Batuta na mão, para dançar e tocar conforme a música

Para se manter de pé, corporações musicais do Vale do Iguaçu reinventam-se e continuam abertas para o ingresso de novos músicos

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Atualizado há 7 anos

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(Foto: Arquivo).

A matéria deveria começar com uma sonora onomatopeia. Mas, esta figura de linguagem é muito melhor quando “lida” ao vivo. Melhor ainda quando após ela vêm intensos aplausos e gritos para mais um pouco. O glamour vivido nos palcos pelas bandas e orquestras não é exatamente sinônimo do que acontece no cotidiano delas. É que por trás da beleza e da harmonia musical, existe trabalho duro, dedicação, voluntariado, abnegação. Em contrapartida, o apoio público nem sempre – ou quase nunca – vem. Não raro, maestros e músicos trabalham de graça, sacrificam seus dias de descanso e acabam até investimento seus próprios recursos para manter a estrutura de pé.

E apesar de tantas dificuldades, as corporações locais têm conseguido sobreviver. Embora União da Vitória e Porto União tenham muitos grupos do gênero, especialmente nas escolas, esta reportagem fala sobre três delas, talvez as mais populares. São elas: Banda Emilio Taboado Diez, Orquestra Show e Banda Sinfônica do Instituto Sempre Incentivando Música (SIM). Todas estão abertas para receber novos músicos, e até quem quer aprender a tocar um instrumento musical. E todas, de novo, compartilham de uma vida de esforço em uma região um tanto árida no contexto cultural. Dançam e tocam, conforme a música.

Banda Emílio Taboada Diez

A história da composição se confunde com a própria vida do professor Raulino Bartolini. Filho de Jaraguá do Sul (SC), ele herdou a batuta da banda mas, na verdade, recebeu com ela a missão de dar sequência ao trabalho bem feito do próprio Emilio Taboada. Era dele a banda, Lira do Iguaçu, uma composição histórica que durou cerca de 40 anos. Ocorre que junto com a morte de Diez, a composição desapareceu na década de 70.

RaulinoXBortolini
“Ser músico é uma coisa, ser regente é outra” – Raulino Bortolini

Aí, no começo dos anos 80, o então prefeito de União da Vitoria, Gilberto Brittes, depois de ver a atuação de Bortolini na Banda Marcial Túlio de França, sentiu um pinguinho de inveja: ele queria uma nova banda municipal. “Na época o presidente da Câmara de Vereadores era o Décio Pacheco. E ele também brigou pela criação da banda”, lembra Bortolini.

Ele foi convidado para assumir a missão, logo, a regência. Fez curso para maestro, em uma capacitação oferecida pela Secretaria de Estado da Cultura. “Éramos 18 maestros do Estado. O curso foi dado pelo maestro aposentado da banda dos fuzileiros navais do Rio de Janeiro. Fiz um curso de um mês que realmente me fez entender a regência. Ser músico é uma coisa, ser regente é outra coisa”, ensina.

A nova banda começa a ser formada. Na época, os primeiros membros eram os músicos da extinga Lira do Iguaçu. Mas eram poucos. Nesse mesmo momento, o Vale do Iguaçu recebeu como morador Valdecir Maia, que havia sido maestro em Rio Negrinho (SC). Ele veio, porém, para aturar em bandas privadas, de outro contexto. “Acabei conversando e ele topou ensinar os músicos novos, mas nunca quis reger a banda”, conta.

Nascia ali, no início da década de 80, a Banda Municipal Emilio Taboada Diez, fazendo homenagem ao maestro da Lira. A composição tem estatuto, Lei Municipal, regulamento. E uma longa trajetória de sucesso. Por se tratar de uma banda musical, ela faz “barulho”, é versátil, toca na rua, em locais fechados, em praças, em ambientes públicos. Toca para gente simples, para gente elegante.

Bortolini, que entregou a batuta para o músico Alceu Zonta em 2011, comandou a banda por 30 anos. Durante este tempo todo, cumpriu uma agenda extensa, com, em média, 20 apresentações no ano. De algumas, o sempre maestro lembra com saudade. “Em 7 de setembro de 81, já tínhamos condições para o desfile. Saímos pela primeira vez. Logo depois, já estávamos em Bituruna, na inauguração de um ginásio de esportes. Não tínhamos nem repertorio”, sorri.

O tempo passou, os músicos evoluíram e a banda era quase presença obrigatória nas solenidades de recepção a governadores e outras autoridades. Hoje, a banda segue aberta para novos músicos. Nem precisa saber tocar, tampouco, ter instrumento próprio: basta ter vontade. “E dentadura boa, para poder tocar”, brinca Bortolini.

ENSAIOS E INGRESSO

O professor Alceu ministra aulas todos os dias. Nas segundas e quartas, é à tarde. Já na quinta, de noite e nas terças e sextas, pela manhã. No sábado, tem ensaio geral, com todos os músicos. Novos integrantes são aceitos, a qualquer momento. Os ensaios acontecem onde sempre aconteceram: nas salas ao lado da antiga Autarquia Municipal de Esportes (AME), no Estádio Antiocho Pereira.