Campanha Setembro Verde alerta que famílias precisam ser convencidas

Ação sobre a doação de órgãos colocou a família em lugar de destaque

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Atualizado há 5 anos

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).

Conscientizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos e incentivar uma postura pró-ativa dos familiares foi a grande proposta da campanha, Setembro Verde. Setembro, que já se “vestiu” de azul, para lembrar o Dia do Surdo e de Amarelo, para a mobilização de prevenção ao suicídio, o verde completa esse arco-íris social e educativo.

SETEMBRO VERDE

A campanha é uma iniciativa é da ABTO que realiza anualmente no mês de setembro essa mobilização. O gesto é em apoio à Lei 15.463, de 18 de Junho de 2014. O documento instituiu o mês da doação e o batizou como ‘Setembro Verde’, uma comemoração ao dia 27, Dia Nacional de Doação de Órgãos

Por isso, em todo o País, atividades direcionadas marcaram o debate sobre o tema. No Grupe Verde (olha só mais uma coincidência) Vale, não foi diferente. O assunto foi destaque em uma entrevista na CBN e aqui, reproduzida parcialmente. Não é para menos: afinal, quando se trata de doação de órgãos, embora existam informações, ainda há preconceitos, medos, dúvidas e uma séries de “pés atrás”.

Converse com a sua família sobre doação de órgãos e manifeste seu interesse”, reforça o coordenador Estadual de Transplantes de Santa Catarina, Joel de Andrade, na entrevista (leia mais no quadro). No bate-papo, o profissional comentou sobre a Lei que tornou Blumenau a Capital Catarinense de Transplante de Órgão.

No Vale do Iguaçu, que ainda não oferece o processo de captação de órgãos em nenhum de seus três hospitais – São Camilo, São Braz e Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI) – há discussão do tema. De todo modo, toda comunidade pode participar do processo de doação e aí, quando as unidades hospitalares estiverem prontas, a captação poderá ocorrer com tranquilidade e com a consciência tranquila, de todo.

É que para ser um doador, basta querer. Querer e convencer a família desse desejo. E é convencer mesmo, pois um certo tabu ainda existe. Diferente do que já foi praticado, não é preciso deixar nada por escrito. Dados mostrados pela Agência Brasil em 2017, aponta que o número de doadores de órgãos no País bateu recorde no primeiro semestre daquele ano, em comparação com os seis meses iniciais dos anos anteriores. Foram 1.662 doadores, aumento de 16% em relação a 2016. Mesmo assim, o Brasil tem o desafio de informar e sensibilizar as famílias para que elas autorizem a realização de transplantes. Hoje, 43% ainda recusam a doação. A média mundial é de 25%, segundo o Sistema Nacional de Transplantes. Por isso, a fila de espera é grande.

Hospital Santa Isabel fica em Blumenau e é referência no Estado: cidade se tornou a Capital Catarinense de Transplante de Órgãos (Foto: Reprodução).
Hospital Santa Isabel fica em Blumenau e é referência no Estado: cidade se tornou a Capital Catarinense de Transplante de Órgãos (Foto: Reprodução).

De acordo com o portal ‘doeorgaossalvevidas.com.br’, a fila de espera por um órgão é bastante longa. São 60 mil pessoas aguardando um transplante. Os números podem ter a ver com a falta de informação sobre a doação. Também segundo o portal, “existe um desconhecimento sobre quem pode doar e o que pode ser doado. Isso dificulta a doação”. Por isso, a campanha Setembro Verde nasceu. A ação é do Ministério da Saúde, em parceria com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e que promove iniciativas para tirar dúvidas sobre o processo. A data é por conta da comemoração do Dia Nacional de Doação de Órgãos, lembrado no dia 27.

 

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ENTREVISTA

Jornal O Comércio (JOC) – Santa Catarina comemora o transplante realizado no final de semana, não é mesmo?

Joel de Andrade (Joel) – Não resta dúvidas. Era um paciente que precisava desse transplante. Foi algo planejado, apareceu um doador compatível e o transplante foi um sucesso grande, para a alegria de todos nós. Mais do que um procedimento, é uma marca de que o Estado caminha muito bem nisso.

JOC – O Governador inclusive transformou Blumenau na capital de transplantes de órgãos.

Joel – A cidade é a que mais faz transplantes do Estado. Só para se ter ideia, existem 1.300 pacientes transplantados de fígado em Blumenau. Além disso, no Hospital Santa Isabel, referência sólida, existe o transplante de pâncreas, um dos serviços mais ativos do País e também de coração. Não esquecer que ainda existem os transplantes de tecidos, de córneas. Nesse universo, Blumenau tem muito o que comemorar e a cidade deve isso muito ao Santa Isabel. O hospital é também um dos hospitais que mais doam órgãos no Estado.

JOC – Como ser um doador?

Joel – Se eu quero doar, podem autorizar a doação meu pai, meu avô, a esposa, filhos, irmãos e netos. Basicamente essa é a linha. Se eu quero doar, tenho que falar para minha família. A boa notícia é que não é necessário mais do que falar. Nunca testemunhei uma única família que sabendo que seu familiar era doador, se negou a isso. Eles honram a opção feita em vida.

JOC – Como dar em vida?

Joel – A doação em vida é usual e benéfica para a doação de rim, partes do fígado, do pulmão ou parte do pâncreas. Eventualmente, podem ser doados tecidos e medula óssea.

JOC – Como avalia a doação de órgãos no País?

Joel – O Brasil apresenta uma evolução muito grande. Em 2007, tínhamos cinco doadores por milhão de população. Hoje, são 20 doadores por milhão. A doação de órgãos se situa em pouco menos da metade do que dever ser aos melhores exemplos do País, que é Santa Catarina e o Paraná.

JOC – O que contribuiu para essa evolução?

Joel – A consciência das pessoas, a credibilidade, o entendimento do que é morte encefálica e o desenvolvimento de técnicas. As famílias são solidárias mas precisam ser bem tratadas.

 

SALVANDO VIDAS

Em Santa Catarina, os transplantes de órgãos vêm batendo recordes neste ano. A SC Transplantes registrou recorde na doação de órgãos em julho, com 34 procedimentos, além do melhor desempenho já registrado em um mês de fevereiro em 20 anos, com 24 doações de múltiplos órgãos.

No início do ano, o Governo do Estado colocou o helicóptero que atende o governador à disposição para transportar órgãos entre os hospitais catarinenses. Até julho deste ano, o Hospital Santa Isabel aparece em primeiro lugar em transplantes de fígado e rim no Estado, conforme dados da SC Transplantes. No domingo, 15, a unidade também foi destaque ao realizar um transplante inédito no Estado. Uma mulher de 35 anos recebeu, no mesmo dia, coração e rim.