Clínica de hemodiálise pode parar de funcionar

Estrutura é privada e funciona no Hospital São Camilo há 14 anos. Direção da Regional de Saúde afirma que procura solução

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Atualizado há 7 anos

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(Foto: Mariana Honesko).

Em uma Carta de Esclarecimento, a nefrologista Gisele Fernandes Furtado, proprietária da Clínica de Hemodiálise que funciona no Hospital São Camilo, em União da Vitória, pontua cenas de um capítulo, talvez, inevitável.

Conforme o texto, enviado à redação de O Comércio, bem como ao Ministério Público, à direção da casa de saúde e à 6ª Regional da Saúde, a clínica, tratada no texto como empresa, está à venda. Os avisos aconteceram ainda em outubro. Ocorre que a oferta não atraiu ninguém até agora. “Primeiro, oferecemos a clínica para a direção do Hospital, por questão até de respeito. Mas eles formalizaram que não têm interesse”, conta a médica.

A nefrologista não revela o valor que pede pela estrutura, mas explica que ela funciona em uma ala construída pela comunidade, a partir de doações, de gestos voluntários que duraram cinco anos, até sua conclusão. Pertence à clínica, contudo, o maquinário, a gestão dos 12 funcionários e o pagamento de duas empresas terceirizadas para o tratamento da água e das máquinas. “É uma empresa privada, mas intra-hospitalar”, descreve.

O anúncio da venda está também no site da Associação Brasileira das Clínicas de Diálise e Transplante (ABCDT). “Mas não houve procura nenhuma ainda”, conta Gisele. Conforme ela, a clínica está à venda por questões pessoais. A médica conta que está sem férias há 14 anos e que a exigência do trabalho – seis dias na semana – já a deixaram esgotada. “Estou cansada e por isso decidi vender. Vou voltar para Curitiba, continuar trabalhando, mas realmente a rotina é bastante puxada”, confessa.

A presença do nefrologista – especialista em rins – é indispensável, durante todo o processo, de todos os pacientes. A clínica tem 11 máquinas, atende mensalmente 46 pacientes: a maioria absoluta vem do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de encaminhamento médico e do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Iguaçu (Cisvali). Atende, portanto, toda a região da Amsulpar.

GrXXficoXHemodiXXliseComo prestadora de serviços, o espaço tem contrato com a Secretaria do Estado do Paraná. O documento vence em fevereiro do ano que vem. Caso haja renovação, o convênio dura mais cinco anos. “Tempo esse que não tenho condições de assumir, pois venho enfrentando problemas de saúde devido ao excesso de trabalho”, explica a médica na carta.

Por isso, a clínica está à venda. Caso não ocorra negociação até fevereiro, a hemodiálise não será mais ofertada no Hospital. E, sim, vai começar a peregrinação dos pacientes, algo desgastante, já que cada um deles precisa ser atendido três vezes por semana.

O chefe da 6ª Regional da Saúde, Henrique César Guzzoni, conhece a situação da clínica e garante estar preocupado com a continuidade do serviço na cidade. “Nós estamos procurando todos os caminhos para que a clínica fique aqui. É nossa obrigação atender os pacientes. Nós comunicamos o Estado, que está nos atendendo. Estamos procurando prestadores de serviços, vendo com Irati. Enfim, não vamos deixar ninguém desassistido, mas posso dizer que se não tivermos nefrologista, os pacientes serão transferidos”, diz.

A comunicação do “não interesse” na renovação do contrato com o Estado, assinado pela nefrologista, deixou uma margem de 120 dias de prazo, para o encontro de um meio termo.