SETEMBRO AMARELO: Ouvir sem julgamento pode prevenir suicídio

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Atualizado há 7 anos

Encontro lotou o auditório da Acipu
Encontro lotou o auditório da Acipu

“Minha vida é ruim”. “Eu sou um lixo”. “Sou um peso”. “Queria sumir”. Estas são algumas das frases que, embora possam apenas significar que o dia não foi muito bom ou que aquele projeto não deu certo, escondem uma vontade maior. Quem conviveu com quem tirou a própria vida, entende bem o peso destas e de outras expressões parecidas.

Trocando estas experiências e focando na prevenção ao suicídio, a primeira Mesa Redonda sobre o assunto, reuniu equipes de Saúde e de Ação Social para uma tarde de muito debate. Foi ontem, no auditório da Associação Empresarial de Porto União (Acipu), em uma iniciativa do Centro de Atenção Psicossocial (Caps). A ação marca a última semana da campanha Setembro Amarelo, mobilização nacional que tem a prevenção ao suicídio como bandeira. “A gente só consegue fazer uma prevenção efetiva se a gente capacitar os profissionais. É um tema que todos têm muita dúvida”, justifica a coordenadora de entidade, Deise Dembinski Melo.

Coordenadora do Caps, Deise Dembinski
Coordenadora do Caps, Deise Dembinski

Saber ouvir foi o grande ensinamento do encontro. E essa escuta começa com o que Deise classifica como base da estrutura: os agentes comunitários de saúde. É o grupo que, por estar todos os dias nos bairros, de casa em casa, reconhece a necessidade dos moradores e pode reconhecer quem realmente precisa de ajuda. “Justamente pelo estigma do suicídio, as pessoas não falam sobre isso. As vezes até as equipes tem uma atitude julgadora, de crítica. Isso corta o canal de comunicação, quando a pessoa não consegue mais falar sobre o assunto. É preciso aprender ouvir a pessoa”, confirma o psicólogo do Caps, Klaiton dos Santos. Para ele, esse corte na comunicação, pode terminar, fatalmente, com a morte precoce de alguém. “Capacitar as equipes e também ouvir o que elas têm de dificuldade, incrementam a Mesa Redonda”, completa.

A Mesa Redonda contou com a participação de profissionais locais e um convidado, da cidade de Irati (PR). Eles falaram sobre os sinais dados pelo suicida, sobre a necessidade de saber ouvir e também sobre como a família pode lidar com o luto, tão difícil e incomodo.

Os sinais

Conforme a Mesa Redonda, pessoas com problemas mentais, como bipolaridade, depressão e esquizofrenia, por exemplo, tem maior tendência ao suicídio. Doentes crônicos, com enfermidades severas, também.

Para psicólogo da entidade, saber ouvir é a grande ajuda
Para psicólogo da entidade, saber ouvir é a grande ajuda

Mas, mais do que isso, os propensos ao suicídio deixam escapar sinais. Além de soltarem frases negativas, onde se colocam como “peso”, eles se isolam e começam a se desapegar de objetos e pertences que para eles, tem valor emocional. Quem tem poucos vínculos afetivos, também corre mais risco: é que como não há quem as escute, a chance de se entregar à dor emocional é maior.

SETEMBRO AMARELO

É uma campanha mundial que ocorre em todo o mês de setembro, para prevenção de suicídio. No Brasil, foi iniciada em 2014. A ideia é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio, e divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão. Em Minas Gerais, desde fevereiro de 2017, o Setembro Amarelo foi instituído em Lei Municipal para informar, esclarecer, conscientizar, envolver e mobilizar a sociedade civil sobre um assunto considerado tabu. No Brasil, a campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).