto dos defensivos na água?
Sesa – Toda ação de conservação do solo é importante, mas o modelo agrícola desenvolvido no Brasil baseado na monocultura extensiva e utilização massiva de agrotóxicos expõe as fontes de água a esta contaminação.

JOC – Como é possível melhorar a qualidade da água?
Sesa – Através do esforço que devemos empregar na proteção e prevenção da poluição dos mananciais usados para abastecimento público de água


DÊ OLHO NA ÁGUA
De maneira informal, a reportagem do jornal O Comércio fez o teste da qualidade da água da torneira, fornecida pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). A coleta foi feita no dia 26 de abril, na cozinha do Grupo Verde Vale de Comunicação. O laboratório Cacar, de União da Vitória, assinou o laudo. Foram avaliados nove pontos e todos estão dentro os referenciais padrões.

Frasco coletado no laboratório foi aberto apenas a coleta: resultado não mostra contaminação (Fotos: Mariana Honesko).
Frasco coletado no laboratório foi aberto apenas a coleta: resultado não mostra contaminação
(Fotos: Mariana Honesko).

AGUA 03


Leia na integra

A portaria que norteia o controle da qualidade de água pode ser lido integralmente aqui.