Viva a Liberdade!

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Atualizado há 7 anos

O recente entendimento do Supremo Tribunal Federal de que a decisão final sobre afastamento de parlamentar cabe ao próprio legislativo, é sem dúvida nenhuma a opção mais democrática e bela que a vida em sociedade poderia desejar. Ela deposita na mão e na consciência de cidadãos eleitos pelo voto da população e exercendo poder por ela conferido; a decidir, usando também critérios políticos, sobre o encurtamento, cerceamento ou mesmo término do mandato de um semelhante.

Difícil imaginar melhor exemplo de prática democrática e vontade popular do que esse.

Porém na sequência e já executando esta prerrogativa, o Senado novamente decidiu não punir um igual. Mas isto era previsto obviamente, já que todos se consideram seres iluminados. Todos perfeitos, inteligentes e capazes de governar a nação. Aécio Neves se considera tão iluminado quanto Lula e este como todos os outros ocupantes das nobres cadeiras. O que esperar de um parlamento cujo Conselho de Ética não é capaz nem mesmo de aplicar uma simples censura, particular que fosse, às senadoras que ocuparam a mesa diretora da casa de leis e simplesmente impediram que ela cumprisse sua razão de existir?

A bussola moral dos ocupantes deste picadeiro está tão afetada que não são mais capazes de perceber que a leniência e elasticidade de suas convicções tem dado prova inequívoca de que perdemos a capacidade de distinguir o certo do errado; algo fundamental em qualquer democracia.

Este comportamento tem feito escola com uma diferença básica: em uma ponta estão os corruptos milionários e na outra os ladrões de galinha, porém ambos são ladrões e os praticantes desta arte seguem crescendo e assumindo formas mais elaboradas.

Em sociedades mais desenvolvidas nos critérios como educação, cultura, ética e civilidade; indivíduos tem caráter suficiente para assumir erros, falhas e condutas ilícitas inclusive. Não são a maioria obviamente, mas existem. Em certos casos e dependendo do grau de responsabilidade chegam a se suicidar. Em países do ocidente, altos executivos pegos com a mão na botija se atiram de prédios para encerrar as discussões e proteger ao máximo suas famílias de vexames ainda maiores. No oriente, se pratica o haraquiri ou suicídio de honra, abrindo o próprio ventre mas também evitando vexames maiores.

Aqui, a desfaçatez dos discursos vazios de qualquer sentimento ou fundamento, não mais ressoa; porém, mesmo assim, como atores capazes de simular emoção seguem apresentando seu espetáculo a cada dia com menos plateia. Dispostos a ficar em pé sobre as cinzas do país, preferem reinar no caos a renunciar a qualquer cargo que seja. Seguem em presidências e em palanques incapazes de convencer sequer seus pares.

No mundo artístico, situação como esta tangeria inexoravelmente no encerramento do espetáculo por falta de fundos. No mundo político, o dinheiro nunca acaba e seus privilégios seguem sendo corrigidos, em cascata; independente do resultado. Em ambos os mundos o trabalho não remunerado, altruísta, abnegado, benevolente; seria aplaudido efusivamente.

Que fique claro: a incoerência não se encontra na decisão do STF, tão brilhantemente representada pelo voto final e de minerva da atual presidente Carmen Lúcia. Ela jaz no orgulho e na vaidade dos poderes que se enclausuram em si próprios e não servem ao país, apenas aos seus.

Caique Agustini

Diretor Executivo do Grupo Verde Vale de Comunicação