A liderança delargada

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Atualizado há 6 anos

Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac
Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac

A liderança é um tema que sempre me atraiu. E sem dúvida é um dos temas mais discutidos e controversos do mundo moderno. Principalmente quando o assunto é delegar. E esse é o objeto do meu texto, pois penso ser a parte mais difícil e ao mesmo tempo mais interessante da liderança.

Este é um artigo de opinião, e de fato, minhas opiniões muitas vezes são pouco ortodoxas. fiquem a vontade em discordar. Mas convido vocês a esta reflexão: Nós líderes somos mesmo tão essenciais para o trabalho cotidiano de nossa equipe?

Eu tenho o prazer e a tranquilidade de ter equipes autônomas trabalhando sob a minha liderança, e sempre reflito sobre o que leva essas equipes a se portarem desta forma. Seria eu um bom líder, um bom “delegador”?  Cheguei a conclusão de que a minha atuação em alguns casos, mais atrapalha que ajuda, então comecei a usar outra estratégia… a de “delargar”.

Ora, mas como controlar a equipe desta forma? A questão é exatamente essa. O controle pode levar a equipe a dependência do seu líder e inibir a criatividade. Outro efeito colateral do excesso de controle é a sobrecarga do líder, que acaba trabalhando para equipe, e não o contrário. E como delegar é difícil, as vezes o melhor é deixar a responsabilidade para a equipe, com um nível mínimo de interferência. E como isso é difícil! No início chega a doer o estomago, de tanta ansiedade. Porém o resultado é sempre melhor do que o esperado, a despeito dos temores.

E porque isso acontece? A resposta simples é que nós líderes não somos tão bons quanto pensamos que somos. Nossa cabeça, nossos conhecimentos, nossas capacidades são limitadas pela nossa experiência de vida e tendemos a colocar isso como norte para as ações da equipe, ignorando as capacidades individuais.

Pois bem, isso é uma maluquice! Contratamos alguém pelas habilidades diferentes, pelas competências que apresenta e quando a pessoa entra na equipe, queremos que faça exatamente do jeito que faríamos. Com o tempo, teremos um grupo com a cara do gestor. Isso é confortável, sem dúvida, gera menos angústia na hora de conduzir o grupo e a tranquilidade de saber exatamente o que esperar da equipe. Mas o ônus é muito grande. Perdemos os talentos individuais, as surpresas que estas pessoas trazem com novas ideias e propostas inovadoras.

É preciso medir o quanto estamos dispostos a correr riscos e até onde poderemos consertar possíveis erros que a equipe possa cometer, quando deixamos que conduzam seu próprio trabalho. Na maioria das vezes o esforço em resolver um problema causado por uma decisão errada de uma equipe autônoma é muito menor do que a perda em ter uma “equipe padrão”, que fará apenas o que o líder espera.

Eu sei que não é fácil, e nem digo que o controle deve ser extinto. Muito pelo contrário! O que eu proponho é colocar a energia do líder para controlar variáveis realmente importantes, coordenar a estratégia e confiar que os seus liderados conquistarão os resultados esperados e acordados, mas sem limitar as inúmeras formas de atingi-los.