DÊ OLHO NA TELINHA: Brasileiros ficam tempo demais em aplicativos

País é o terceiro do mundo onde as pessoas mais passam tempo nas plataformas. Mas, será que ficar online tanto tempo é bom?

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Atualizado há 4 anos

(Foto: Reprodução).
(Foto: Reprodução).

Dados divulgados no começo do ano pela consultoria App Annie mostram que as pessoas estão cada vez mais “on” na vida virtual. Automaticamente, é mais tempo “off” da vida real. Conforme o estudo, as pessoas passaram três horas e 40 minutos, em média, utilizando aplicativos (os populares ‘apps’) em 2019. O índice é 35% maior do que em 2017.

O Brasil ficou na terceira colocação no ranking dos países em termos de tempo gasto em apps, levemente acima da média, com três horas e 45 minutos.

O País é superado pela China, onde as pessoas estão conectadas durante quase quatro horas, e a Indonésia, onde o tempo diário chegou a quatro horas e 40 minutos. Em seguida, vêm a Coreia do Sul (3h40) e Índia (3h30).

Na comparação entre 2019 e 2017, a China obteve a maior ampliação (60%), seguida pela Índia, o Canadá e a França (25%), a Indonésia (20%) e o Brasil, a Alemanha, Coreia do Sul, o Japão e Reino Unido (15%).

No recorte por idade, a chamada geração Z (nascida entre 1997 e 2012) passou três horas e 46 minutos por app por mês e teve 150 sessões por mês nos principais aplicativos.

download anual de aplicativos cresceu 45% nos últimos três anos: saiu de 140 bilhões em 2016 para chegar a quase 204 bilhões em 2019. No Brasil, esse aumento foi de 40%, atingindo cerca de 5 bi no ano passado. Entre as nações, o maior aumento no período foi da Índia: 190%.

tecnologia-brasileiros-dados (1)Será tempo demais?

Para a psicologia, passar muito tempo conectado pode trazer conseqüências sociais, emocionais e até mesmo físicas. Estudos já mostram que os olhos e até mesmo a pele, por conta da luz emitida pelo aparelho, são afetados. Coluna e até o estômago, também são suscetíveis aos danos. Em um segundo momento, mas nem de longe menos importante, aparecem os sintomas afetivos. “A geração mais velha, de 40, 50 anos, é mais resistente à essa dependência, porque não nasceu na era do celular mas os adolescentes, a grande maioria, já desenvolve isso. O celular é um mercado para tudo. Tem tudo por ali, comida, medicamento, app de transporte”, comenta a psicóloga, Daniele Janiewski. “As facilidades que os aplicativos nos trazem faz com que façamos tudo mais virtualmente”.

Para a profissional, o uso excessivo pode desencadear ainda quadros de depressão, especialmente porque na rede social, por exemplo, as pessoas postam o que chama de “fragmentos de suas vidas”. “E é só coisa boa e você que não esta nessa vida, que imagina aquilo, se sente um fracassado. A gente se fantasia de que a vida do outro é maravilhosa”, comenta. A ansiedade também pode ser desencadeada a partir do uso em excesso, já que no mundo virtual, tudo é instantâneo – na vida real, não. “Sem contar que os estímulos de cores, de movimento, também podem afetar o cérebro e deixar ele mais ativado, com adrenalina, que nos deixa mais ansioso”. Outro aspecto negativo é que o uso continuo pode comprometer a capacidade de memória e de concentração.

E a lista não pára. Quem usa o celular muito próximo na hora de dormir ou até mesmo já na cama, deitado, pode ter o sono afetado.

“Não que o celular seja negativo. Ele nos traz muita facilidade mas o excesso é o que preocupa. Tem uma pergunta bem interessante que pode ser respondida por nós e ver se estamos dependentes: ‘como você se sente quando a bateria esta acabando e você está sem bateria?’”, pontua Daniele.

Na contramão de todos os prejuízos apontados pelo uso constante, há soluções e boas idéias. Por exemplo: já pensou em usar o bom e velho despertador no quarto ao invés do celular? Ou, que tal desativar todas as notificações do aparelho? “E que tal usar aplicativos que limitam teu uso no celular? Existem alguns que sim, que ‘seguram’ o uso do aparelho. O próprio antídoto está ali contra o veneno do uso em excesso”.

tecnologia-brasileiros-dados (2)CONTEÚDO

Os apps de finanças foram acessados um trilhão de vezes em 2019, um crescimento de 100% na comparação com 2017. O Brasil também ficou em terceiro no ranking desse tipo de programa, atrás apenas da Índia e da China.

Mas enquanto alguns países já têm a maioria de acessos em carteiras virtuais (China e Coreia do Sul), no Brasil e em outros (como Indonésia, França e Alemanha) as transações digitais são realizadas em sua maioria por apps de bancos. Os apps mais baixados nessa categoria foram Nubank, FGTS, Picpay, Caixa e Mercadopago.

O Brasil seguiu na terceira colocação também no ranking do crescimento em tempo gasto em apps de compras, atrás da Índia e Indonésia.

Entre 2018 e 2019, os brasileiros ampliaram em 32% a sua presença nesse tipo de ferramenta. Os apps mais baixados com essa finalidade foram Mercadolivre, Americanas, Magazine Luiza, AliExpress e Wish.

A colocação foi mantida também no caso dos apps de entrega de comida. O número de sessões nesse tipo de ferramenta entre os usuários daqui foi de oito bilhões, ficando atrás dos Estados Unidos (10 bi) e da Indonésia (20 bi).

Nas aplicações voltadas ao entretenimento, o Brasil ficou em 7º lugar no ranking de crescimento entre 2018 e 2019, ainda assim com um índice de 32%.

Investimentos

De acordo com o que publicou sobre o tema a Agência Brasil, os gastos com aplicativos aumentaram 110%, passando de US$ 55 bilhões para US$ 120 bilhões no mesmo período. Os jogos são responsáveis por 72% do faturamento. A China aumentou 190% nos últimos três anos, chegando a acumular 40% do mercado mundial. Em 2019, foram gastos US$ 190 bilhões em publicidade em dispositivos móveis. Neste ano, a projeção da consultoria é de que essa movimentação chegue a US$ 240 bilhões.