Henrique Levi Ferreira nasceu há exatamente uma semana. Assim que veio ao mundo, mamou. Foi alimentado diretamente com leite do peito. Mãe do segundo filho, Cristiane Ribeiro Ferreira, 36, defende o gesto. “É o alimento mais saudável. É tudo”, sorri, esquecendo por alguns momentos as dores do pós-parto. “Amamentei ele assim que veio para o quarto. Ele é meio preguiçoso, mas mama”, brincou. Cristiane trouxe agora a experiência do primeiro filho: sua menina mamou até os oito meses, seis, exclusivamente do seio materno.
Aliás, essa é a recomendação dos médicos para o aleitamento: apenas o leite no primeiro semestre de vida e depois disso, com a inclusão de alimentos, até os dois anos ou até quando a mãe quiser. “Toda mãe tem leite”, garante a pediatra, Gislene Borille. Conforme a médica, o leite demora para “descer” depois do parto mas vem, é um antidoto natural e fortalece os vínculos entre mãe e filho. O prazo para essa descida varia conforme o tipo de parto. No geral, o leite vem em quantidade interessante a partir das primeiras 48 horas de vida do bebê. “Tem que ter paciência. As vezes o leite demora três, cinco dias para descer. Não dá para se desesperar”, orienta.
Se o parto já desgasta a mãe, problemas em casa, traumas, situações de estresse e falta de acolhimento na família, podem dificultar o aleitamento. Em casos mais sérios, o leite seca. “Sempre falo para as mães para não ficar nervosa. Tem que ter apoio da família, acolhimento. Acontece que tem muita cobrança para cima da mãe e ela fica frustrada. Demora, o neném chora. É difícil mesmo”, explica Gislene. “A gente vê que quem tem o apoio da família, o aconchego, o aleitamento vai melhor”, completa.
Assumir que algo está errado pode ser difícil. Por isso, jogar a culpa para a qualidade do leite, é mais fácil do que dizer que ele simplesmente não existe. “Não existe leite fraco. Todos são iguais. Acontece muito de a mãe não conseguir amamentar. Aí ela diz que o leite é fraco. Tem que arrumar uma desculpa para não admitir o que houve mesmo. Todo leite é igual, de toda a mãe”, afirma a pediatra.
Mas, para dar uma forcinha no processo – além de estar tudo ok em casa – algumas dicas facilitam. Uma delas é a ingestão de líquidos: quanto mais, melhor. E não precisa ser apenas aquelas receitas caseiras, das vovós – embora funcionem. Água, chás, leite, enfim, tudo o que a mamãe pode beber, “junta” leite.
Até quando?
O Ministério da Saúde recomenda o aleitamento exclusivo até o sexto mês do bebê. Depois que ele começa a se alimentar, até os dois anos, aproximadamente. Entretanto, a decisão de parar é da mãe. “Tenho paciente que tem cinco anos e está mamando. Desde que a criança coma, está bom. Se isso não corre, tem que tirar do peito”, explica.
SEM COMPLICAÇÃO
A mastite – mamas inflamadas por conta do excesso de leite – é bastante comum. O peito dói, incha, a mãe tem febra altíssima e alimentar o bebê é uma tarefa difícil nestas condições. De acordo com a pediatra, dá para evitar a mastite, assim como dá para controlar fissuras nos bicos, outro problema comum. Essas dificuldades e algumas outras se resolvem simplesmente a partir da pega correta. Isso mesmo: quando o bebê abocanha toda a aréola – e ele consegue fazer isso, mesmo bem pequeno – o aleitamento está correto.
“É uma sequência de situações que tem se trabalhar com a mama, até antes do bebê nascer. Tem que ter técnica correta mesmo. Sentar retinha, com ombros relaxados e pés confortáveis. Barriga com barriga. Mão de bailarina no seio”, ensina. De qualquer maneira, é a mãe e filho quem vão se conhecendo e encontrando o jeito certo de estarem próximos. Em caso de dúvidas, vale consultar a equipe de enfermagem e, por que não, as vovós.