OUTUBRO ROSA: “Não sou menos mulher”, afirma paciente mastectomizada

Gilmara Gaertner contou sua experiência após o enfrentamento do câncer de mama e a retirada de um dos seios

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Atualizado há 5 anos

(Fotos: Mariana Honesko).
(Fotos: Mariana Honesko).

Ela é um exemplo. Sem cerimônias, fala sobre o câncer, mostra a cicatriz no peito, conta sua história. Irreverente, essa é Gilmara Gaertner, funcionária pública aposentada e que na carreira carrega a experiência de ter atuado como locutora da extinta Rádio União e mais recentemente, da 94 FM.

‘Gil’ contou sua experiência de enfrentamento do câncer de mama no programa CBN Tarde de Notícias que neste mês, aborda na programação os vários momentos do Outubro Rosa, campanha que tem a prevenção como mote. Perguntada sobre estar sem um dos seios, Gilmara é direta e firme. “Não ter a mama não me faz menos mulher”, diz, convicta (leia as principais partes da entrevista no quadro). O bate-papo flui assim, leve, franco e informativo.

“O câncer é só um câncer. Pode matar, sim. Mas quem disse que uma dor de cabeça também não mata? O importante é não ter medo e rir, rir das pequenas coisas. Não brigo nem com as minhas dores. Põe na mão de Deus”

O Outubro Rosa busca a conscientização das mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dos cânceres, especialmente o de mama, que figura entre os principais no caso “delas”. A versão corresponde a cerca de 25% dos casos novos a cada ano.

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Entrevista

Jornal O Comércio (JOC) – Conte sua história de câncer para nós.
Gilmara Gaertner (Gilmara) – Fazem quatro anos e meio. Senti mais medo no doutor. Senti que ele não tinha como me dizer, mas gente, qualquer diagnóstico que se receba, a única coisa que você tem que ter é esquecer o medo.

JOC – Você teve sintomas?
Gilmara – Sim, mas quando não tinha mais jeito. A mastectomia total, radical, como foi o meu caso, é sério. Mas assim, me tenham como exemplo. Eu tinha o nódulo há mais de dez anos. Ai, fui levando. Com 15 anos, não teve mais jeito. O tumor estava crescido, tinha uns seis centímetros.

JOC – O que é a mastectomia?
Gilmara – A retirada do seio, do sistema linfático e do sistema glandular das axilas.

JOC – Sua vida parou nesse tempo?
Gilmara – Não, mas mudou, bastante. Na rádio eu sempre falava muito que é preciso aceitar a situação e quando você faz isso, tudo fica mais fácil e natural. Mas mudou quase tudo. Já não me sinto mais ligada no 220v. O câncer muda a tua vida. Não tem dúvidas. Mas assim, aceita a mudança e fica fácil. A memória vai embora um pouco, não dá para levantar todo o peso de antes.

JOC – Como se levantar após a notícia do diagnóstico?
Gilmara – Fica fácil falar de mim. O câncer é só um câncer. Pode matar, sim. Mas quem disse que uma dor de cabeça também não mata? O importante é não ter medo e rir, rir das pequenas coisas. Não brigo nem com as minhas dores. Põe na mão de Deus.

JOC – A fé ajuda?
Gilmara – Eu voltei mais para Deus nesse período. Eu era a católica de ir de vez em quando na igreja. Agora é diferente e foi graças a Deus que consegui vencer. Nossa vida é de Deus. Então, qual é o problema de tratar um câncer?

JOC – O que uma pessoa diagnostica com o câncer escuta no consultório?
Gilmara – Eu tinha pego o resultado e quando aparece linfoma, você pensa que é algo sério. Mas, e daí? É só um linfoma. As pessoas complicam muito. Não compliquei o meu câncer. Nunca fiquei nem triste.

JOC – Como ficou tua autoestima após a retirada de um dos seios?
Gilmara – É estranho no começo. Já tenho pouco seio e tirar ainda!? Levei tempo para superar, mas tive que me adaptar. Comecei a usar blusa mais larga. Nem sutiã uso (risos). Só que parei de namorar, viu? Uma vez que eu voltei à igreja, não vi mais sentido nesse lado sexual da vida. Eu optei por isso. Mas não tem nada a ver com isso (com a retirada do seio). Vou a praia, uso biquíni, um lado fica cheio e o outro não e okay, tudo certo.

JOC – Embora quem tenha feito a mastectomia levam a vida sexual normal.
Gilmara – Absolutamente! Com certeza levam.

JOC – E ficar careca, como foi?
Gilmara – Confesso que eu gostava muito de ser careca. Odiava lenço, tiara. A falta de cabelo é até charmosa. Por duas vezes passei a máquina no cabelo para ficar como eu estava no tratamento.

JOC – Qual é o seu maior ensinamento?
Gilmara – Viver cada dia de cada vez. Nunca chorei sozinha por causa do câncer. E digo, não se entregue para o câncer. Tem cura e você precisa querer essa cura.