CASO RECÉM-NASCIDO: Conselheira Tutelar relembra acompanhamento do caso

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Atualizado há 10 anos

Por Mariana Honesko

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Isabel abraçou a causa: carinho pelo bebê motiva visitas diárias à APMI. (Foto: Mariana Honesko).

Aos 42 anos Maria Isabel Scistowski dedica pouco mais de dois anos ao trabalho quase sacerdotal no Conselho Tutelar de União da Vitória. E é quando lembra do final do seu plantão de segunda-feira que as lágrimas vem ao rosto, em abundância. O choro é fácil e a dor parece ser de quem realmente não acredita no que presenciou. “Foi a mais decepcionante causa atendida por mim até agora”, resume.

A referência é para o episódio que ganhou a mídia local. Às 5h30 do primeiro dia útil desta semana, um bebê foi encontrado pelo casal Genoveva e José Maria Vieira, morador do Bairro Rio d’Areia, zona Sul de União da Vitória. “Graças a Deus que ele foi deixado no alto, pelo menos isso. Ele é um guerreiro, já sobreviveu a isso tudo”, afirma Isabel comovida.

Segundo ela, o bebê não estava em uma manta, como mencionado pela imprensa, inclusive por O Comércio. A situação de acondicionamento era muito pior. “Eram trapos. Parecia lençol e uns pedaços de cobertor”, lembra a conselheira. “Foi muito decepcionante”, completa.

Pedido de ajuda

Isabel estava de plantão desde o domingo. Ele terminaria às 8 horas de segunda-feira. Nos primeiros raios de sol, porém, foi informada pela Polícia Militar (PM) sobre o encontro inesperado. “Quando me ligaram, falaram em criança abandona. Eu imaginei outra coisa, bem diferente do que vi. Jamais imaginei que era um bebê, recém-nascido”, conta.

O menino, ainda sem batismo e nome, estava com parte do cordão umbilical, sangue no corpo todo e batimentos acelerados. “Fiquei muito preocupada porque nem o choro do bebê saia direito. Fiquei com medo, achei que não daria tempo de levá-lo bem para o hospital”, detalha.

Foi neste momento que Isabel foi tomada pela impulsão e, por segundos, achou conveniente levar o bebê, sozinha, para o atendimento. Era o drama da espera, castigado pela cena. “Os bombeiros demoraram um pouquinho para chegar e eu queria levar o bebê sozinha mesmo. Fiquei bem dividida”, diz. Logo, porém, a ambulância chegou e salvou o garotinho. Ele foi levado para a Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI). Lá, foi atendido pelos médicos e encaminhado para a incubadora da UTI neonatal.

O quadro clínico segue estável, ainda sem previsão de alta. Isabel, que chama o bebê de seu, por nato carinho, visita a unidade hospitalar todo dia. Duas vezes por dia. “Espero que isso tudo sirva de exemplo e a que a mãe seja penalizada. É uma vida. O bebê merece a justiça”, desabafa.

Polícia segue em busca de pistas

Desde segunda-feira a Polícia Civil de União da Vitória trabalha na investigação da mãe e das condições do abandono. Conforme o delegado da 4ª SDP, André Vilela, uma linha de investigação já está em andamento. Mas, para que ela não seja prejudicada, nenhuma informação pode ser divulgada para a imprensa.

Um pequeno desconhecido

O bebê deixado no Bairro Rio d’Areia ainda não tem nome. Conforme a equipe hospitalar da APMI, trata-se de um menino, provavelmente fruto de uma gestação de período normal. No seu segundo nascimento, quando foi encontrado sobre um depósito de lenha, pesava 2,7 quilos.