A teoria das janelas quebradas e o ensino por competência

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Atualizado há 7 anos

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Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac Porto União

A teoria das janelas quebradas é um interessante estudo social elaborados pelos pesquisadores James Wilson e George Kelling, ambos da universidae de stanford, nos Estados Unidos. Foi elaborada a partir do experimento de deixar dois carros idênticos em bairros diferentes da cidade. O primeiro, com algumas avarias, ficou em um bairro pobre e o outro, sem nenhuma avaria, ficou em um bairro nobre. Inicialmente o carro que estava no bairro mais pobre foi imediatamente vandalizado enquanto o outro continuou intacto.

A parte interessante do experimento começa aqui. Os pesquisadores quebraram um dos vidros do carro e fizeram pequenas avarias. A partir daí o carro começou a ser roubado e vandalizado.

E o que isso tem a ver com a educação? Na minha opinião, tudo. Quando o aluno se depara com espaços escolares com carteiras riscadas, cadeiras quebradas e desconfortáveis, banheiros inadequados e outras situações adversas, a mensagem que estamos passando é de falta de zelo e descuido. O jovem observador vai considerar a manutenção daquilo que encontra e reproduzir o comportamento de descuido e até mesmo de vandalismo. Mas se este mesmo jovem encontrar um ambiente adequado, limpo e organizado, o mais provável é que considere não o vandalizar. Você leitor poderá me dizer: “Ora Eliéser, sempre tem um abençoado que coloca o pé na parede e deixa a marca de tênis lá!”. Sim, é verdade. Mas se esta marca for apagada todos os dias, dia após dia, teremos sempre apenas a mesma marca, até que o “carimbador” desista, pois seu ato não frutifica.

Da mesma forma ocorrem as relações sociais em sala de aula e em todo ambiente escolar. Se o aluno encontrar desinteresse, falta de cuidado e ausência de ética nas relações com seus professores e seus pares, repetirá esse comportamento. E foi nesse ponto que o ensino por competências me pegou.

O modelo pedagógico do ensino por competências, além de tratar de forma integral o aprendizado e não apenas em um momento de avaliação formal escrita, a popular “prova”, traz em seu cerne avaliar o aluno também pelas suas atitudes e seus valores. Isso significa que este aluno pode ter excelência técnica, pode ser o maior detentor do conhecimento proposto, mas se não tiver atitude condizente com a formação pretendida e sobretudo se não desenvolver os valores necessários para ser um bom profissional e cidadão, ele não alcançará sua aprovação.

Para um técnico oriundo da obscura, mística e complexa área de informática, este modelo, quando me foi apresentado, era uma espécie de sacrilégio. Mas quando decidi me tornar um educador, me comprometi com a mudança. Parafraseando Nelson Mandela, como posso esperar mudar alguém se não sou eu mesmo capaz de mudar minhas convicções?

Ainda vivemos em um local privilegiado, onde os educadores resistem e lutam pelo ensino de qualidade, muitas vezes dificultado por toda a burocracia que sucateia nossas escolas e os recursos escassos que impedem a sua manutenção. Mas é preciso que nos perguntemos se estamos fazendo o suficiente. Jogar toda a culpa pelo desinteresse e falta de atitude nos alunos é simplificar demais esta relação. É preciso olhar em volta e identificar que janelas estamos deixando quebradas, quais os comportamentos que estamos descuidando. Quais as atitudes para as quais estamos fechando os olhos. Quais os valores que estamos deixando de cultivar nos nossos educandos.

Eu sei que não é fácil. É uma luta diária. Mas o que eu teria de melhor a fazer, do que formar um cidadão?

Eliéser Lourenzzetti, diretor do Senac Porto União