DIA NACIONAL DE COMBATE AO FUMO: Neste ano, campanha aborda o uso do narguilé

No Vale do Iguaçu, consumo do produto ganha mais adeptos – e novas lojas para a compra de insumos. Inca faz alerta

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Atualizado há 5 anos

Consumo depende das essências, carvão, alumínio e tempo: produto pode ser consumido sozinho e em companhia  (Foto: Mariana Honesko).
Consumo depende das essências, carvão, alumínio e tempo: produto pode ser consumido sozinho e em companhia (Foto: Mariana Honesko).

Hoje, 29, é Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data, criada ainda em 1986, marca a divulgação de ações nacionais de combate e também traz dados que alertam para o risco da prática.

Neste ano, porém, a mobilização é um pouco diferente e não tem as tradicionais carteiras de cigarro estampadas em cartazes e material de divulgação. Em 2019, o uso do narguilé é o mote da campanha. O tema escolhido, ‘Tabaco ou saúde pulmonar – o uso do narguilé’, foca nos alertas sobre os riscos de doenças pulmonares frutos do consumo de tabaco e de seus produtos derivados, o que inclui o narguilé.

O alerta é considerado importante, já que no ano de 2008, a Pesquisa Especial sobre Tabagismo (Petab) mostrou que o Brasil tinha, à época, quase 300 mil consumidores do cachimbo de origem oriental.

“O narguilé possui uma característica peculiar: um único cachimbo pode ser usado por várias pessoas simultaneamente. Tal fato reforça o seu aspecto de socialização, algo muito atraente, especialmente para os jovens. Além disso, há a falsa sensação de que o narguilé, por ser usado com água, não causa mal à saúde”, pontua o material da campanha disponível na página do Instituto Nacional do Câncer (IncA).

Epidemia

O consumo do tabaco – seja no cigarro ou de outas maneiras – mata mais de oito milhões de pessoas por ano, das quais, cerca de 900 mil são fumantes passivos, segundo o Inca. Quase 80% dos mais de um bilhão de fumantes em todo o mundo vivem em países de baixa e média rendas, onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior.

Criado em 1986, o Dia Nacional de Combate ao Fumo reforça as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco

No Brasil, das mortes anuais causadas pelo uso do tabaco, 34.999 mortes correspondem a doenças cardíacas; 31.120 mortes por doenças pulmonares crônicas; 26.651 por outros cânceres; 23.762 por câncer de pulmão; 17.972 mortes por tabagismo passivo; 10.900 por pneumonia e 10.812 por acidente vascular cerebral (AVC) ainda de acordo com os dados do órgão.

Campanha

O lançamento do estudo, ‘A curva epidêmica do tabaco no Brasil: para onde estamos indo?’, que tem o objetivo de descrever as tendências temporais da taxa de mortalidade por câncer de pulmão observadas de 1980 a 2017 e estimadas até 2040, marcam o Dia Nacional de Combate ao Fumo no Inca.

A Pesquisa Especial sobre Tabagismo mostrou que o Brasil tinha em 2008 quase 300 mil consumidores do cachimbo de origem oriental

Elaborado pela Divisão de Pesquisa Populacional do Instituto, o estudo mostra que, em 2017, foram registrados 27.931 óbitos decorrentes da doença no Brasil. Para o ano seguinte, calculou-se a ocorrência de mais de dois milhões de casos novos e mais de 1,7 milhão de óbitos por câncer de pulmão em todo o mundo. Já em 2019, são estimados 31.270 casos novos de câncer de pulmão o Brasil.


Narguilé no Vale do Iguaçu

Há poucos meses, as cidades de União da Vitória e de Porto União vivem mais intensamente o consumo do produto. Pelo menos, três novas lojas que oferecem a degustação e os insumos, foram abertas. Uma das primeiras foi a Prime, na Avenida Manoel Ribas. A reportagem do jornal O Comércio conversou com o proprietário da empresa, para entender melhor o perfil de quem consome o produto, bem como para entender do que se trata o popular narguilé.

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A história do produto é mais antiga do que as lojas do Vale. De origem oriental, o narguilé chegou ao Brasil como recreação e logo caiu no gosto dos jovens, principalmente por conta das essências. Segundo o Ministério da Saúde, a faixa etária dos consumidores do produto é de 13 a 35 anos – e a maioria é homem.

Contudo, conforme Fábio Augusto Ribas dos Santos, da Prime, a venda dos produtos só acontece para maiores de 18. “Atendemos pessoas com mais de 60 anos, que não conhecem nada do produto, como pessoas que fumam há bastante tempo, que tem conhecimento até mais do que nós aqui”, conta.

Carvão superaquecido, um jarro para a água e essências são a base do narguilé. Degustar dele pode ser algo feito sozinho ou em grupos de até três pessoas. Quando acontece, esse momento é chamado de sessão. Uma caixinha de essência (cujo preço varia e pode ser comprado a partir de R$ 10, em média) dura até 50 minutos (se degustado em mais pessoas). É preciso ainda mangueira – ou várias, para compartilhar o consumo. “As pessoas fazem muitas amizades quando fumam juntas. Até namoro tem acontecido”, sorri Fábio.

As essências são a cereja do bolo do narguilé. É ela quem dá o tom da sessão. Tons adocicados, amargos e até com aroma de goma de mascar, são vendidos na tabacaria. E sim, a essência tem nicotina e alcatrão, por exemplo, compostos também encontrados no cigarro. A diferença é a concentração. “Todas as essências têm alcatrão de 0,05 por caixinha enquanto um único cigarro tem a mesma quantidade. E a água ajuda a diluir ainda mais isso”, defende Fábio.

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A forma de consumo também é diferente. No caso do cigarro, é preciso ‘tragar’ a fumar. Já com o narguilé, por conta do excesso de fumaça, essa dinâmica se torna impossível – logo, a inalação dos produtos nocivos, menor.


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Como mostrou recentemente O Comércio, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar. Para saber quais unidades de saúde oferecem o tratamento, a população pode obter a informação nos postos de saúde ou diretamente na Secretaria de Saúde do município.