CADA VEZ MAIS: Crianças e adolescentes estão engordando

Consumo de comidinhas rápidas e industrializadas, aliada aos maus hábitos à mesa, fazem com os quilos a mais aparecem – e cedo demais

·
Atualizado há 5 anos

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).

O Ministério da Saúde fez, há algumas semanas, um alerta: crianças obesas tem chances de virar adultos igualmente obesos. A afirmação, amparada por dados e estatísticas, marcou os eventos da Pasta em comemoração ao Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, lembrado no inicio do mês. Conforme o órgão, a consequência de obesidade na infância para a vida adulta é o aparecimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que podem matar precocemente no período de grande produtividade na fase adulta.

E foi justamente para discutir o crescimento da obesidade infantil no mundo, que representantes de vários países se reuniram na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em Brasília (DF). Ao participar do II Encontro Regional sobre ações de prevenção da obesidade infantil, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lembrou que a transição alimentar que aconteceu nos anos 70 e 80 contribui para a má nutrição das crianças de hoje. “Os alimentos deixaram de ser manipulados, deixaram de ser colhidos pelos pais, pelas famílias e passaram a ser alimentos processados e ultra processados. E nós não tivemos os filtros necessários, e agora estamos colhendo os resultados dessas mudanças tão súbitas dos nossos hábitos alimentares tradicionais”, disse.

De fato, os novos hábitos de consumo interferem para o aparecimento dos quilinhos a mais – e da formação de uma saúde nem tão boa. “Atualmente, o baixo consumo de frutas, hortaliças e leite, e o aumento no consumo de guloseimas, bem como a omissão do café da manhã, explicam por que o consumo alimentar tem sido relacionado à obesidade não somente quanto ao volume da ingestão alimentar, como também em relação à composição e qualidade do que consome. Biscoito recheado em especial, é um misto de açúcares e gorduras trans. Devido as crianças e adolescentes se alimentarem em frente à TV, não percebem a quantidade que comem”, alerta a nutricionista, Mauren Salvador.

Estudo recente aponta que crianças acima do peso possuem 75% mais chance de serem adolescentes obesos e adolescentes obesos têm 89% de chance de serem adultos obesos. Pesquisas do Ministério da Saúde indicam que 12,9% das crianças brasileiras de 5 a 9 anos são obesas e 18,9% dos adultos estão acima do peso. Por isso, além de centrar ações nos primeiros dias de vida, como o incentivo ao aleitamento materno, as políticas de estímulo ao hábito saudável devem aliar ações de alimentação e atividade física. E começar cedo, só faz bem. “A alimentação saudável deve começar a ser oferecida, a partir dos seis meses, quando inicia a alimentação complementar, não devendo ser oferecido açúcar antes de dois anos de idade. Pois os pais não percebem que seu filho está acima do peso, e reforçam a mamadeira com farinha, oferecem doces, para bebês, só procuram ajuda mais tarde, quando a reversão já fica mais difícil”, orienta Mauren.

E quem disse que lugar de criança não é na cozinha? Colocar os baixinhos ali, faz toda a diferença. Vendo a preparação dos alimentos, degustando o que é saudável, pode criar neles uma mentalidade positiva, que acerta na ora de escolher o que comer. “Estimular a preparação faz toda a diferença, desperta o interesse em experimentar aquilo que ele preparou. Portanto sempre que possível colocar as crianças na cozinha irá contribuir muito para que mudem seus hábitos”, completa a nutricionista.

O DNA da obesidade

O Ministério da Saúde começou a bater à porta de 15 mil domicílios brasileiros em 123 municípios que abrigam crianças menores de 5 anos. Esses lares foram selecionados para participarem do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), que busca mapear a situação de saúde e nutrição de crianças em todo o país, com informações detalhadas sobre hábitos alimentares, crescimento e desenvolvimento. Essas informações ajudarão na construção de políticas públicas e estratégicas de promoção da saúde.

Os pesquisadores que estão indo aos lares brasileiros estão identificados com camisas e crachás com o nome e a fotografia, além do logotipo do Ministério da Saúde. Assim que chegar no local, o entrevistador explicará os procedimentos e entregará um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com detalhes da pesquisa e orientações de como entrar em contato com a coordenação para tirar dúvidas, incluindo a opção gratuita de ligar para o telefone 0800 808 0990. A participação é voluntária e os dados são sigilosos.

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).
É gostoso, mas não é saudável

“O maior incentivo é o exemplo dos pais. Não se deve ter em casa alimentos que não são considerados saudáveis, pois desta forma fica mais fácil o acesso. Em algum momento irão ter acesso (comidas rápidas e refrigerantes), portanto não devemos ter em quantidades estocadas em casa. Determinar dias esporádicos para que haja o consumo, sempre limitando para que não faça parte da rotina alimentar. Se a base alimentar for saudável, não há problema que seja consumido quinzenalmente por exemplo”.