Não é permitido, mas acontece. O trânsito pesado de caminhões vem deixando sem dormir os moradores de Porto União, entre a Avenida João Pessoa e a rua Coronel Amazonas, especialmente entre a Apae e o Colégio São José, todos os dias, a partir das 4 horas da madrugada. Usando as vias como desvio para acessar a BR 280, a frota pesada usa estes horários discretos da fiscalização para poder alcançar a rodovia em tempo breve.
A reclamação é da comunidade e vem ganhando força e formalização. Um abaixo-assinado virtual já está em circulação. Segundo o documento, além do sono ser interrompido, a pista vem sofrendo danos. “Solicitamos a fiscalização e a implantação de canteiros no início e no final das determinadas ruas que possam restringir a entrada de caminhões e carretas pesadas”, diz o texto. O documento será encaminhado para a Polícia Militar (PM) e Prefeitura de Porto União.
Instalada no local há muito tempo e com uma estrutura antiga, a Apae de Porto União fica no meio do caminho de todo esse trânsito. A direção endossa a reclamação da comunidade, relatando problemas no atendimento provocados pelo excesso de barulho dos motores e frenadas. “O movimento é intenso, especialmente no começo da manhã e logo após o almoço. Antigamente tínhamos uma lombada em frente da Apae, era pior! Tiraram a lombada, mas mesmo assim, toda a lateral da nossa estrutura treme quando passa um caminhão pesado. Além disso, quando estamos no telefone e passa um caminhão, não se escuta nada. Temos autistas que aguardam atendimento na recepção e o barulho os incomoda que chegam até a perder o controle”, relata a diretora da instituição, Lorena Scheffer Redolfi. O trânsito acaba atrapalhando, também, as sessões de psicologias, mais delicadas e suaves, realizadas nas salas que ficam de frente para a avenida João Pessoa. “Neste momento, não temos para onde mudar estes ambientes. Então, atrapalha muito”.
A ala da Educação Infantil do Colégio São José fica de frente para a Apae e também sente os impactos do trânsito de caminhões. Conforme a direção, além do barulho, a presença dos grandes veículos acaba até mesmo sendo perigosa em momentos de entrada e saída de alunos. O receio é pelo atropelamento das crianças. A direção comenta ainda que já notou que nem mesmo a velocidade dos 20 km/hora, orientado para as regiões próximas de escolas, é respeitada por alguns motoristas de caminhões, o que amplia o receio da comunidade escolar.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura disse que o convênio com a PM foi encerrado e sendo assim, não há o que ser feito, já que é a instituição, a Polícia, a responsável pela fiscalização e aplicação de multa (se for o caso). Por outro lado, o setor de Trânsito da companhia militar, explica que tem ciência do fato, mas atribui a falha dos motoristas a um comportamento iniciado ainda no Paraná.
De fato, é preciso voltar alguns quilômetros para entender o porquê os caminhões de alta tonelagem acabam transitando no centro de Porto União. A maioria dos veículos entra na cidade a partir da ponte Domício Scaramella, em União da Vitória, vindos da BR 476. Ocorre que na saída da estrutura, a indicação é bem clara: caminhões com tonelagem acima de 23 mil quilos, obrigatoriedade precisam pegar à esquerda, pela Bento Munhoz da Rocha Neto. Seguindo por essa via, os caminhões vão acessar a BR 280 já no bairro São Pedro, na avenida João Pessoa, em Porto União. O caminho é mais longo e possivelmente por isso, descartado por quem precisa chegar até à 280: quem opta pela direita ainda na Domício Scaramella, chega em um tempo muito menor na rodovia, ganhando tempo e combustível.
A PM de União da Vitória diz não ter conhecido de dados robustos sobre infrações de trânsito no local, mas se comprometeu em apurar o fato a partir da publicação dessa reportagem.
Até lá, o despertador dos moradores da região da Apae/São José é substituído: do relógio ao som dos motores.