JOC 85 ANOS: “Minha voz continua a mesma, mas os meus cabelos…”

Propagadas mudaram – e muito! – ao longo da história do jornal. Mas, assim como as matérias, ainda são o registro da sociedade

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Atualizado há 8 anos

publicidadeX-XbandeiranteX-XUSARXImagine abrir a edição de hoje e encontrar nas páginas anúncios de xaropes, de produtos para as donas-de-casa ou de propagandas com uma clara tendência racista e sexista? Impossível? Hoje talvez sim, mas, há 85 anos, era justamente assim que a publicidade era feita. E não é que dava certo? Pois é. Para a época, os anúncios um tanto rebuscados, com bastante texto e pouca imagem, funcionavam bem.

Em O Comércio, a publicidade está presente desde as primeiras edições. Obviamente, feita de maneira simples, com os recursos que se tinha a mão. De certa forma, porém, um olhar mais atento ao produto oferecido, contava a história local e até nacional. Propaganda bem feita é bem feita em qualquer época. Por isso a manchete desta matéria. O texto é do histórico anúncio do Shampoo Colorama, da década de 70. Embora tenha sido veiculado na TV, vale sua colocação aqui: deu tão certo que até hoje está na “boca do povo”.

“Imagine uma página inteira do jornal com fundo preto e escrito em letras brancas: “Para mais informação sobre o câncer de pulmão, siga fumando”, e uma assinatura com letras menores em vermelho da “Associação de Combate ao Câncer de Pulmão”. Esse foi um anúncio criado há algum tempo que daria certo ainda hoje. Venderia a mensagem. Mas, claro, cada época tem suas características. Porém a criatividade e a destreza para criar um anúncio ainda não saíram de moda”, defende o sócio e diretor executivo da Girafa Comunicação Interativa, Marcos Romualdo dos Santos.

publicidadeX00Fã do inglês David Ogilvy, que nasceu em 1911 e é considerado o “pai da propaganda”, Santos vai mais fundo ao avaliar a evolução do conceito dos anúncios. “Em uma de suas célebres frases criticando os funcionários que se autodenominavam criativos disse: “sua função é vender, não deixe que nada te distraia do único propósito da publicidade”. Com essa frase podemos dar um exemplo dos anúncios que usavam muitas palavras e poucas imagens, mas que mesmo se veiculado hoje daria um resultado bacana”, avalia.

O jeito de produzir anúncios mudou e continua mudando. Na verdade, a transformação ocorre em uma velocidade muito maior, já que o público também é muito mais veloz. “É uma geração de consumidores que já nasce sabendo o que quer”, sorri Santos. As leis que regulamentam a produção das propagandas, bem como o entendimento do que é razoável e lícito, moldam o jeito de vender, a partir das páginas impressas. “Eu acredito que estamos em constante evolução e cada época tem suas características próprias. Claro que se observarmos um jornal de 80 anos atrás e um de hoje, as mudanças são visíveis. Desde o formato, diagramação, forma de expor conteúdo, forma de escrever, de anunciar até a sua postura enquanto veículo de comunicação”, explica.

Também é diferente o que está por trás da criação. Antes, a responsabilidade era do redator do jornal. Ele era um “faz tudo”, inclusive de anúncios. Hoje não é bem assim. Para que a propaganda seja veiculada, há um estudo de campo, de aceitação, de impacto, feito por um profissional da área. E mesmo ele, se ajusta ao tempo. Tudo para que o resultado, esperado há 85 anos, e hoje também, seja atingido. “O próprio publicitário está se reinventando, se transformando em um profissional multimídia e que está em constante evolução, sempre acompanhando o mercado e os novos consumidores”, reafirma.