São três jovens. O do meio, ao pular, dá a deixa para que os dois colegas que estão ao seu lado, passem uma rasteira. Sem equilíbrio, o jovem do meio cai, de costas, batendo a coluna e a cabeça. Estão aí os elementos que batiza a “brincadeira” que viralizou: quebra-crânio e desafio da rasteira.
Acontece que de engraçado, o desafio não tem nada. Ao contrário. Além de escrachar o bulling com quem cai, coloca em risco a vítima. E o risco é real. Uma menina de 16 anos, por exemplo, morreu após participar do desafio. A jovem bateu a cabeça no chão da escola onde estudava, sofreu traumatismo craniano, foi socorrida pela direção do colégio e encaminhada ao hospital, mas não resistiu e morreu.
O caso ocorreu em novembro de 2019, mas só se tornou noticia há poucos dias, junto com a divulgação de sua “inocente” causa de morte como alerta aos pais e professores.
Para a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) essa queda brutal no chão, pode causar lesões irreversíveis ao crânio e na coluna vertebral. O órgão diz ainda que o que parece ser uma brincadeira inofensiva, é gravíssimo e pode terminar em morte. O ortopedista André Luís Sebben, reforça o alerta.
“A principal lesão é o traumatismo crânio-encefálico, que pode ocasionar lesões intracranianas com hemorragias, que podem causar sequelas e até a morte de quem caiu”, afirma.
“O principal problema é que o jovem acaba não reagindo na hora da queda e quando a rasteira é dada, isso impulsiona a queda. Com isso, podem ocorrer ainda fraturas ou luxações na coluna. Isso pode ocasionar até tetraplegia”.
O médico alerta que é preciso conversar com as crianças e adolescentes sobre o tempo. Às escolas, o conselho do profissional é para coibir a prática, com atitudes de orientação e prevenção.
Vale do Iguaçu
As secretarias municipais vêm fazendo um trabalho de alerta sobre o perigo do desafio nas escolas. Até o momento, nenhum registro foi feito nas duas cidades, conforme informaram os secretários da Educação.
“Os professores e toda equipe escolar precisam agir preventivamente, estando mais atentos e conversar mais com seus alunos. Principalmente ensinar a empatia e cuidado com o outro. É necessário que a equipe pedagógica fique atenta à ocorrências e brincadeiras carregadas de preconceito entre os alunos e observar se as crianças apresentam alguma marca estranha no corpo, identificando a violência física”, lembra o chefe do Núcleo Regional da Educação (NRE), Carlos Polzin.
O professor lembra que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira incentiva a promoção de “ações destinadas a promover a cultura de paz”, como resultado de um ambiente interno que vise nortear e orientar os membros da comunidade escolar com o objetivo de coibir esse tipo de “brincadeira”.
Brincadeira do bem
Quase imediatamente após a divulgação dos vídeos que mostram o desafio, jovens de todo o Pais e de varias escolas, outros vídeos também viralizram. Só que por fazer o caminho inverso. O pulo do jovem do meio é interrompido pela mensagem narrada pelo trio. Embora com textos diferentes, a mensagem é idêntica: ‘amigos não tem fazem cair, te ajudam a levantar’.
Assim, a ‘modinha’ que pode até matar, também mobilizou as redes e escolas, mas de uma maneira positiva. Com “vídeos do bem”, estudantes aproveitam o tema para falar sobre respeito e empatia.