LIXO HOSPITALAR: Para onde vai tudo isso?

Restos de amputações, agulhas, curativos e muitos outros materiais, tem destino certo. Processo de separação e triagem também acontece no Vale do Iguaçu

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Atualizado há 5 anos

Agulhas usadas na vacinação, por exemplo, estão classificadas no grupo ‘E’: é lixo hospitalar (Foto: Mariana Honesko).
Agulhas usadas na vacinação, por exemplo, estão classificadas no grupo ‘E’: é lixo hospitalar
(Foto: Mariana Honesko).

É muito lixo jogado no lixo, e os “lixões” ainda são o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros. Os dados são do IBGE, que filtrou o levantamento entre os anos 2000 e 2008.

Embora o número seja expressivo, o levantamento aponta avanços: é que em 1989, o número de “lixo fora do lixo” chegava à 88,2%. As regiões Nordeste (89,3%) e Norte (85,5%) registraram as maiores proporções de municípios que destinavam seus resíduos aos lixões, enquanto as regiões Sul (15,8%) e Sudeste (18,7%) apresentaram os menores percentuais.

Muito mais do que entender que existem lixões à céu aberto no País, é “mergulhar” em todo seu conteúdo. São montanhas de lixo, um combinado de material orgânico com muitos quilos – muitos mesmo – de produtos passiveis de reaproveitamento.

Separam-se deste volume, por outro lado, o lixo hospitalar ou, os chamados resíduos dos sistemas de saúde. Embora seja um desafio, cuidar para que este tipo de material vá para o lugar correto, é uma das prioridades dos órgãos oficiais. E isso passa por legislações em todas as esferas, Federal, Estadual e Municipal.

Contudo, as orientações do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) norteiam o destino final destes materiais que, não são poucos e vão muito além de uma agulha usada para aplicar uma vacina ou para fazer uma tatuagem. Para onde você acha que vão, por exemplo, partes do corpo amputados, a placenta do pós-parto, os dentes extraídos no dentista? Todos os materiais são separados, organizados e separados em grupos (são cinco) de acordo com as resoluções do Conoma (veja box).

Em União da Vitória e Porto União, a Ecovale é uma das empresas que assina a coleta, transporte e o envio para a destinação final do lixo hospitalar. No Vale, empresas contratadas de maneira particular por quem “fornece” esse tipo de lixo, também atuam.

No caso da Ecovale, conforme o engenheiro ambiental Felipe Marcel Dalmas Kotwiski, a empresa tem seus clientes definidos. “Desde tatuadores, hospitais, clinicas veterinárias. Temos contratos com as prefeituras também, para coletar os resíduos do serviço de saúde e enviar para a destinação final correta”, conta. O material recolhido pela empresa é enviado para as cidades de Chapecó e de Canoinhas, ambas em Santa Catarina. Cada município – e as empresas terceirizadas pela Ecovale – trata e destina um certo tipo de resíduo, conforme sua classificação.

Caminhão da Ecovale em atividade no Vale do Iguaçu (Foto: Mariana Honesko).
Caminhão da Ecovale em atividade no Vale do Iguaçu
(Foto: Mariana Honesko).

“Para Chapecó, vai o material de maior risco biológico”, explica Felipe. Entra neste grupo, por exemplo, os membros amputados, desde que o dono dessa parte do corpo, ceda o material. “A resolução deixa claro que se uma pessoa teve um braço amputado, a pessoa lixoficar com essa peça anatômica, para sepultamento. Se ela não quiser, a gente faz o recolhimento. Peça anatômica e animais, são incinerados”.

Já em Canoinhas, a empresa recebe a coleta de produtos de risco leve. Entram no rol, por exemplo, medicamentos vencidos. O material é autoclavado, capsulados e ficam em aterro de resíduos especiais. “O tratamento dado é bem eficiente, e ai sobram cinzas. O volume do produto é reduzido em torno de 95%. A quantidade que fica no aterro, que são as cinzas, é muito menor”, observa o engenheiro.

Sangue “vencido” vai para o lixo

Bolsas de sangue duram 42 dias no estoque: depois disso, precisam ser descartadas  (Foto: Mariana Honesko).
Bolsas de sangue duram 42 dias no estoque: depois disso, precisam ser descartadas
(Foto: Mariana Honesko).

As doações de sangue seguem padrões e limites. O Banco de Sangue de União da Vitória, por exemplo, recebe uma quantidade suficiente para abastecer as eventuais demandas de todas as unidades de saúde que atende. Por isso, os estoques não ficam no limite, mas também não chegam no nível da “sobra”. Isso acontece justamente para evitar o desperdício. O sangue doado tem validade e quando a data é ultrapassada, precisa ser desperdiçado.

“Os hemocomponentes tem validade especifica. A bolsa de plaquetas vale apenas cinco dias, por exemplo. A bolsa de sangue, 42 dias. Os tipos sanguíneos menos utilizados as vezes precisam ser descartados. A gente segue a portaria do Ministério da Saúde e outras legislações. O sangue, considerado de risco biológico, é coletado por uma empresa e faz a destinação final. O sangue entra na classificação A e antes da destinação final, tem todo o tratamento final”, explica o farmacêutico responsável pela unidade, Alessandro Savi. Na unidade, o Estado mantém o contrato e a certificação do trabalho.

Quem paga a conta?
Por conta de todo o processo para destinação final, as despesas são custeadas pelo gerador do lixo de saúde. Hospitais, estúdios, consultórios e farmácias e toda uma lista de endereços, pagam o valor do tratamento dos resíduos. “Os resíduos tem um custo maior que os soldos urbanos, porque são perigosos e tem um tratamento diferente”, pontua Felipe.


CLASSIFICAÇÃO

Grupo A: componentes contendo agentes biológicos e que apresentam risco de infecção

Grupo B: substâncias químicas que apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente

Grupo C: materiais resultantes de atividades com radionuclídeos (radiação) em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)

Grupo D: os componentes desse grupo não apresentam nenhum tipo de risco à saúde ou ao meio ambiente, sendo equivalentes aos resíduos domiciliares

Grupo E: materiais perfurocortantes (como agulhas)


Coleta seletiva aumenta

Ainda conforme o IBGE, os programas de coleta seletiva de resíduos sólidos aumentaram de 58 identificados em 1989 para 451 em 2000 e alcançando o patamar de 994 em 2008. O avanço se deu, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste, onde, respectivamente, 46% e 32,4% dos municípios informaram ter programas de coleta seletiva que cobriam todo o município.

Os municípios com serviço de coleta seletiva separavam, prioritariamente, papel e papelão, plástico, vidro e metal, sendo que os principais compradores desses materiais eram os comerciantes de recicláveis (53,9%), as indústrias recicladoras (19,4%), entidades beneficentes (12,1%) e outras entidades (18,3%).