MUDANÇA: Cadeira do bispo está vazia

·
Atualizado há 6 anos

(Foto: Mariana Honesko).
(Foto: Mariana Honesko).

Completa na quinta-feira, 14, a primeira semana do falecimento de Dom Agenor Giradi, 66, bispo diocesano de União da Vitória. Ele morreu às 22h30 do dia 8, no Hospital São Braz, de Porto União, onde estava internado há mais de 30 dias. Dom Agenor enfrentava um grave problema de saúde. Naquela noite, deu seu último suspiro, cercado por religiosos, pela família, por gente que o queria bem.

Seu sepultamento aconteceu no sábado, 10, sob forte comoção. Na despedida, além da comunidade local, moradores dos municípios que pertencem à diocese, bem como da cidade natal do sacerdote, Francisco Beltrão (PR), participaram da missa especial, iniciada às 9 horas, presidida pelo arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo. Padres, diáconos e seminaristas, além do bispo emérito, Dom Walter, o ex bispo da diocese de União, Dom João Bosco, também acompanham a celebração.

Lembrado por seu carisma, Dom Agenor Girardi foi especialmente mencionado nos discursos dos familiares, por seu envolvimento e preocupação com os jovens. No sepultamento, a emoção ficou ainda mais evidente quando os jovens foram até o caixão, colocado diante do altar da Catedral, e sobre o corpo do bispo colocaram rosas amarelas. “Ele gostava de flores e tinha apreço pela cor amarela”, sorriram. A cada flor, mais lágrimas e emoção.

Quintino, irmão mais novo do bispo, também quis dar seu depoimento. Emocionado, disse que a família amava muito Dom Agenor e que sempre, desde a demonstração de sua vocação, o apoiavam. Quintino veio com os filhos, que participaram de toda a liturgia. Da família Girardi, de Beltrão, ela é agora o único dos cinco irmãos, ainda vivo. “Estamos devolvendo Dom Agenor para Deus”, disse, comovido.

O sepultamento do corpo foi acompanhado pelas orações, especialmente pela Ave Maria, única expressão que nos últimos momentos de vida, Dom Agenor conseguia pronunciar. O enterro do corpo foi uma novidade para a comunidade local. É que isso aconteceu dentro da Catedral, na chamada cripta, ao lado direito do altar. Embora ainda soe diferente para a região, a prática é algo bastante comum na Igreja Católica.

E agora?

A diocese de União da Vitória continua sem bispo e pode ficar assim por até dois anos, aproximadamente. A escolha de um novo bispo segue uma organização particular da Igreja Católica. Os possíveis candidatos precisam seguir uma série de particulares até serem nomeados bispos, pelo Papa Francisco, e receberam uma designação para trabalhar.

Como explica reportagem sobre o assunto a página virtual da diocese, ‘o bispo é o grau máximo do Sacramento da Ordem’. Para ser escolhido bispo, o padre deve estar dentro de algumas regras. São elas: ter boa reputação, pelo menos 35 anos de idade e ser padre há pelo menos cinco. A matéria do site explica ainda que ‘no processo de escolha e eleição de um novo bispo, tudo transcorre no mais alto sigilo’. Quem nomeia o novo bispo para uma diocese ou confirma os legitimamente eleitos é sempre o Papa. As nomeações de novos bispos são anunciadas publicamente pelo Papa na sala Paulo VI no Vaticano, publicadas no jornal do Vaticano e no site das Conferência Episcopais de cada país, no Brasil (CNBB).

Vale lembrar que na diocese de União, a transição entre os bispos Dom João Bosco e Dom Agenor Giradi, o padre Levi, que já atuou na Catedral, foi eleito Administrador Diocesano. Isso aconteceu novamente. Na manhã de segunda-feira12, o Colégio dos Consultores (grupo de padres da diocese) se reuniram para isso. Escolhido por votação, o Colégio elegeu padre Mário Fernando Glaab para a função. Ele assume o cargo até a vinda de um novo bispo. Padre Mário tem 61 anos e 33 anos de padre. Natural da cidade Porto Vitória (PR), atualmente é Diretor do Instituto de Filosofia e Teologia Santo Alberto Magno, do Seminário Diocesano Rainha das Missões, em União da Vitória e assessor diocesano para o Ecumenismo.

192b79b4-3699-480c-8ab4-4f803cad7f99“Estamos passando por um momento diferente. Acabamos de sepultar nosso bispo, estamos ainda sentindo a tristeza pela morte dele. Queremos agora olhar para frente. Quando escolhemos quem vai conduzir a diocese, os colegas passaram a missão para mim. Claro que senti temor, medo, diante da missão, mas me lembrei de uma frase de Provérbios que diz para confiar no Senhor de todo o coração. Por isso, disse meu ‘sim’ diante da missão”, falou o padre Glaab, em uma transmissão publicada no site da diocese.

HIERARQUIA DA IGREJA

DIÁCONO

Prega o evangelho, batiza e celebra o matrimônio. Há o diácono transitório (pretende tornar-se padre) e o permanente (pode ser casado)

PADRE

Prega o evangelho, administra os sacramentos e governa a paróquia

BISPO

Tem a missão de pregar o evangelho, administrar os sacramentos e governar a diocese

ARCEBISPO

Referência de unidade regional da Igreja

CARDEAL

Assessor mais direto do papa. Eles são escolhidos pessoalmente pelo Santo Padre

PAPA

Sucessor do apóstolo Pedro e referência em toda a igreja

Repercussão

Na rede social, centenas de compartilhamentos da notícia sobre a morte foram feitos. Órgãos oficiais, como prefeituras e a regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, também se manifestaram. A CNBB disse que a vida de Dom Agenor “deixa um rastro de luz, de simplicidade, de profunda amizade e de um grande testemunho de paixão por Deus e pela Igreja”.

A equipe do Jornal de Beltrão acompanhou a despedida do bispo e já para o sepultamento, trouxe uma edição especial, com a foto e material com detalhes sobre a vida e morte do religioso.

CNBB publica Nota de Condolências

“Enviamos nosso abraço de solidariedade fraterna aos familiares de dom Agenor, ao Clero e às comunidades da diocese de União da Vitória. Renovamos, com todos, nossa certeza na feliz ressurreição. O seu sofrimento foi participação no sofrimento salvífico de Jesus Cristo para o bem da Igreja. Nesta hora, lembramos as palavras iluminadas do Beato Paulo VI, em suas meditações sobre a morte: “Curvo a cabeça e levanto o espírito. Humilho-me a mim mesmo e exalto-Te a Ti, Deus, ‘cuja natureza é bondade’ (São Leão). Permite que, nesta última vigília, eu preste homenagem a Ti, Deus vivo e verdadeiro, que amanhã serás o meu juiz, e que Te dê o louvor que mais ambicionas, o nome que preferes: és Pai”. Ao nos despedir desse nosso Irmão, recordamos a beleza do seu lema episcopal: “Ametur cor Iesu” (“Amado seja o Coração de Jesus”). Papa Francisco nos lembrava, numa Festa do Coração de Jesus, o sentido desse amor: “Eis como Ele mesmo se definia: ‘Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração’ (Mt 11, 29). E o sentido […] consiste em descobrir cada vez mais e em deixar-nos abraçar pela lealdade humilde da mansidão do amor de Cristo, Revelação da misericórdia do Pai. Nós podemos experimentar e saborear a ternura deste amor em cada fase da vida: no tempo da alegria e das tristezas, no tempo da saúde e da enfermidade e da doença”. E, hoje, podemos dizer que experimentamos o consolo desse amor também no momento da Páscoa do nosso Irmão, Dom Agenor”.

DOM AGENOR

Dom Agenor Girardi nasceu no dia 2 de fevereiro de 1952. Era natural da cidade de Orleans (SC). Estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas concluindo em 1977, e formou-se em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção na cidade de São Paulo, em 1982. Fez sua profissão religiosa na Congregação dos Missionários do Sagrado Coração no dia 1 de fevereiro de 1982 e foi ordenado sacerdote em 5 de setembro do mesmo ano por Dom Agostinho José Sartori. Obteve a Licença em Teologia Espiritual na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Também fez o Curso de Espiritualidade no CETESP, no Rio de Janeiro.

Dom Agenor foi nomeado bispo pelo Papa Bento XVI no dia 22 de dezembro de 2010 indicado como bispo-auxiliar para a Arquidiocese de Porto Alegre (RS). Sua sagração episcopal se deu no dia 25 de março de 2011, na cidade de Francisco Beltrão juntamente com o Monsenhor Geremias Steinmetz. Em abril de 2015 foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese de Porto Alegre e Bispo Referencial para a Vida Consagrada na mesma arquidiocese. Em junho de 2015, o religioso foi transferido para a diocese de União da Vitória, se tornando o terceiro bispo na região.