É PROIBIDO FUMAR: 15 mil crianças salvas

Medida que restringiu hábito em ambientes públicos, garantiu saúde. Levantamento é do Inca

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Atualizado há 5 anos

Mesmo com as restrições, cigarro ainda faz vítimas: câncer de pulmão é o segundo mais frequente no País  (Foto: Arquivo JOC).
Mesmo com as restrições, cigarro ainda faz vítimas: câncer de pulmão é o segundo mais frequente no País
(Foto: Arquivo JOC).

A legislação brasileira que proíbe fumar em locais fechados e criaram ambientes livres de fumo pouparam a vida de 15,1 mil crianças de até um ano entre 2000 e 2016, segundo estudo apresentado no dia 31 – Dia Mundial sem Tabaco – no Instituto Nacional de Câncer (Inca).

A pesquisa ‘Legislação de Ambientes Livres de Fumaça de Tabaco e Mortalidade Infantil’, que envolveu instituições brasileiras e estrangeiras, foi apresentada durante a comemoração do Dia Mundial Sem Tabaco, na sede do instituto. O estudo foi apresentado pelo médico André Szklo, que representou a divisão de pesquisa populacional do Inca. Segundo o profissional, a criação de ambientes sem tabaco produziu uma queda média de 5,2% da mortalidade infantil nos municípios brasileiros. “As cidades com maiores taxas de pobreza e menores níveis de escolaridade foram as mais beneficiadas com redução da mortalidade infantil, mostrando como essa política ajudou a reduzir a desigualdade social”, disse.

Na prática, isso significou que: quanto mais abrangente a legislação, maior foi redução na mortalidade infantil; e a redução da mortalidade infantil foi maior em municípios com alta pobreza e menor nível educacional. O estudo demonstra que, de 2000 e 2016, a implementação das leis evitou a morte de 15.068 crianças com idade inferior a um ano, ou seja, reduziu a taxa de mortalidade infantil.

Os pesquisadores também concluíram que a redução da mortalidade infantil foi maior nas unidades da federação que implementaram leis mais restritivas, em relação às unidades com lei mais permissivas. “Antes da lei de ambientes livres, bebês e crianças inalavam fumaça de cigarro em qualquer lugar: shoppings, supermercados, salões de festa, transportes públicos, restaurantes. Os próprios pais e outras pessoas fumavam ao lado dos carrinhos de bebês, sem restrição. Agora, a exposição à fumaça do tabaco não ocorre mais nos locais públicos fechados, mas continua dentro das residências. Entretanto, outros estudos mostraram que a lei de ambientes livres também impacta, indiretamente, o fumo dentro de casa, por maior conscientização da população. E esse estudo constatou que o uso de tabaco diminuiu, até mesmo, entre gestantes, no período da pesquisa”, ressaltou Liz Almeida, epidemiologista responsável pela Divisão de Pesquisa Populacional do Inca e uma das autoras do estudo.

Outra conclusão importante foi que a redução da mortalidade infantil motivada pelas leis de ambientes livres do tabaco foi maior em municípios com alta pobreza e menor nível educacional. Uma possível explicação é a de que a taxa de mortalidade nessas regiões é mais alta, então os benefícios da legislação impactaram uma base maior e resultaram numa queda da taxa ainda mais acentuada. As leis provocaram, portanto, o desejável resultado da redução das desigualdades sociais no país ao diminuir as disparidades regionais do importante indicador da mortalidade infantil.

É proibido fumar

A proibição de fumar em lugares públicos fechados passou a valer para todo o país em 2014, mas, antes disso, alguns estados e cidades se anteciparam e fizeram leis com restrições totais ou parciais. Os pesquisadores apontam que, se desde os anos 2000, todo o País tivesse adotado a restrição de fumar em locais fechados, o número de vidas poupadas seria ainda maior, chegando a 25 mil.

Mesmo assim, ainda sobram motivos para comemorar. Essa foi a garantira da enfermeira da Gerência de Doenças e Agravos Crônicos (Gevra) de Santa Catarina, Adriana Elias. Segundo ela, em uma entrevista concedida à reportagem do jornal O Comércio e da CBN Vale do Iguaçu, “essa é uma oportunidade para aumentar a conscientização sobre os efeitos nocivos e mortais do cigarro e da exposição ao fumo passivo”. Para comentar o assunto, a Enfermeira da Gerência de Doenças e Agravos Crônicos (Gevra) da Dive, Adriana Elias, participou do Programa CBN Tarde de Notícias, nesta sexta-feira, 31, ao vivo, por telefone. “Sempre vale a pena parar de fumar em qualquer momento da vida”, afirmou (leia a entrevista no quadro).

Consumo diminui

Dados inéditos do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) e publicados na página do Ministério da Saúde, revelam que, em 2018, 9,3% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar. Em 2006, ano da primeira edição da pesquisa, esse índice era de 15,6%. Nos últimos 12 anos, a população entrevistada reduziu em 40% o consumo do tabaco, o que reforça a tendência nacional observada, ano após ano, de queda constante desse hábito nocivo para a saúde.

O Vigitel revela ainda que o perfil dos tabagistas vem mudando ao longo dos anos. A queda de uso do tabaco é significativa em pessoas de 18 a 24 anos de idade (12% em 2006 e 6,7%, em 2018), 35 e 44 anos (18,5% em 2006 e 9,1% em 2018) e entre 45 a 54 anos (22,6% em 2006 e 11,1% em 2018).
Efeitos

No Brasil, o Inca estima que até o final deste ano, sejam registrados 31.270 novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão em decorrência do tabagismo. O câncer de pulmão é o segundo mais frequente no País. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), mostram que 27.833 pessoas foram a óbito em 2017 devido a essa causa. Entretanto, as consequências dos cigarros não são apenas essas.

O número de mortes e internações é maior quando se considera que o tabagismo causa outras doenças. O Inca também afirma que a assistência médica associada ao tabagismo gerou, em 2015, R$ 39,4 bilhões em custos diretos. Além disso, a perda de produtividade associada ao hábito de fumar, no mesmo ano, chega a R$ 17,5 bilhões em custos indiretos devido às mortes prematuras e incapacidades.

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Entrevista

Jornal O Comércio (JOC) – O tabagismo é a principal causa de morte evitável?
Adriana Elias (Adriana) – Sim. Cânceres de pulmão, enfisema, e outras doenças de pulmão, além de outros canceres, como de boca, faringe e até o colo de útero, tem a ver com o hábito de fumar.

JOC – Quais são os dados em Santa Catarina?
Adriana – Em 2018, ocorreram 6025 óbitos por doenças cardíacas e mais de mil por doenças pulmonares crônicas e outras mil por neoplasia do pulmão.

JOC – A senhora disse recentemente que parar de fumar, sempre vale a pena. É isso mesmo?
Adriana – Sim, porque a parar de fumar sempre traz benefícios. Quando se para de fumar, após 20 minutos, a pressão sanguínea já volta ao normal. Em oito horas, o nível de sangue se normaliza. Após alguns dias, o olfato e o paladar vão ficando melhores. Em três semanas, a respiração melhorar e após um ano, o risco de morte é reduzido pela metade. Ou seja, os benefícios são rápidos e quanto antes parar, menos o risco de adoecer.