Artigo: Loucura em estado de choque

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Atualizado há 10 anos

Por Vanderlei Woytowicz 

Somos todos loucos, sejam quais forem os motivos, que sejamos loucos para sempre. Pudera as pessoas esquecidas em grandes casas, cercadas de ignorância, coberta pelos preconceitos, soubessem sobre o direito da vida que lhes era negada, infringida, sabotada. Os trens anunciavam a chegada dos ditos “loucos”, que despontavam na estação, era uma multidão que os cercavam e não sabiam ao certo pra onde iriam depois que descessem os degraus. Viveram uma vida encarcerados, sobre um céu que nunca os abandonou, mas o mundo já não os lembrava mais, um prato de comida e dois comprimidos pra lucidez eram o que tinham. Não podiam nada, a não ser respirar.

Inspiravam medos e expiravam sofrimentos, todos os dias. Grades pra loucura não fugir, cadeados pra sensatez não existir, e assim os dias eram aprisionados dentro de um quarto na relva dos sonhos apanhados. Paredes emboloradas e o chão rachado, eram nada mais que o próprio espelho dos inocentes, mostrava a alma em nevoeiros escuros que se desprendiam vidas pra liberdade do céu, depois da morte. Vida extinta, vida que não se vivia.

Corredores longos que levavam pra hora do choque, que ocorria no fluxo da maldade e no despertar da brutalidade, presos sob uma cadeira velha, a tortura se instalava, o cérebro dos inocentes gritavam por piedade, mas ninguém os ouvia e o próximo já se aproximava, e era chegada a hora do outro. Reclusos e sem direitos, se é que houvera algum, enquanto o número de pessoas não-normais aumentava e se expandia nas catedrais de pavor. Camisas de força bradavam nos corpos que existiam de pessoas ausentes e sem desejos, recobriam os ombros, os braços e as mãos em desespero, enquanto a loucura ria dos pobres mutiladores, fardados de pobreza.

Manicômios tatuados de tudo que existe de pior, em formas terríveis de manuseio da vida do próximo, que necessita tanto do cuidado e aproximação sincera. Que olhemos para o passado como forma de nunca, jamais, em hipótese alguma reproduzir um replay da crueldade de seres humanos para com os seres da mesma espécie.  A chamada loucura ainda existe neles, com um diferencial, um corpo que sangra e os olhos que choram cenas que não esquecem.

O corpo nu que andava nos galpões recobertos de angustia, hoje foi coberto pela manta da esperança, do verde que alegra e faz crescer árvores internas, que se enraízam onde querem estar. Que possamos aceitar a própria loucura e, nos tornemos consciente da loucura do outro, porque somos sombras passageiras e, a lou-cura pode trazer a cura. Que sejamos loucos bem aventurados, para todo o sempre.

Vanderlei Woytowicz é acadêmico do curso de Psicologia da Fundação Universidade do Contestado – FunC Porto União